MULHERES GRAFITAM MURAIS EM CIDADES DO BRASIL

Mulheres grafitam 18 murais nas ruas de cinco cidades do Brasil

Dez artistas participantes do Contemporâneas Vivara mostram como arte de rua também é um espaço feminino.

Por Redação/Mídia Ninja

Em um lugar e em uma arte onde o convencional é eles prenominarem, dez grafiteiras e uma poetisa reforçam como o espaço urbano também é um lugar de mulher. Juntas, elas assinam 18 murais, alguns deles são pinturas em prédios com mais de 15 andares, em cinco capitais brasileiras.

Da idealização, passando pela captação de recursos, criação e até a execução das obras, são elas quem comandam o Contemporâneas Vivara, projeto que, mesmo no terceiro ano, ainda enfrenta desafios para colocar o universo feminino na arte urbana.

Com 90% da equipe feminina, a terceira edição do projeto leva a temática “Arte, Rua e Poesia” para as cidades de Manaus, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

A poetisa de Aline Bei criou versos para cada mural, em cada cidade, todos inspirados em poéticas do feminino e na proposta da curadora Vivi Villanova: levar o sol e a lua para as obras, em formas, cores e “sentidos diversos para o dia e a noite – as duas forças que agem continuamente sobre a vida da cidade”, explica a também diretora artística.

Além de levar um olhar mais feminino para a arte de rua, onde hoje a maioria das empenas no País são assinadas por homens, as 10 artistas, mesmo sem combinar, enfatizaram um mesmo olhar sobre a temática. “A gente percebeu que as artistas acabaram fazendo autobiografias.

Então, se você for olhar todos os murais, é um autorretrato da própria artista ali, cada uma na sua característica. Ficou muito interessante isso”, comenta Stefania Dzwigalska, idealizadora e produtora executiva do projeto independente criado pela Tête-à-Tête A Rede, do qual é sócia.

A rua é um lugar não seguro para a mulher

Para a produtora executiva Stefania Dzwigalska, desde conseguir o incentivo e ter o patrocinador investindo, até a execução do projeto, são inúmeros os desafios em colocar as grafiteiras como protagonistas de suas obras de rua. “A gente vive em um mundo patriarcal.

As estruturas, em todas as etapas, são masculinas. E um projeto na rua exige autorização de vários órgãos, atenção ao clima, equipe de segurança, insegurança da violência: porque a rua é um lugar não seguro para a mulher. Então, a gente enfrenta tudo isso, todo dia”, explica.

Falta de oportunidade é também comum para as mulheres do grafite. Em Manaus (AM), a artista Deborah Êre esperou quase 10 anos para conseguir produzir a primeira empena, com uma equipe liderada por ela. “Criadora de si”, obra que produziu para o Contemporâneas Vivara, é uma sereia em cores diante do Encontro das Águas, que corta o céu em 80 metros de altura, no Edifício Palácio das Artes, um dos mais altos da capital amazonense. Foram 17 dias de trabalho, em meio à crise climática da Amazônia, com pouca visibilidade devido à fumaça das queimadas e sensação térmica de até 49 graus.

“Este cenário dificulta o transporte de bens que precisamos acessar, deixa o ar insalubre, o calor insuportável. Fora isso, como mulher, somos sobrecarregadas com as muitas funções que temos que desempenhar no dia a dia”, comenta.

Deborah Erê, que também é professora de Arte em escola pública e empreendedora de produtos da própria marca, se divide em várias funções para viver de arte. Ela grafita desde 2014, mas, em sua maioria, estava envolvida em projetos liderados por artistas homens. “Encontrar meios e espaços para se expressar, sendo mulher, é uma responsabilidade e também uma conquista, porque toda oportunidade pode ser única”, disse.

1. Criada por Deborah Ere a empena Criadora de Si esta localizada no Centro deManaus. Foto Orlando Junior

Criada por Deborah Erê, a empena “Criadora de Si” está localizada no Centro de Manaus. Foto: Orlando Júnior

Do outro lado do País, em Porto Alegre (RS), a artista Pati Rigon também encarou outros extremos do clima: quatro ciclones, alagações, mudanças bruscas de temperatura atrasaram a obra “Encontrava, na brisa da noite, uma alegria pelo que virá”, de 30 metros de altura, localizada no Centro Histórico da capital gaúcha.  Para a artista, que grafita ruas na capital gaúcha desde 2015, a maior dificuldade ainda é o “grande abismo quando se aborda o aspecto de gênero”, diz. 

