Mortes por calor extremo podem aumentar cinco vezes até 2050
Relatório de instituições e agências da ONU aponta que elevação das temperaturas em dois graus pode afetar ainda mais a vida humana. Idosos e bebês são os mais vulneráveis
Por Portal Vermelho
Ameaça Climática Crescente
Até o ano de 2050, o mundo poderá enfrentar um aumento alarmante no número de mortes causadas por calor extremo, com um crescimento de quase cinco vezes em relação aos níveis atuais. Essa previsão preocupante reflete as profundas mudanças climáticas que o planeta vem experimentando, sendo um indicativo de que a humanidade pode estar caminhando para uma crise de saúde pública global.
Essa análise foi apresentada em um relatório elaborado por mais de 52 instituições de pesquisa e agências das Nações Unidas (ONU), que alerta para as graves consequências de um aquecimento global descontrolado.
Relatório Alarmante: The Lancet Countdown
O documento, publicado na revista médica The Lancet, considera como base para suas projeções um cenário em que a temperatura média global aumenta em dois graus Celsius em comparação com os níveis pré-industriais. Embora possa parecer um incremento pequeno, esse aumento tem potencial para desencadear uma série de eventos catastróficos para a vida humana e para os ecossistemas ao redor do mundo.
O calor extremo, que já afeta diversas regiões, tenderá a se intensificar, expondo principalmente as populações mais vulneráveis, como os idosos e os bebês. Esses grupos demográficos enfrentam maior risco devido à sua incapacidade de regular a temperatura corporal de maneira eficaz, o que os torna mais suscetíveis a doenças relacionadas ao calor, como a insolação, a desidratação e o agravamento de condições crônicas pré-existentes.
Desde a década de 1990, o número de mortes relacionadas ao calor entre pessoas com mais de 65 anos já aumentou em 85%, de acordo com os dados apresentados no relatório. O aumento do calor extremo e das ondas de calor prolongadas eleva ainda mais esses números, à medida que essas populações enfrentam o dobro de dias com temperaturas extremas em comparação com o período entre 1986 e 2005.
Impactos na Saúde Global
Marina Romanello, diretora-executiva do The Lancet Countdown, destacou em sua análise que “perdemos anos muito preciosos de ação climática, e isso teve um custo enorme para a saúde”. Essa declaração ressalta a urgência de ações imediatas e efetivas para mitigar os impactos das mudanças climáticas, especialmente no que diz respeito à saúde pública.
Além das mortes diretamente relacionadas ao calor, o relatório também chama atenção para a correlação entre a crise climática e a insegurança alimentar. Estima-se que em 2021, cerca de 127 milhões de pessoas a mais enfrentaram graus de insegurança alimentar de moderada a grave.
Esse quadro se deve, em grande parte, ao impacto das mudanças climáticas na agricultura e na produção de alimentos, com o aumento da temperatura exacerbando secas, enchentes e outros fenômenos extremos que comprometem a produção agrícola.
Mudanças Climáticas e Poluição do Ar
Entre as diversas constatações alarmantes, ao menos uma é positiva: de acordo com o estudo, as mortes por poluição do ar relacionada a combustíveis fósseis diminuíram 15% desde 2005. Essa redução pode ser atribuída ao avanço em tecnologias de energia limpa e às políticas de redução de emissões adotadas por alguns países. No entanto, essa melhoria é apenas uma pequena vitória em um cenário global que ainda requer esforços muito maiores.
Ações Globais Insuficientes
Outro relatório relevante sobre as mudanças climáticas, divulgado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC), aponta que os planos nacionais de ação climática, apesar de aumentarem em quantidade, ainda são insuficientes para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius. Essa meta, estabelecida pelo Acordo de Paris, é crucial para evitar os piores impactos da mudança climática.
Mesmo com os esforços de alguns países para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o relatório da UNFCCC destaca que as ações precisam ser mais contundentes e imediatas. As emissões globais continuam em uma trajetória ascendente, e sem uma mudança drástica, as metas climáticas acordadas internacionalmente estarão fora de alcance.
O secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, enfatizou que “os governos, juntos, estão dando passos tímidos para evitar a crise climática. E revela por que os governos precisam dar passos decisivos para entrar no caminho certo. Os governos não só devem concordar sobre quais ações climáticas mais robustas serão tomadas, mas também começar a mostrar exatamente como implementá-las”.
A Crise Climática e os Desafios Futuros
A crise climática não é apenas uma questão ambiental, mas uma crise multifacetada que impacta diretamente a saúde, a segurança alimentar, a economia e a estabilidade social em escala global. As previsões de aumento nas mortes relacionadas ao calor são apenas uma parte de um quadro muito mais amplo e complexo.
Os cientistas e especialistas em saúde pública alertam que a incapacidade de mitigar as mudanças climáticas resultará em crises de saúde cada vez mais frequentes e severas. Além das ondas de calor, as mudanças climáticas estão associadas ao aumento de doenças transmitidas por vetores, como a malária e a dengue, devido à expansão do habitat de mosquitos causadores dessas doenças.
A insegurança hídrica também é uma preocupação crescente, com muitas regiões enfrentando escassez de água potável devido ao derretimento das geleiras e à redução dos níveis de precipitação. Essas condições criam um ambiente propício para o aumento de conflitos e migrações em massa, à medida que comunidades inteiras buscam escapar dos efeitos devastadores das mudanças climáticas.
A Necessidade de Ação Imediata
Os relatórios divulgados pelas agências da ONU deixam claro que o tempo para ações efetivas está se esgotando. As políticas climáticas precisam ser implementadas com urgência, e as metas de redução de emissões devem ser mais ambiciosas e alcançadas em prazos mais curtos. A transição para uma economia de baixo carbono não é mais uma opção, mas uma necessidade para garantir a sobrevivência das futuras gerações.
As mudanças climáticas não são um problema que pode ser adiado; suas consequências estão se manifestando de forma cada vez mais evidente e devastadora. Proteger a vida humana, preservar os ecossistemas e garantir um futuro sustentável requer uma resposta global coordenada, fundamentada na ciência e na justiça climática.
O aumento projetado nas mortes por calor extremo até 2050 serve como um sombrio lembrete do que está em jogo. A menos que medidas decisivas sejam tomadas, o mundo enfrentará um futuro onde os eventos climáticos extremos se tornarão a nova normalidade, com consequências catastróficas para a saúde e o bem-estar de todos os habitantes do planeta.
A crise climática é um desafio sem precedentes que exige uma resposta igualmente sem precedentes. O tempo para ação é agora, e a responsabilidade recai sobre todos nós – governos, empresas e cidadãos – para garantir que o futuro seja mais seguro, mais justo e mais sustentável
Fonte: Portal Vermelho