Nenhum rio morre de repente...

NENHUM RIO MORRE DE REPENTE…

Nenhum rio morre de repente…

Por TT Catalão

“nenhum rio

morre de repente

a bala que

mata o rio

é descaso

lixo e gente

 

nenhum rio

morre por acaso

a bala que

mata o rio

é gente

lixo e descaso

 

todo rio

morre devagar

se a gente

deixar que

lixo cobiça

e descaso

matem o rio

ttcatalao 1

TT Catalão é poeta, jornalista, letrista e ativista cultural. Controverso, sua linguagem é afiada, cáustica, tendo origem no Boca Maldita Gregório de Matos, passando pela ironia do Barão de Itararé, no estilo “palavra-puxa-palavra”.

Anárquico, uniu seu posicionamento engajado à aproximação da linguagem verbal e imagética para começar a produzir. Daí, surgiu sua afinidade com a expressão poética e a arte de rua.

TT defende que a verdadeira cidade é feita das pessoas que a habitam. Brasília, para ele, se concentra na encruzilhada nacional, e isso se reflete na cultura local. Ele acredita que a capital abriga um Brasil oculto, profundo, internacional e cósmico (ele brinca com o brasiliense sci-fi que via disco voador).

O poeta irônico constata que Brasília é uma cidade cultural desde 1957, quando começaram a chegar os trabalhadores para erguê-la. Foi ali o ponto de partida da mistura na qual se configuraria o DF.

<

p style=”text-align: justify;”>Ele pensa que, uma vez que a cultura trabalha com valores e princípios, ela pode refundar uma cidade e transformá-la em cidade-invenção. Para TT, a capacidade de produção do povo é infinita, mas falta uma rede de escoamento, um mapa de conexões entre as diversas produções.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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