“Não há nem comparação entre o número de grafiteiros homens com o número de grafiteiras mulheres atuando. A cena do grafite ainda é um lugar muito dominado por homens e pelo machismo, as ruas sempre foram lugares hostis para mulheres, então esse é outro desafio a ser encarado e um novo espaço a ser ocupado cada vez por mais mulheres”, ressalta.

Só a Bahia tem: uma empena dupla e sete mulheres no comando

Somente Salvador (BA) é a cidade com uma empena dupla, pintadas lado a lado pelas artistas Ani Ganzala Lorde e Jess Vieira.

“Acredito que deixar uma arte nas ruas de Salvador é mais do embelezar uma cidade, é também colaborar para que o dia de uma pessoa seja transpassado por algo que vai trazer um pouco mais de harmonia, um pouco mais de reflexão para dentro de si”, ressalta a artista visual Jess Vieira. 

Localizada no bairro Canela, as obras com 30 metros de altura foram produzidas por um time formado por sete mulheres pintoras, ao lado das criadoras.

“A primeira coisa que eu fiz quando recebi o convite, foi chamar minhas amigas grafiteiras para participar também. Foram oito dias e oito horas de trabalho por dia. Ficamos muito felizes com o resultado”, conta Ani Ganzala Lorde.

Além da dupla Ani e Jess de Salvador, de Débora Erê e Pati Rigon, o projeto tem obras de Samara Paiva, de Manaus; Mitti Mendonça de Porto Alegre; Chica Capeto e Aline Besouro, do Rio de Janeiro; e Bianca Foratori e Hanna Lucatelli de São Paulo.

“Apoiar um projeto com mulheres diversas, que criam arte e poesia a partir de suas experiências singulares no mundo, está alinhado com nosso desejo de que cada uma das colaboradoras da Vivara sinta sua história celebrada.” Marina Cirelli, Diretora de Marketing e Sustentabilidade Vivara.

Perfil das artistas

Aline Bei (poesias) –  nasceu em São Paulo, é formada em Letras pela PUC-SP, em Artes Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena e pós-graduada em Escritas Performáticas pela PUC-RIO. O “Peso do Pássaro Morto”, finalista do prêmio Rio de Literatura e vencedor do prêmio São Paulo de Literatura e do prêmio Toca, é o seu primeiro livro. O romance foi finalista do prêmio Jabuti e do prêmio São Paulo de Literatura e já vendeu mais de 100 mil cópias.

MANAUS – AM

Samara Paiva – Obra: Dançar um amor longamente
É uma artista visual autodidata, formada em arquitetura e urbanismo, começou seus estudos em desenho e pintura após sua graduação em 2019, seu trabalho aborda temáticas como: intimidade, ambiente doméstico e vulnerabilidade. Das exposições que participou estão: SP- Arte 2022 (Rotas Brasileiras), Zona Maco (MX) e Dos Brasis no Sesc Belenzinho (Em exibição).

Deborah Erê – Obra: Criadora de Si
É artista visual, professora de Artes, ativista ambiental e fundadora do espaço cultural @casadasereia092 . Seu trabalho com graffiti acontece em Manaus desde 2014, quando chegou à cidade. É formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Amazonas (2018) e leciona aulas de Artes na rede pública. Desde 2015 faz parte da equipe de grafiteiras Golden Girls.

SALVADOR – BA

Ani Ganzala Lorde. Obra: Maníla
Nascida em Salvador, descendente de pataxós e tupinambás, Ani é artista visual, grafiteira e viaja pelo mundo participando de residências, realizando mostras, exposição, workshop e palestras.  Sua experiência artística se iniciou em 2011 com investigações das suas memórias e vivências.

Jess Vieira. Obra: Dormiria milênios se ninguém a perturbasse, fabricava dois pássaros azuis
Artista visual e escritora autodidata, especializada em Estudos Brasileiros pela FESP-SP e estudante de Arteterapia pelo IJBA, a brasiliense radicada em Salvador aborda, através de abstrações e representações figurativas, a confluência entre consciente e inconsciente e a experimentação de signos.

RIO DE JANEIRO – RJ

Chica Capeto – Obra: A alegria se equilibra em seis panos estampados
Nascida no Rio de Janeiro, Chica tem 24 anos e é formada em Design de Moda, mas sempre atuou muito no mundo das artes. Os monstrinhos, que são a sua marca registrada, foram criados para expressar o seu mundo lúdico. Novos testes, formatos e projetos são sempre colocados em prática, buscando se encontrar cada vez mais nesse mundo da arte.

