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Mídias alternativas: parcerias para a resistência

Mídias alternativas: parcerias para a resistência

Mídias alternativas: parcerias para a resistência

Perdas, retrocessos, horrores causados por um vírus mortal – Coronavírus () -, aumento da fome e um presidente que já não tem mais condições de governar, mas, que se mantém de pé, massacrando a população brasileira, especialmente os povos vulneráveis, desvalidos e deserdados do brasileiro…

Por Edneide Arruda / Brasil Popular

Este cenário de horrores, perigos iminentes, retrocessos sociais têm colocado para o campo das esquerdas brasileiras o desafio de resistir, sem medir consequências, para salvar o que ainda restam de conquistas históricas, dignidade e vidas.

Não bastasse a fúria da Covid-19, que já matou mais de 472.531 pessoas e já infectou mais de 16,6 milhões, a população brasileira vê o Brasil voltar ao Mapa da Fome, com mais de 116,8 milhões de pessoas passando fome ou vivendo em situação de insegurança alimentar – leve, moderada ou grave – conforme o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, organizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Sente, também, o peso do desemprego, que só no primeiro trimestre do ano, já chega a 14,8 milhões de trabalhadores; um recorde histórico.

Com os olhos voltados para este cenário estarrecedor, cinco mídias alternativas, independentes e livres formaram uma parceria institucional, na tentativa de contribuir com a resistência contra o , o nazismo, o negacionismo e o aumento das desigualdades sociais, econômicas e políticas.

Para elevar a capacidade de transformação da realidade, o Jornal Brasil Popular (JBP), Socioambiental, TV Comunitária de Brasília, Rede TVT e Rede Brasil Atual (RBA) estão formando um editorial de convergência de mídias, com vistas a potencializar o conhecimento sobre seus conteúdos, a partir da unificação de suas audiências; no caso, os diversos públicos representativos da luta política – social, popular, ambiental e identitária -, que atuam nas mídias sociais e que privilegiam os conteúdos televisivos do campo da esquerda, em detrimento das generalizações oferecidas pelas TVs comerciais e por assinaturas.

A estratégia de estabelecer convergência entre as mídias alternativas, independentes e livres, não é uma novidade em si. Porém, o objetivo das mídias parceiras tem um mérito maior: produzir e veicular conteúdos voltados a formar e informar seus públicos, de forma a estimulá-los a enfrentar o contexto atual de barbárie protagonizada por um grupo político que desmonta o Estado brasileiro, desrespeita as pessoas e seus direitos, faz apologia à , patrocina o cinismo, faz da incompetência um mérito e institucionaliza a necropolítica e o morticídio.

Tal estratégia tem amparo nos estudos de Henry Jenkins (2009), que, ao tratar de três conceitos – convergência dos meios de comunicação, participativa e inteligência coletiva – pontua que “a convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos”.

Em estágio de troca de informações e de entrelaçamento dos formatos, as parcerias vão possibilitar a cada uma das mídias a reprodução simultânea dos conteúdos produzidos e publicados em cada um deles. Neste caso, a revista Xapuri e a Rede Brasil Atual podem republicar conteúdos elaborados pelo JBP, que, por sua vez, também terá a prerrogativa de republicar textos da revista e da rede, e todos poderão contar com seus conteúdos veiculados pelas TVs Comunitária e a Rede TVT, estabelecendo, desta feita, uma junção de informações, mensagens, imagens e linguagens, na perspectiva de que a mesma notícia seja vista por vários públicos, possibilitando maior interação das audiências.

Estas parcerias são, portanto, o encontro de princípios, pensamentos, competências, tecnologias e forças políticas para atuar em favor do bem comum. E, por este viés, têm tudo para alcançar seus objetivos. Ou seja, de forma inteligente, poderão usar o tráfego dos públicos – consumidores de notícias e conteúdos jornalísticos – já existente entre as mídias tradicionais e digitais, para sustentar o projeto político-editorial de promover a resistência ao há de pior no Brasil, neste momento.

Desta feita, para atuar na resistência “que se faz inadiável”, as parcerias entre as mídias alternativas contam com os benefícios que o ambiente virtual propicia, que é a interação com seus públicos. Assim, com autonomia para a produção de conteúdo, a audiência interage, criticando, mas, também, colaborando. Portanto, confere-se o que diz Jenkins quando acentua que a circulação de conteúdos depende forte e decisivamente da participação ativa dos consumidores. A mudança é só o começo.

Fonte: Brasil Popular

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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