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Memória de Brasília

MEMÓRIA DE BRASÍLIA

Memória de Brasília

O passado pode ter sido pesadelo ou sonho. Pode ter sido ou realidade. Mas o passado é a melhor lição para o presente. Nada melhor do que ser profeta às avessas: olhar para trás e contar em fotos bem explicadas a participação de cada um na da construção e na consolidação de BRASÍLIA.”

Por Guilherme Cobelo

Vejo a necessidade urgente de mostrar a evolução de uma cidade adulta. Ao resgatar nosso passado, ao lembrar a participação de cada um na sua construção, estamos resgatando a própria história da cidade.

O objetivo do grupo MEMÓRIA DE BRASÍLIA é manter viva a História dessa saga que foia construção de uma capital tão longe do litoral e tão perto do . Este espaço será como um Arquivo Público Personalizado – APP.

Compartilhar fotos, contar causos e dividir lembranças é mais do que despertar saudades. É reviver uma história de trabalho, e doação, pessoal e coletiva, que vai acrescentar muito na formação de nossos filhos e da nova geração Brasília.”

Memórias de Brasília
Foto: Reprodução/Internet

Um dos presentes mais bonitos para quando fez 55 anos foi o surgimento do grupo de Brasília no Facebook.1  Criado e coadministrado pelos jornalistas Silvestre Gorgulho (autor do texto da página anterior) e TT Catalão, o grupo vem desde fevereiro de 2015 coletando e registrando individuais e coletivas da história de Brasília.

Atualmente com mais de 3.500 inscritos, o arquivo é um precioso arsenal de fontes para quem deseja conhecer um pouco mais a(s) cara(s) da Nova Capital.

Entre matérias de jornais da época de sua construção, poemas, evocações de antigos personagens, exaltações de figuras eminentes, o grupo oferece uma ampla variedade imagética que faz gosto ao pesquisador e ao curioso.

Para além dos lugares-comuns da história oficial, preocupada em glorificar os grandes atos e os monumentos, o material reunido neste oferece outras perspectivas sobre sua trajetória no tempo e no espaço.

Desde uma nota indignada com os parlamentares contrários à mudança da Capital, publicada no carioca Última Hora em 30 de março de 1960 (“O POVO NÃO PERMITIRÁ A CHANTAGEM CONTRA BRASÍLIA”), passando por vídeos com músicas do saudoso Manoel Frederico Soares, o Manoel Brigadeiro, considerado por muitos o Embaixador do de Brasília, até fotos de arquivos pessoais retratando pessoas anônimas, crianças catando joaninhas, alguém tocando violão, o que este grupo tem a nos oferecer é realmente um mergulho no passado como nenhum didático proporcionou até hoje.

Selecionamos algumas imagens especialmente para esta edição da revista, porém fica a dica ao público leitor: solicite a sua participação no grupo e aproveite todo o acervo disponível.

Para se aprofundar ainda mais nesse universo de memórias individuais e coletivas, sugerimos também que conheça outros grupos e comunidades como Brasília das Antigas que Amamos Muito,p Histórias de Brasília e Ônibus Antigos de Brasília.  Aproveite, colabore.

A partir de ações como essa é que a sociedade civil se apropria do passado e reescreve suas histórias, fortalecendo vínculos e afirmando identidades.

E se é verdade o que se diz sobre o Brasil, que padece de amnésia crônica, façamos diferente e não deixemos que a memória se turve no esquecimento hereditário. Memento vita.

NOTA DA REDAÇÃO: A matéria foi publicada pela primeira vez em 2015. Na ocasião, Brasília estava prestes a completar 55 anos.

Alguns anos depois, a visão apaixonada e pragmática de Guilherme Cobelo nos convida a refletir sobre a capital do país. Aceita uma dica? Dê um olhada no que diz Sérgio Sampaio na canção Brasília:  O olho do amor desconhece a armadilha/Assim vim ver Brasília”

Memórias de Brasília
Fundo Agência Nacional Série FOT Subsérie EVE

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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