Aline Besouro – Obra: As palavras têm a força das canções
Nascida no Rio de Janeiro em 1990, Aline Besouro é printmaker, professora e artista. Suas experiências a inspiraram a seguir no diálogo entre a arte, educação e design. Suas ilustrações, estampas e projetos artísticos surgem fortemente influenciadas pelas mitologias (pessoais e ancestrais) e experiências dos ciclos da vida.

SÃO PAULO – SP

Bianca Foratori. Obra: Seu corpo era a luz acesa de uma casa em festa
Bianca Foratori é artista visual, natural de Jundiaí (SP) e vive em São Paulo capital. Sua poética aborda o cotidiano e tradições das mulheres como uma forma de rememoração de narrativas historicamente inferiorizadas. Nos últimos anos tem se dedicado a investigar sobre as dinâmicas de construção da memória feminina associadas à esfera doméstica, principalmente manifestadas através das artes decorativas e manualidades.

Hanna Lucatelli. Obra: Não era envelhecer o verbo de seu sono, tudo o que dorme floresce quando acorda
É artista visual, muralista e mãe, baseada em São Paulo. Suas obras promovem uma pausa, um respiro e uma oportunidade de nos reconectar com nossa essência, enquanto indivíduos e coletividade. Propõe um olhar sobre a figura da mulher, questionando seu lugar e papel social, a fim de promover-lhes maior autonomia e protagonismo. Em 2020, foi apontada pela Forbes Under 30 como um dos cinco artistas de destaque daquele ano.

PORTO ALEGRE – RS

Pati Rigon (LUA) – Obra: Encontrava, na brisa da noite, uma alegria pelo que virá
Multiartista gaúcha, trabalha com pinturas a óleo hiper-realistas, grafittis, performances e tatuagens, também é modelo e militante intersexo brasileira. Formada em Design pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – e pela Politécnica de Turim, na Itália.

Mitti Mendonça (SOL) – Obra: Não esquecerá o nome de seu sonho
É artista visual, designer gráfica, ilustradora e produtora cultural. Sua produção artística dialoga sobre a valorização da presença de mulheres na arte, a cura que mora nas memórias afetivas e a conexão com narrativas ancestrais negras.

Fonte: Mídia Ninja. Foto de capa: Danilo Umbelino.

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AS GAROTAS DO GRAFITE

Hoje valorizado pelo mercado brasileiro, disputando a atenção com o que de melhor é produzido na arte contemporânea, o grafite nacional assiste a uma nova onda de renovação: o crescimento do número de artistas mulheres. Sua contribuição para a arte urbana e o reconhecimento que vem obtendo junto à opinião pública levam à reflexão sobre o papel da mulher nesse contexto.

Pamela Castro

Observando os muros pintados por garotas em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, entre outras, descobrimos que, por trás do colorido quase sempre radiante, existem questões relacionadas à mulher, à forma como é tratada pelos homens e à sociedade de modo geral.

O universo feminino retratado pelas grafiteiras tem tantas nuances quanto as artes que pintam nos muros das grandes cidades. Personagens com olhos esbugalhados, de aparência quase infantil, convivem, lado a lado, com mulheres de corpo franzino, fragilizadas pelo abandono, pela opressão e pelo abuso sexual.

Anarkia Boladona

A carioca Panmela Castro, por exemplo, inseriu-se na cena do grafite há praticamente uma década. Os primeiros trabalhos dessa artista tinham como suporte os muros do bairro da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro, onde nasceu e foi criada. Ex-aluna de Belas Artes, Panmela tornou-se conhecida pelo codinome Anarkia Boladona e pelo desafio que se impôs de erguer, no lugar mais alto que alcançasse, sua bandeira em prol do feminismo.

E isso não era figura de linguagem. O reconhecimento obtido com seus “grafites feministas” se propagou pelos quatro cantos, com ajuda da imprensa internacional, especialmente da revista norte-americana Newsweek, que incluiu o nome da brasileira na lista das “150 mulheres que movem o mundo”.

“Foi na rua e fazendo grafites que pude me descobrir. Escolho o muro, faço meu desenho, dou vida aos personagens. Gosto desse aspecto efêmero da obra, e do modo como a cidade interage com meu trabalho e decide o que fazer dele.”

