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O escoamento

O ESCOAMENTO ESTRATÉGICO DAS ÁGUAS DO CERRADO

O escoamento estratégico das águas do

A disposição do relevo, tanto em suas feições geológicas quanto geomorfológicas e topográficas, “construiu” em três berços fundamentais no que tange à distribuição e ao sentido do escoamento da rede hidrográfica, pois é daqui, do topo do , que três grandes bacias brasileiras dispersam suas águas a partir de suas cabeceiras elevadas: a Tocantínea (T), a  Paranaica (P) e a Sanfranciscana (S).

Por Altair Sales Barbosa 

Esta última, através dos rios Preto e Urucuia, escoa suas águas para o leste. Por essa disposição, pode-se constatar que o Tocantins é um eminentemente amazônico, na medida em que todas as águas da bacia Tocantínea escoam para o norte e que Goiás é quase simetricamente dividido ao meio entre as bacias Tocantínea e Paranaica.

A Bacia Sanfranciscana aí se insere como que para “quebrar” a hegemonia das águas platinas e amazônicas que drenam o território goiano. Acrescente-se a isso o papel de rios como o Araguaia e sua imensa bacia (que drena toda a banda oeste dos dois estados) e outros menores, como os rios Verdão, Claro, Corrente e Aporé (que drenam basicamente o sul-sudoeste do estado), Caiapó, Vermelho, Peixe, Crixás-Açu (que alimentam o Araguaia), Paranã, Palma, Manoel Alves e Palmeiras (que drenam o sudeste tocantinense), Sono e Manoel Alves Grande (no do Tocantins), Formoso, Coco, Caiapó e Lontra (principais afluentes do Araguaia em território tocantinense).

O sentido desse escoamento comandou também em Goiás o sentido de outros fluxos, conferindo ao território um simbolismo peculiar: o seu papel geopolítico, na medida em que a capital federal, do alto do Planalto Central, seguindo o caminho das águas, comanda a do país, dirigindo as ordens e as decisões para os quatro cantos do território nacional.

Essa particularidade geográfica do território goiano faz dele – mais do que fora no passado – o elo estratégico da articulação e da mobilidade espaciais de todo o território brasileiro.

Quando observada com mais atenção, percebe-se que essa disposição da rede de drenagem goiana é plena de conotações de toda ordem, principalmente porque ela insinua que nessa porção central do o sentido que tomam as águas e os caminhos a partir do topo do Planalto Central conferem ao território uma permeabilidade ímpar, o que faz de , construída sobre o grande divisor norte-sul das águas brasileiras, uma capital geopolítica por excelência.

Um dos aspectos da hidrografia regional que mais chamam a atenção neste mapa é a interligação entre as bacias Tocantínea e Paranaica através dos córregos Brejinho (afluente do rio Bartolomeu) e Vereda Grande (afluente do rio ), cujas águas escoam de uma mesma nascente localizada exatamente no topo do grande divisor que separa as águas do norte das águas do sul do Brasil.

Tombada há mais de 40 anos como Área de Proteção Ambiental (APA), a “Estação Ecológica de Águas Emendadas” encontra dificuldades para preservar sua especificidade em decorrência da ocupação incontrolável de seu entorno pela agricultura intensiva e pela expansão da malha urbana das duas Planaltinas (a cidade do Distrito Federal e a cidade goiana), localizadas a poucos quilômetros dali.


O escoamento

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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