MUDANÇAS CLIMÁTICAS AMEAÇAM CORAIS

MUDANÇAS CLIMÁTICAS AMEAÇAM CORAIS

Mudanças climáticas ameaçam corais

Os corais estão sendo devastados pelas mudanças climáticas mundiais e substituídos por outras espécies, como as gorgônias, menos eficientes na captura de da atmosfera.
As consequências da dos corais são ecológicas, sociais e econômicas: além de serem responsáveis por boa parte da absorção de carbono, essas espécies são essenciais para a preservação das costas marítimas e para a atividade pesqueira.
Essas são informações reveladas por pesquisa desenvolvida com a participação do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR), da Federal do Ceará (UFC), e da Universidade de Salento (Itália), que pela primeira vez analisou a resistência desses seres em face das alterações no .
Com o aumento da temperatura nos oceanos nas últimas décadas, os recifes foram afetados com altas taxas de mortalidade de corais, como é o caso da Grande Barreira de Corais, na Austrália, que perdeu 30% da população desses organismos em 2016.
Isso ocorre porque, com o aquecimento, os corais passam pelo processo de branqueamento, que é a perda de cor por conta da fuga de sua principal fonte de alimentação, as algas, sem as quais acabam morrendo.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS AMEAÇAM CORAIS
Gorgônias – Foto: Reprodução/Internet

Parceria ameaçada
Considerados os mais ricos e importantes dos oceanos, os recifes são criados principalmente pelos corais, que formam rochas a partir do depósito de esqueletos.
“O sucesso desses animais (corais) é devido à parceria que eles têm com algas que vivem dentro deles.
Entretanto, com as mudanças climáticas, essa parceria de sucesso está chegando ao fim”, diz o Prof. Marcelo Soares, do LABOMAR, um dos responsáveis pelo estudo.
Por outro lado, a população de gorgônias, chamadas “corais moles”, tem se mantido estável e até indicado crescimento. A pesquisa analisou gorgônias da região do Caribe e revelou que muitas dessas espécies dependem menos das algas para sua nutrição, possuindo maior flexibilidade na obtenção de alimentos, o que explica sua maior resistência às mudanças climáticas.
Ao contrário dos “corais duros”, que estão sendo devastados, as gorgônias são mais resistentes ao branqueamento e conseguem se alimentar de pequenos animais na água. Isso gera o movimento de substituição de uma espécie por outra, o que traz prejuízos não só ao ambiente, mas à sociedade como um todo.

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Corais em processo de branqueamento – Foto: Marcus Davis

Efeito estufa
Por serem organismos moles, as gorgônias não formam recifes, o que é prejudicial para espécies dependentes desses sistemas e deve afetar inclusive a atividade pesqueira.
Além disso, elas absorvem menos carbono, um dos principais gases do efeito estufa, diferentemente dos corais, hoje ameaçados.
“As gorgônias têm menos algas dentro delas do que os corais. As algas são como pequenas e absorvem bastante carbono, algo fundamental hoje em dia. Ter gorgônias dominando os ambientes é ruim, pois isso irá acelerar e aumentar o efeito da ”, explica o Prof. Marcelo.
Outra consequência é o desequilíbrio no nível do mar nas costas, uma vez que os recifes agem para absorver a energia das ondas durante eventos como ressacas do mar e furacões. Sem os corais duros para garantir a formação dos recifes, esse papel também fica prejudicado, gerando danos até para além da esfera ambiental.
“Com o aumento das gorgônias e a perda dos corais, as costas ficaram mais suscetíveis à erosão e ao aumento do nível do mar, o que provoca prejuízos econômicos, sociais e ecológicos”, esclarece Sergio Rossi, da Universidade de Salento (Lecce, Itália) e da Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha) e coordenador da pesquisa internacional.

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O branqueamento é causado pela fuga de algas dos corais -Foto: Marcus Davis

Consequências

O estudo aponta que o desaparecimento completo dos recifes deve ocorrer possivelmente até 2050, caso não haja uma redução urgente da emissão de carbono e dos impactos ambientais locais, como a .
A degradação do como um todo é consequência direta disso, como já apontam relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
Mesmo com as metas estabelecidas em acordos internacionais para a redução da emissão de carbono, estamos caminhando para um aumento de temperatura global.
Ainda que haja essa redução nos próximos 3 a 10 anos, haverá aumento de 1,5 graus Celsius, o que significa a perda de 80% dos recifes de corais. Sem a redução nesse prazo, o aumento será de 2 graus Celsius. A consequência é a perda de 100% dos recifes e todos os impactos que isso acarreta, incluindo os no turismo, na proteção do litoral e na atividade de pesca.

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Importantes para a manutenção do equilíbrio ambiental, os corais estão morrendo – Foto: Reprodução/Internet

A pesquisa foi desenvolvida em parceria com instituições da Itália, da Espanha, do México e dos Estados Unidos e publicada no periódico Scientific Reports, da Nature.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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