Questionando a noção de liberdade sob a ótica feminina, naquilo que diz respeito ao corpo, à sexualidade e à subjetividade da mulher, Pamela diz que não imaginava aonde poderia chegar. “Quando comecei, não tinha ciência da minha temática. Fazia autorretratos sempre ‘boladona’, de cara fechada. Com o tempo, eu mudei, e meu trabalho mudou.”

A personagem já não era um autorretrato, mas uma representação de todas as mulheres e de suas histórias. “Tenho a necessidade de me expressar, mas também de compreender o universo feminino”, disse ela, em uma entrevista ao jornal Correio Brasiliense.

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Magrela

As mulheres de Panmela Castro, quase sempre com longas madeixas adornadas com flores, em nada se assemelham às de outra artista de rua, a paulista conhecida como Magrela. Ela, que há oito anos se aventura pelos muros de sua cidade, também defende, por meio da arte, uma maior visibilidade das questões que envolvem o feminino.

Influenciada pela família, aderiu ao grafite aos 23 anos de idade, depois de constatar que nenhum outro trabalho lhe garantiria o prazer advindo da arte urbana. Tentando fugir do estereótipo de “ser menina”, ela se dedicou à criação de personagens sem qualquer traço de candura. Sua arte chama atenção por mostrar mulheres tristes, com formas retorcidas, embrutecidas – reflexo de um sentimento que carrega e compartilha com muitas outras mulheres.

O estilo pessoal e inconfundível de Magrela é fruto de muita dedicação à arte de grafitar. “A maturidade como ser humano, que tem suas dores, dúvidas e angústias, é refletida em tudo o que crio. Tudo o que sinto reverbera nas obras”, conta.

Sinhá

Inspirada pelos acontecimentos cotidianos e também pela poesia, a artista de rua Sinhá costuma dizer que o grafite “é uma arma para o bem”. Sinhá é natural do Rio Grande do Norte, mas, hoje, mora e trabalha em São Paulo, onde sua arte ganha visibilidade e chama atenção pelas personagens e seus cabelos voluptuosos.

Ananda Nahu BrazilAnanda Nahu

Representante baiana da arte urbana, Ananda, diferentemente das grafiteiras citadas anteriormente, aposta no resgate cultural de personalidades femininas que marcaram as décadas de 1960 e 1970.

Egressa da faculdade de Artes Plásticas, tomou gosto por técnicas de gravura em metal, litogravura, serigrafia e fotografia. Não por acaso, sua estética se relaciona com a dos cartazes urbanos, uma grande fonte de inspiração. A reverência à mulher é uma temática recorrente em sua produção, que reverencia cantoras negras norte-americanas e também legítimas brasileiras, como Clara Nunes.

Criola

A mineira Tainá Lima, mais conhecida como Criola, tem um trabalho focado na valorização e no fortalecimento da identidade e da representatividade afro-brasileira. Questiona, também, os padrões de beleza impostos às mulheres, que se tornam escravas de estereótipos. Está na ativa há cerca de três anos e já vem fazendo toda a diferença.

Em entrevista ao Portal Namu, Criola declarou: “Meu objetivo, enquanto mulher negra e grafiteira, é contrapor a publicidade que explora um padrão de beleza europeu e não retrata a realidade da miscigenação do nosso povo brasileiro. Desejo honrar com essa arte aqueles que, um dia, tiveram sua liberdade cerceada em razão da cor, e acredito que é graças a eles que estou aqui hoje. À medida que a representatividade dos negros aumenta em todas as áreas e segmentos, os estereótipos se enfraquecem”.

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Tikka

Nem tudo é militância entre as garotas do grafite. Existem as representantes da vertente figurativa, onde o forte é a criação de personagens marcantes, atraentes ao olhar, lúdicos por excelência.

Ana Carolina, conhecida no meio do grafite como Tikka, espalha pelos muros de São Paulo a personagem que se tornou sua marca registrada: uma boneca supercolorida, com olhos grandes e feições singelas. Ela grafita há dez anos e diz que sua inspiração, desde sempre, vem de sonhos e sentimentos.

“Não tento passar algo específico. Não sei também explicar exatamente de onde vem a minha inspiração. Sei que gosto de coisas bonitas, mundos fantásticos e, principalmente, de caprichar nas expressões das personagens, de maneira que atinjam quem as vê.”

Minhau

Trilhando um caminho parecido, destinado à contemplação e à fantasia, Camila Pavaneli, que assina suas criações com o codinome Minhau, é outra que entende o grafite como uma ferramenta para deixar o mundo mais leve e divertido. É ela a criadora dos enormes gatos multicoloridos que tanto alegram os paulistanos.

