Mia Couto: Duas pandemias?
Mia Couto e José Eduardo Agualusa, dois dos mais conhecidos escritores dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), deixaram duras críticas à Europa, acusando-a de discriminar países africanos, a pretexto da nova variante da covid-19, enquanto lhes cortam o acesso à vacina
Por Mia Couto e José Eduardo Agualusa/IOnLine
No dia em que a Europa interditou os voos de e para Maputo, Moçambique tinha registado cinco novos casos de infecção, zero internamentos e zero mortes por Covid-19. Nos restantes países da África Austral a situação era semelhante.
Em contrapartida, a maioria dos países europeus enfrentava uma dramática onda de novas infecções.
A ADIADA ENCHENTE
Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.
Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.
Mia Couto (Antônio Emílio Leite Couto) é um escritor moçambicano, nascido em 5 de julho de 1955, na cidade de Beira. Trabalhou como jornalista durante quase 10 anos, porém ingressou na Faculdade de Biologia e, posteriormente, tornou-se professor universitário, profissão que concilia com a sua carreira de escritor. Assim, em 1983, publicou seu primeiro livro de poesias — Raiz de orvalho.
Já seu primeiro romance — Terra sonâmbula — foi publicado, em 1992, com grande sucesso de público e crítica. Ganhador do Prêmio Camões em 2013, Mia Couto é um autor da literatura contemporânea, e suas obras são caracterizadas, principalmente, pelo resgate da tradição cultural moçambicana por meio de uma linguagem marcada por neologismos.