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Cisterneiras de Mossoró, “Arquitetas de Sonhos e Esperança”

Cisterneiras de Mossoró, “Arquitetas de Sonhos e Esperança” – Saíram da cozinha…Tiraram a trouxa e a lata d'água da cabeça. Quebraram preconceitos e rótulos… Deixaram para trás a servidão contumaz!

Por Lana Alpino

Lindas, Luzias, Marias, Ritas…
São as “Cisterneiras” de Mossoró!
Dignas. Sábias. Cabeças erguidas.
Constroem cisternas pra armazenar

água da chuva. Da vida!

A mais desejada riqueza da gente

sertaneja…



Pra irrigar o chão de solo seco.

A semente, o grão, a plantação.

E dar de beber à criação!

Saíram da cozinha…

Tiraram a trouxa e a lata d'água da cabeça.

Quebraram preconceitos e rótulos…

Deixaram para trás a servidão contumaz!

Mudam a realidade brasileira em parte do

semi-árido:



Da ,

Do xiquexique,

Das cactáceas,

Do pau-de-arara,

De Bonita e Lampião,

De Graciliano Ramos,

De Luís Gonzaga… Asa Branca!

De Patativa do Assaré…

Da antiga, covarde, injusta e persistente

“Indústria da Seca”.

Tiveram fé e ousadia.



Acreditaram em Deus… Em si mesmas!

Organizaram-se! Participaram de cursos e

capacitações!

Hoje, escrevem uma nova página na história:

– das Mulheres Nordestinas, que com garra,

brio e determinação quebram arraigados

paradigmas no interior do

Não acreditando mais em socorros paliativos,

promessas e politicagem!

Comprovam, corajosamente, que muito mais

que Cisterneiras são “Arquitetas de Sonhos e Esperança”…

Exemplo da força e da grande expressão da

Mulher Brasileira!

Poema publicado no site mensagenscomamor

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Mulheres cisterneiras: a força e a resistência de Ana Maria da Silva

Quebrando as barreiras do que a sociedade patriarcal estabelece como “trabalho de homem” e de “trabalho de mulher”, Ana Maria da Silva, do projeto de assentamento Professor Maurício de Oliveira, município de Assú, no Rio grande do Norte, se destaca como cisterneira, sendo muito requisitada pela população local e até mesmo influenciando os homens de sua família, que antes não acreditavam na sua capacidade, a seguirem seus passos.
No ano de 2011 a família de Ana Maria foi contemplada com a cisterna de 16 mil litros do Programa 1 milhão de cisternas (P1MC) da Articulação (ASA), também conhecida como a primeira água, destinada para o consumo humano. Em 2014, prestes a ser contemplada com a cisterna calçadão, do Programa uma terra e duas águas (P1+2), conhecido como a segunda água, destinado para a produção, também desenvolvido pela ASA, Ana Maria recebeu o convite do Centro Feminista 8 de Março (CF8) para participar de um curso de cisterneira, desafio este que ela aceitou com muita bravura, contrariando opiniões de alguns homens de sua comunidade que não acreditavam que uma mulher pudesse desenvolver esse tipo de trabalho.
IMG_2125Ao final do curso, Ana Maria procurou a instituição responsável para construção da sua cisterna do P1+2 e pediu para que ela mesma executasse o serviço, como ela conta: “Aí, depois desse curso do CF8, eu procurei os meninos da Coopervida e perguntei pra eles se eles confiavam no trabalho da mulher, disse que eu queria construir a minha cisterna. Eles aceitaram e eu trabalhei na construção da minha cisterna e na de outra companheira que também participou do curso e trabalhou junto comigo”.
Foram muitos os obstáculos enfrentados durante este processo de construção das primeiras tecnologias, principalmente dentro de casa. Ana Maria conta que seu marido não acreditava na sua capacidade: “era eu construindo e ele dizendo que não ia dar certo. No final, quando já estava quase pronta, foi que ele veio reconhecer” explica. Ana também falou que o marido não gostava da ideia de trabalhar para ela: “ele já era pedreiro, aí quando eu fui construir ele achava um absurdo ele trabalhar como meu servente”.
IMG_2115Com força e persistência para enfrentar as críticas e após as primeiras cisternas prontas, sem nenhum problema de execução, sem nenhum vazamento, Ana mostrou para a comunidade e principalmente para o marido que o trabalho das mulheres é valioso e conseguiu desmistificar a ideia de que a construção de cisternas era um trabalho exclusivamente masculino. Com o sucesso de seu trabalho, sendo chamada para construir em outras comunidades, Ana conseguiu inspirar os homens de sua família a seguirem seus passos, hoje o marido e o filho, que influenciados por ela passaram por capacitações, trabalham junto dela.
Em 2018, a comunidade Maurício de Oliveira foi contemplada com o P1+2 pela segunda vez, agora com execução através do CF8, e a população local, tendo Ana Maria como referência, faz questão de seus serviços para a construção das novas tecnologias sociais. “Eu fico feliz que o pessoal reconhece o meu trabalho. Até as cisternas que não deu pra eu construir por causa do tempo, as meninas pediam pra eu ficar dando uma olhada, pra ver se tava tudo certinho”, conta ela.
As dificuldades não foram totalmente vencidas, mas Ana Maria sabe muito bem como lidar com elas: “às vezes os companheiros não gostam quando eu digo que tem alguma coisa que não está do jeito que era pra ser, mas eu não ligo e faço o meu trabalho do jeito que tem que ser feito, né?”.
IMG_2104Através desse trabalho, Ana Maria, que é agricultora, consegue uma renda complementar para a família e mais que isso, o respeito e o reconhecimento dentro e fora de sua comunidade. Mas segundo ela, o principal é garantir um serviço bem feito: “eu faço tudo com muito carinho. Meu marido até reclama que eu sou muito exigente, mas é que eu gosto de tudo caprichado pra garantir um bom serviço. O principal é a gente fazer as coisas com paixão, né?”.
De aprendiz, Ana Maria hoje se tornou uma referência, e a equipe que está trabalhando com ela irá receber o certificado de cisterneiro, emitido pelo CF8 e pela ASA ao final da execução do projeto.
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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