Camila ingressou na arte urbana fazendo lambe-lambes, um tipo de cartaz com impressão em offset. Seu primeiro muro como grafiteira ela nunca esquece: foi pintado em parceria com o grafiteiro Chivitz, com quem é casada até hoje.

castelo Nina Pandolfo

Nina Pandolfo

Entre todas as garotas do grafite, a que talvez desfrute de maior notoriedade é a paulista Nina Pandolfo, casada com um dos irmãos da dupla mundialmente conhecida OsGêmeos. O universo da artista é extremamente delicado e onírico. A estética é tão bem-resolvida que agrada em cheio aos colecionadores de arte.

Personagens femininas – que podem ou não traduzir um autorretrato da artista – são estrelas de cenários impregnados de cor, padronagens e pequenos detalhes. Além das pinturas bidimensionais, que buscam espelhar o trabalho que realiza nas ruas de todo o mundo, a artista recria seus personagens também em formato tridimensional. A linguagem é tão poderosa que já serviu até de decoração para a fachada de um castelo na Escócia.

Pioneiras mundiais do grafite

Sasu

Conhecida pelas performances de pintura ao vivo realizadas em parceria com o marido, o também artista Kami, Sasu evoca em seus murais a iconografia e os símbolos do budismo. A inspiração vem da natureza e da representação de mandalas. Sua arte pode ser vista não somente em Tóquio, mas também em Miami, nos Estados Unidos.

Lady Pink em NYLady Pink

Considerada a primeira dama do grafite, Lady Pink nasceu no Equador e começou a carreira como artista de rua na cidade de Nova York, no final dos anos 1970. Na época, a receptividade dos “garotos” não foi das melhores. Havia, segundo ela, muito sexismo por parte deles. Driblando o preconceito, conseguiu expor sua arte em museus como o Whitney, o PS1 e o Metropolitan, nos Estados Unidos.

Swoon

Ela sempre se considerou “estranha no ninho”, por ter crescido fora do perímetro urbano. Mesmo assim, tornou-se uma das artistas mais reverenciadas de sua geração. Swoon ficou conhecida por criar retratos de amigos e familiares. Suas instalações e performances tiveram como cenário as margens de rios, como Mississippi e Hudson, nos Estados Unidos, e a cidade de Veneza, na Itália. Contrária à intervenção urbana em propriedades privadas, cria projetos apenas para áreas públicas condenadas e abandonadas, ou para outros locais, sob convite.

The Art of Miss VanMiss Van

Natural de Toulouse (França) e residente em Barcelona (Espanha), Miss Van começou a carreira criando personagens femininas com aparência felina, espalhadas por muros de todo o mundo, até conquistar as galerias de arte e dedicar-se exclusivamente a elas. Passados 20 anos desde a estreia como grafiteira, segue produzindo sua arte, fiel ao estilo e à temática que a consagraram.

Lady K

Ela imigrou para os Estados Unidos nos anos 1990 e ganhou notoriedade ao assinar o apelido Fever em muros e vagões de trens de Nova York. Hoje, dedica-se a projetos de arte-educação sobre arte urbana, trabalhando em parceria com instituições como Bronx Museum of the Arts, El Museo del Barrio, Urban Arts Partnership e The Laundromat Project. Sua arte foi exibida em dezenas de exposições coletivas e mereceu destaque nos livros Graffiti Women: Street Art from Five Continents e Burning New York: Graffiti NYC.

Lady Aiko

Com este codinome, Aiko Nakagawa despontou na cena de arte urbana depois de integrar o coletivo Faile, até o ano de 2006. Nascida em Tóquio e baseada em Nova York desde os anos 1990, transita com naturalidade pelo grafite, o stencil e a serigrafia. Sua arte é extremamente figurativa. Além da padronagem floral, assina cartoons com características bastante femininas. Já expôs em museus como PS1 e Brooklyn Museum, ambos em Nova York, MACRO Future (Roma) e Shanghai MoCA (China).

painel lady aiko em ny

Margaret Kilgallen

Margaret Kilgallen não era exatamente uma artista do grafite, embora tenha sido reconhecida como tal depois da morte prematura, aos 33 anos de idade. A arte folclórica norte-americana era sua grande fonte de inspiração. Deixou uma série de desenhos em traço nos trens abandonados na cidade californiana de São Francisco, além de centenas de murais que incorporavam técnicas de sinalização.

Gilberto de Abreu, jornalista e especialista em artes visuais.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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