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CÂNCER: REMÉDIO CASEIRO ADIANTA OU NÃO?

CÂNCER: REMÉDIO CASEIRO ADIANTA OU NÃO?

Câncer: remédio caseiro adianta ou não?

No tratamento do câncer, açafrão, pariri, cansanção … caseiro adianta ou não? Agora que o câncer foi embora de mim, espero que para sempre, muita gente me pergunta como é que eu fiz para, depois de ano e meio de intenso tratamento,  me livrar da raiz daquela  encrenca…

Por

Sim, digo da raiz, porque sigo padecendo os efeitos colaterais das químios e tinha ainda pela frente mais uma cirurgia reparadora dos seios (que optei por não fazer) e uma pela frente de dieta controlada e cuidados diversos com a (que eu devia ter feito sempre, mas fui relaxando).

Mas o importante é que me levantei e todo santo dia agradeço à vida por essa nova oportunidade de ficar mais uns tempos por aqui. Fico então pensando no que me colocou na parte positiva da tabela estatística e chego à conclusão de que os principais fatores são três:

1) O tratamento com os quimioterápicos mais avançados da medicina ocidental: o Taxol, o Herceptin, e o Vidatox, esse milagroso homeopático cubano produzido à base do veneno do escorpião azul, endêmico da ilha de Cuba.

2) A corrente de rezas, orações, mandingas e todas as formas outras de me enviar energias positivas das pessoas que vivem perto de mim, das pessoas de várias partes do  e das pessoas que souberam do meu caso e se sensibilizaram nos  mais distantes e inimagináveis rincões do

3) Os remédios caseiros, em sua grande parte trazidos por familiares, amizades e colegagens. Como foram tantos, pretendo ir falando deles com calma, pouco-a-pouco, sem nenhuma ordem específica de importância, à medida em que vou me lembrando das coisas, uma vez que o ladrão que roubou meu laptop, no auge do meu tratamento, levou as minhas anotações todas.

Durante todo o tratamento, tomei muito mais remédios caseiros, agora estou fazendo só a dieta de manutenção. Dos  que adotei, continuo  com o uso do sagrado açafrão –  uma colher de sopa ao dia, sempre temperado com uma colher de chá de pimenta do reino ou gengibe, e mel de agave.

Tive o cuidado, sempre, de ler bastante sobre os remédios recomendados e, principalmente, observar se há pesquisas documentadas sobre os resultados anunciados.

Quantos aos chás,  sigo com o chá verde toda manhã e toda noite (lembrando que se recomenda tomar o chá verde morno, no máximo uma hora após o seu preparo), o pariri (que me chega da M Norte em Brasília, via minha irmã Ieda, (presente de anja Cida), o ipê roxo (que dona me manda em cavaquinhos, lá de Goiânia), e o cansanção.

O cansanção quem me apresentou foi a amiga Alexandra, ainda na fase inicial meu tratamento e na fase final do dela. Em um daqueles dias em que o corpo insistia em não reagir, Ale me falou do quanto se sentia melhor com o cansanção, que por aqui nas fraldas do Vale do Paranã é também chamado de urtigão, e em outras partes é conhecido por urtiga-brava, urtiga-mansa, urtiga-maior, urtiga Vermelha, e arre diabo, imagine!

Conversando com meu irmão Luiz Otávio, que é versado raizeiro,  soube que esta planta  é um arbusto que dá muito aqui perto de casa, na região do Salto do Itiquira e, um pouco mais adiante, na  Chapada dos Veadeiros.

Luiz me ensinou que do urtigão o mais fácil é usar as , que a gente limpa, bota para secar ao sol, e depois coloca de molho na proporção de uma mão cheia para um litro de água fresca (eu uso água do filtro de barro, uma delícia!).

Como Luiz é quem vai pro Cerrado buscar meu urtigão, com ele aprendi  também que é preciso tomar muito cuidado na colheita, porque as folhas dessa  planta da família das Urticaceae,   queimam muito, mas muito mesmo.

