Na terra, fogueira; na mesa, gostosuras: Viva São João!
No Brasil, sobretudo em terras nordestinas, o festejo, que remonta a uma longa história e reafirma uma forte identidade, é uma ode à alegria. Viva São João! …
Por Arthur Wentz e Silva
Junho no Brasil é terreno propício de fogueiras e uma mesa farta de comida junina. Nas mais diversas regiões, Antônio, João e Pedro viram elementos de festividade e anunciação da chegada do inverno. De onde surge os festejos juninos? Não de ontem, te garanto. A história remonta desde a Europa pagã, onde os festejos eram ligadas à agricultura, com pedidos de fartura para melhores colheitas no ano, e à chegada do verão (estação que se inicia nesta época do ano no hemisfério norte).
Com o passar do tempo, foi a Igreja Católica quem se apropriou da data. Associando, nesse sentido, a data aos três santos comemorados no mês de junho: Antônio (13/06), João (24/06) e Pedro (29/06). Em países como Portugal, a cultura se popularizou e foi “importada” às colônias. A manutenção das estruturas de alto valor no Nordeste do país, expandiu ainda mais a festividade em seu território. É daí que se encontra a justificativa para a força do festejo junino na região.
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Quem achou que a festança por aqui iria se resumir em celebrações e ações de graça, se enganou! Incorporando elementos das culturas africanas e indígenas, o Brasil apresentou um novo jeito de fazer festa junina.
São João: o santo festeiro
Popularmente conhecido como santo festeiro, João remonta a história cristã de João Batista. Segundo a Bíblia, foi João Batista o responsável pelo batismo de Jesus Cristo. O filho de Isabel (prima de Maria, mãe do nazareno) foi responsável pela disseminação do catolicismo e de suas práticas pelo mundo.
O profeta é visto pelos cristãos como um anunciador da experiência com Jesus. Seria ele o responsável por pregações acerca da conversão e do preparo dos corações para receber o messias.
Preso por Herodes Antipas, João Batista foi decapitado, em uma possível data de 29 de agosto, do ano 29. A data escolhida para sua memória é a do nascimento, justamente por sua relação com o anúncio. Aqui está uma curiosidade importante, sabemos da tradição é de manter a data “oficial” como a de morte, o caso de João Batista se difere justamente por sua missão do anúncio, adotando a data de nascimento como prática.
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A data não é certeira e absoluta, somente no século IV que se definiu como dia de João, no entanto, trata-se da experiência com a tradição e a cultura, não podendo, nesse sentido, ser descartada.
Fogueira pra João
Acesa na véspera do dia 24, a fogueira faz parte da crença popular ligada instintivamente a João. O santo tem ligação com a fogueira, assim como Antônio ao casamento e Jorge à guerra.
São duas, as versões que remontam a fogueira na tradição. A primeira é a luz. Batista foi o homem que pregará a vinda do messias, a vinda da “luz do homem”. Já a segunda história, menciona que Isabel teria feito uma fogueira para anunciar a vinda de João Batista à Maria e pedir ajuda para o parto.
Brasil junino: resistência e potência
Que o Brasil é resistência na cultura, você já sabe. São nas festividades, como o carnaval e a festival de Parintins, que reapresentamos a importância de nossa história para o desenvolvimento soberano, social e nacional. Nas festas juninas não é diferente. A festividade conta com a fé de pequenos camponeses, gente humilde que vive da terra para garantir seu sustento. Essa gente produz o necessário e vê nas rezas juninas, o sentido para pensar um país sem desigualdades, com reforma agrária e justiça social.
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Nesse 24 de junho, o sentimento pelas pequenas comunidades rurais do Brasil é o de oportunidade. João anuncia nos corações, a coragem em lutar por reforma agrária e melhores oportunidades de valorização do trabalho campesino, nas pequenas comunidades deste país.