Nunca jogue sal nos sapos!

NUNCA JOGUE SAL NOS SAPOS!

Nunca jogue sal nos sapos!

Nasci numa barranca de rio, num lugar chamado Porto Mansinho, lá onde o rio Grande faz a curva na divisa de Minas com São Paulo. Já maiorzinha, mudamos um pouco mais pra cima, pra uma área de terra firme, só que bem  em frente da nossa casa tinha uma lagoa grande, que se conectava com as águas do rio por um canal cheio de vida animal.

Por Zezé Weiss

Por ali, nas terras altas da Fazenda Aldeia dos Índios, que foi onde o povo indígena Pataxó Meridional se mesclou com os bandeirantes e deu lugar ao povoado de São Francisco de Sales, segundo dizem no final do século XIX, o que nunca faltou foi tatu, nem teiú, nem lagarto verde, nem lagartixa, nem gia, nem rã, nem muito menos sapo.  Esses sim, bastava o tempo mudar pra começarem com sua cantoria sem fim!

Hoje não sei, mas no meu tempo de criança, e lá se vão  60 anos, caçar de arapuca,  torar morcego na corda e, claro, judiar de sapo, era coisa de todo dia. Eu mesma (ai que dó!) não sei quantas vezes botei uma tábula na quina da cerca, tipo balanço infantil, colocava o pobre do sapo de um lado e batia com uma picareta do outro, só pra ver sapo voar.

Mas tinha também horas em que a gente engraçava de colocar sal na cacunda dos sapos. Cada bichinho reagia diferente, mas a crueldade era mesma, era sal e mais sal até o bicho perder a consciência. Aí, com frequência (isso eu nunca fiz, mas vi muita gente fazer e não tomei nenhuma providência para impedir) alguém enfiava os dedos pela boca e virava o sapo do avesso.

Quando exatamente comecei a me tornar ambientalista, eu não me lembro, mas o fato é que com o tempo  fui ficando cada vez mais contra essas maldades e,  à medida em que fui crescendo, dei de ficar com dó dos bichos, não só dos sapos, mas de todos, aposentei a arapuca, deixei de torturar os morcegos e também os sapos.

Agora de noite, nesse friozinho gostoso aqui da roça, fuçando na internet, vi essa matéria do site http://dicas.co  falando sobre jogar sal no sapo, aliás, explicando porque não se deve jogar sal no sapo. Como são dicas muito importantes não só para salvar os sapos, o que já seria suficiente para compartilhá-las, a matéria explica também a importância da presença dos sapos no equilíbrio ambiental do planeta.

Nunca jogue sal nos sapos!
Foto: herpetofauna

Confira:

Com a chegada das chuvas ocorre um aumento na população de anfíbios anuros (sapos, pererecas e rãs). Muitas pessoas têm verdadeiro horror desses bichinhos. Outras simplesmente estão interessadas em fazer maldade mesmo… E por isso seguem com o hábito de jogar sal no dorso dos animais.

O que muita gente não sabe é que os pulmões dos sapos têm uma capacidade muito menor que a dos humanos de absorver gases. Por isso, cerca de metade da absorção de oxigênio acontece por meio da pele. De lá, ele vai para a corrente sanguínea e é distribuído pelo corpo. A pele do animal é bastante úmida, uma característica indispensável para que a troca de gases possa ocorrer. Se jogarmos sal no sapo, o mineral suga a água, impedindo que o processo ocorra.

Além disso, dói muito. A pele do sapo não possui um revestimento protetor como a dos seres humanos. Por isso, é muito mais sensível. Se colocarmos sal em suas costas, a dor que o animal vai sentir é semelhante àquela que nós sentimos quando jogamos sal em um ferimento.

Os sapos não merecem esse tratamento, eles são animais indispensáveis no controle de mosquitos que são vetores de doenças como a Zika, Dengue, Febre Amarela, Malária. Eles também se alimentam de outros insetos, como baratas e outros invertebrados, como as lacraias.

Caso um deles entre na sua casa, apenas guie-o com uma vassoura, por exemplo, até a porta, isso bastará. Vamos divulgar essa ideia, NÃO JOGUE SAL NOS SAPOS, sua vida também depende deles!!!

Pronto: Não posso salvar os sapos que trucidei. Mas posso lutar para que nunca mais ninguém jogue sal nos sapos que porventura passarem por seu caminho.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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