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Milei minimiza ditadura e refuta mortes e desaparecimentos

Milei minimiza ditadura e refuta mortes e desaparecimentos

Realizado neste domingo (1), o primeiro debate presidencial opôs o candidato do governo, Sergio Massa, ao escolhido pela extrema-direita para concorrer a eleição

Por Lucas Toth/Portal Vermelho

Em um roteiro similar ao que o Brasil vivenciou em 2018, a Argentina testemunhou, neste domingo (1), um dos candidatos à presidência, Javier Milei, minimizar a , prometer reduzir o Estado e públicos e demonizar a política no primeiro debate eleitoral para a eleição de 22 de outubro deste ano.

“Não foram 30 mil desaparecidos, são 8.753. Somos contra uma visão de apenas um lado da ”, disse Milei, da La Libertad Avanza.

Na Argentina, o número oficial é compilado pelo Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado, que computa 8.631 mortos e desaparecidos no período de 1976 a 1983. No entanto, o próprio relatório reconhece que a cifra é subestimada.

Milei, porém, não apenas ignora o horror produzido em larga escala pelos militares argentinos, mas também ofende a de quem lutou pelo retorno da no país.

O candidato da extrema-direita chamou grupos guerrilheiros de terroristas, declarou que “durante os anos 1970 houve uma e nessa guerra as forças do Estado cometeram excessos” e criticou “aqueles que usaram a ideologia [dos ] para ganhar dinheiro e realizar negócios obscuros”.

A presidente da Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, rebateu nesta segunda (2) as falas do candidato da extrema-direita.

“O povo tem que acordar. Mesmo que pensemos diferente sobre algumas coisas, pergunte-se se todos queremos que o mentiroso [Milei] seja presidente. Quem mancha a história do nosso país não precisa ser presidente”, disse.

“Ofende brutalmente as famílias que ficaram sem os nossos filhos e as avós que sofrem uma dor dupla. Procuramos os nossos filhos e os seus filhos nascidos em cativeiro”, lamentou Carlotto.

“Eles mentem agora, continuarão mentindo, se infelizmente vierem comandar as nossas vidas”, alertou.

Em um publicação nas redes sociais, o presidente Alberto Fernández afirmou que Milei justifica os atos da ditadura. “É insustentável que alguém continue a negar e a justificar a ditadura genocida que torturou, assassinou, roubou bebês cuja foi alterada, causou desaparecimentos e condenou dezenas de milhares de argentinos ao exílio”, escreveu.

O debate

Os candidatos à presidência argentina debateram, neste domingo (1), temas como a inflação, a fuga de divisas, a dolarização da economia e o fim do Banco Central.

O debate foi realizado em Santiago del Estero e contou com a presença dos candidatos Sergio Massa, da ala mais à direita do peronismo, Javier Milei, da La Libertad Avanza, Patricia Bullrich, do grupo político do ex-presidente Mauricio Macri, Juntos por el Cambio, Juan Schiaretti, do Hacemos por Nuestro País e Myriam Bregman, candidata da Frente de Izquierda y de Trabajadores

De acordo com o Clarin e La Nación, os dois maiores jornais argentinos, a avaliação é de que o debate não teve vencedor ou perdedor. As publicações citaram o clima de tensão entre o participantes, sobretudo entre Massa e Milei, que lideram as intenções de voto, segundo pesquisas recentes.

Massa criticou o plano de Milei de dolarização e tentou se desvencilhar do presidente argentino, Alberto Fernández, mesmo que sem citá-lo.

“Eu tenho claro que a inflação é um problema enorme na Argentina. Também tenho claro que os erros deste governo causaram danos às pessoas”, afirmou Massa. “E por isso, embora eu não fosse parte [da atual gestão] até assumir como ministro da Economia [em agosto de 2022], peço desculpas”, completou.

“Milei propõe a volta da AFJP [fundo de pensão privado que roubou milhares de aposentados nos anos 1990], a privatização da YPF [petroleira estatal], e que todas os argentinos e argentinas paguem a e a secundária”, criticou Massa.

“Milei propõe um modelo de dolarização que só existe em El Salvador, Zimbabué e Equador”, completou

Fonte: Portal Vermelho Capa: Reprodução 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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