Na internet, descobri que o princípio ativo do arre diabo  é composto por nitrato de potássio, acetilcolina, histamina, ácidos fórmico, ácidos gálico, cálcio, caroteno, enxofre, magnésio, potássio, silício, tanino e  vitamina C.

Quanto às propriedades medicinais, diz-se que a raiz do cansanção é adstringente, anti-inflamatória, antirreumática, antianêmica, antidiabética, anti-hemorroidária, antissifilítica, anti-heroica, depurativa, diurética, galactagoga, hemostática e revulsiva.

Ou seja, o cansanção é indicado para o tratamento de aftas,  afecções de pele, amenorreia, anúria, ciática, diarreia, disúria, edema, enurese, epistaxe, erisipela, feridas, gota, hidrocefalia, infecções micóticas da pele, leucorreia, menopausa, queda de cabelos, psoríase, picadas, tinha, úlceras e urticária.

Com Alexandra, aprendi que tomar vários copos de água de cansanção ao dia deixa a gente mais leve e e mais forte para enfrentar as químios e seus efeitos colaterais. Como o gosto é ótimo e não custa nada colocar três ou quatro pedaços de raiz em um litro de água, sigo com o tratamento.

Voltando à  pergunta do começo: nos casos de câncer, remédio caseiro adianta ou não?

Além da ciência, que em muitos casos já provou que adianta, pra mim vale o respeito ao conhecimento milenar de nossos povos originários e , muitos surgidos como resultado de muita observação aqui mesmo  no Cerrado, outros  vindos da própria África com os escravos.

Na dúvida, vou seguindo com minhas ervas, meus chás e com as lições que me deixou minha avó cabocla Maria Feliciana de Jesus (que nunca teve grama para comprar uma cibalena na farmácia, então criava seus própios chás e mezinhas): “remédio caseiro se não te fizer bem, também mal não faz”. Claro que minha vó Maria, com 18 crias tratadas à base de ervas, tinha lá sua sapiência. 

O leitor Gilson Ribeiro, entretanto, mandou os seguintes comentários sobre esta última frase:

Não posso concordar de maneira nenhuma com a última frase da reportagem “Anticâncer: Remédio caseiro adianta ou não?” que diz NA FRASE FINAL “se bem não fazem mal também não.  Várias plantas medicinais com princípios ativos causam estragos enormes nas pessoas se utilizadas de forma errada. O caso do CONFREI que foi divulgado pela mídia na cura do câncer para ser tomado como chá.  Hoje sabe-se que seu uso é somente externo. Pessoas colocam no Facebook ou outras mídias curas milagrosas por ervas para ganhar dinheiro vendendo mudas ou sementes aproveitando da fragilidade da pessoa doente ou de seus familiares. Um exemplo é a LOSNA,  essa planta é tóxica se utilizada como chá.  Acho que esse site além de ouvir pessoas com conhecimento prático, deveria consultar agrônomos e médicos antes de colocar essas reportagens que podem agravar ainda mais pessoas doentes e fragilizadas.”

Reproduzo o comentário, na íntegra, para que cada leitor ou leitora faça sua reflexão e tome seus cuidados. Eu, pessoalmente, fiz minhas leituras, pesquisei muito e estou segura do valor dos chás e remédios caseiros que tomo para cuidar da minha saúde.

Mas Gilson tem razão. A advertência é, a meu ver, excelente, e deve ser tomada em conta. Nem eu, Zezé Weiss, e nem a Revista Xapuri recomendamos qualquer tipo de tratamento a qualquer pessoa. Aliás, antes de embarcar em qualquer trattamento alternativo, sugiro a do artigo “Tratamentos alternativos para câncer: quais são os riscos?” no site do doutor Drauzio Varela

Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Esta matéria foi escrita durante o meu tratamento de um câncer, no ano de 2015. O descrito acima é só um relato da minha experiência pessoal no tratamento do câncer. Felizmente estou curada e bem de saúde. Sigo tratando da minha saúde dos três jeitos: medicina institutcional (não descuido nunca, faço minha prevenção anual e sigo todas as orientaçõess), medicina caseira (a maior part, mantenho, principalmene o chá verde e o açafrãoe) e muita reza de quem me quer e cuida. Axé. 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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