Mercadante: Lula, o coração do povo, volta a bater

Mercadante: Lula, o coração do povo, volta a bater

Mercadante: Este é um dia histórico. O reconhecimento da grotesca parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro, nas ações encetadas contra Lula sem uma única prova, faz, ainda que tardiamente, justiça à maior liderança popular da do .

Enganam-se, contudo, aqueles que consideram que essa é apenas uma vitória pessoal de Lula. É muito mais do que isso.

É uma vitória do democrático de direito sobre o autoritarismo, o arbítrio judicial e o lawfare.

É uma vitória dos direitos e das garantias individuais contra os excessos e o arbítrio de agentes de um Estado que vinha flertando perigosamente com a exceção autoritária.

É uma vitória da democracia contra os saudosistas das ditaduras e das perseguições políticas.

É uma vitória da justiça contra a injustiça.

Ao fazer justiça ao ex-presidente, a 2ª turma do Supremo Tribunal Federal, nas figuras da ministra Carmen Lúcia, do ministro Lewandowski e do titânico ministro Gilmar Mendes, recoloca a Suprema Corte no papel fundamental de guardiã da Constituição e dos direitos e das garantias individuais de todos os brasileiros e brasileiras.

Embora essa decisão repare um direito de Lula, ela não é capaz de apagar os 580 dias em que ele ficou preso e nem os danos contra a honra e a dignidade do ex-presidente e de sua família.

Ela também não é capaz de apagar o profundo dano que a Lava Jato causou à democracia do Brasil, impedindo Lula de concorrer e insuflando a candidatura, afinal exitosa, de um fascista genocida.

Mas, nesses dias trágicos e sombrios, ela lança luz para o futuro do Brasil. Lula, o candidato do , poderá concorrer nas próximas .

Assim, mais do que qualquer outra coisa, esta é uma vitória da contra o ódio e da vida contra a .

Lula, o coração do povo, volta a bater!

Aloizio Mercadante, ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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