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Mata Atlântica tem maior concentração de carbono por hectare entre biomas do País

Mata Atlântica tem maior concentração de carbono por hectare entre biomas do País

Solo do bioma estoca, em média, 50 toneladas de carbono orgânico por hectare. Em números absolutos, Amazônia tem maior concentração, estima levantamento inédito do MapBiomas.

Por Michael Esquer/O Eco

O Brasil estocava 37 gigatoneladas (Gt) de carbono orgânico no solo (COS) em 2021. Entre os biomas, a Amazônia concentrou mais da metade do COS. Entretanto, Mata Atlântica, seguida do Pampa, apresentou a maior densidade de COS por hectare (ha). Isto é o que revela levantamento inédito publicado pelo MapBiomas nesta quarta-feira (21).

Segundo o estudo, os solos com cobertura de vegetação nativa respondiam por quase dois terços do COS do País: 23,4 Gt. Já os solos de áreas que foram convertidas para uso antrópico – alterados pela ação humana – respondiam, naquele ano, por apenas 3,7 Gt COS. Para o MapBiomas, os números enfatizam a importância da preservação da vegetação nativa dos biomas brasileiros. 

“Cada vez mais o nosso solo está sendo utilizado para a agropecuária e esse estoque de carbono que antes, lá em 1985, estava coberto por uma floresta, ao longo do tempo está sendo convertido e ocupado por agropecuária”, disse Taciara Zborowski Horst durante a apresentação do levantamento, que tem o objetivo de aprimorar o entendimento da dinâmica de captura e emissão de carbono no solo. 

Conforme o MapBiomas, entre 1985 e 2021, a quantidade de COS estocado no solo coberto por floresta reduziu de 26,8 Gt para 23,6 Gt no Brasil, uma perda de 3,2 Gt – o que equivale a todo o estoque da Caatinga em 2021 (2,6 Gt).

Para Horst, que é professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e uma das coordenadoras do mapeamento, os dados sugerem que, ao longo do tempo, há uma tendência de aumento do estoque de COS em áreas com formação florestal, o que não ocorre em áreas de agricultura e pastagens. “As coberturas naturais tendem a aumentar o estoque ao longo do tempo nessa série, e o uso antrópico tende a diminuir o estoque de carbono por unidade de área”, disse.

Com 19,8 Gt, a Amazônia apresentou a maior concentração absoluta de COS, indica o levantamento. Na sequência, aparecem o Cerrado (8,1 Gt COS) e Mata Atlântica (5,5 Gt COS). Quanto à densidade, Mata Atlântica e Pampa concentraram os maiores estoques médios de COS por ha, com, respectivamente, 50 t/ha e 49 t/ha, enquanto a Amazônia figura em terceiro lugar, com 48 t/ha. No Brasil, o estoque médio é de 45 t/ha. 

“A Amazônia segue sendo nosso maior reservatório de carbono, em termos totais, porque é um bioma muito grande. Mas a maior concentração [por hectare] é na Mata Atlântica, seguido do Pampa e, aí sim, Amazônia”, explicou a professora da UTFPR. 

Um dos grandes reservatórios de carbono do planeta, o solo, quando saudável, pode colaborar para mitigar mudanças no clima ao estocar e não injetar CO2 na atmosfera – na forma de gás carbônico e metano. Entretanto, o contrário disso acontece quando ele é degradado. 

O mapeamento publicado nesta quarta pode contribuir para o  monitoramento do impacto da implementação das práticas de agricultura de baixo carbono no Brasil, aponta o MapBiomas. “Ainda é uma versão beta, sujeita a muitos aprimoramentos, mas é um avanço importante no mapeamento digital de solos e oferece subsídios valiosos para a conservação e uso sustentável do solo no Brasil”, afirmou Horst. 

Metodologia

Segundo o MapBiomas, os números apresentados pelo levantamento foram obtidos a partir da análise da dinâmica do estoque de COS de 1985 a 2021 em diferentes coberturas e usos da terra, com resolução espacial de 30 metros e mostrando os estoques de COS nos primeiros 30 cm, em toneladas por hectare (t/ha). 

Para o mapeamento, foram processados dados de 9,6 mil amostras de solo coletadas no campo por iniciativas de órgãos públicos desde a década de 1950.  

Michael Esquer – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: Marcelino Dias/CC 2.0. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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