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NEOLIBERALISMO E CAPITAL IMPRODUTIVO

NEOLIBERALISMO E CAPITAL IMPRODUTIVO

A lógica da acumulação de capital mudou. O neoliberalismo fez o capitalismo entrar numa era do capital improdutivo. A riqueza social produzida pelo trabalho tem sido capturada pelo capital financeiro.

Por Emir Sader 

A brutal concentração da riqueza no mundo se deve essencialmente ao rendimento de aplicações financeiras. O capitalismo entrou em uma fase de dominação da intermediação financeira sobre os processos produtivos.

Está cada vez mais claro que as grandes fortunas do mundo estão nas mãos de quem lida com os papéis financeiros. A financeirização se nutre da apropriação dos ganhos de produtividade.

As aplicações financeiras rendem mais que os investimentos produtivos. O PIB mundial cresce em média entre 1 e 2,5% por ano. Enquanto as aplicações rendem acima de 5%. Há uma dinâmica de transformação de capital produtivo em patrimônio financeiro, com a economia real sendo sugada pela financeirização.

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Os recursos existem, mas sua produtividade é esterilizada por um sistema generalizado de especulação, como afirma Ladislaw Dowbor, que drena as capacidades de investir na economia real.

Os paraísos fiscais são uma espécie de prostíbulo do capitalismo, em que pequenos países alugam sua soberania para processos de especulação financeira, sem pagar os impostos que pagariam em seus países de origem. 

Os recursos não declarados, colocados em paraísos fiscais, chegam a cerca de três trilhões de dólares, enquanto o PIB mundial chega a 80 trilhões de dólares. Os fluxos financeiros negativos para os países mais pobres significam que estes estão financiando os ricos, através do sistema financeiro internacional.

Neles, os capitais são reciclados para usos diversos, repassados a empresas com outros nomes e de outras nacionalidades, lavados e formalmente limpos, livres de qualquer tipo de imposto. É um sistema que não agrega valor, ao contrário, redistribui a riqueza para cima e os riscos para baixo.

Os recursos se multiplicam pela imensa renovação tecnológica do mundo, mas não são os produtores os que se apropriam desses recursos. Ao contrário, as esferas pública e empresarial se encontram endividadas com o sistema financeiro.

emir saderEmir Sader Sociólogo. Cientista político. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Arte: Divulgação/ Nuvolanevicata.

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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