O fujão ainda tem muito a explicar

O fujão ainda tem muito a explicar

O ex-coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, que acumula diversas denúncias no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) por sua atuação na operação foi enfim punido. Por nove votos a um o CNMP considerou que Dallagnol interferiu na eleição à presidência do Senado favorecendo a vitória de Davi Alcolumbre. O caso refere-se às publicações feitas por Dallagnol em suas afirmando que a pauta anticorrupção não avançaria caso fosse reeleito Renan Calheiros.

Está longe de ser a única vez que Dallagnol usou de seu cargo e posição para interferir politicamente nos rumos do país. O que foge em muito ao papel de um procurador-público.

Inúmeras são as irregularidades envolvendo o nome de Dallagnol e não lhe faltou oportunidades de se explicar. Em abril de 2019 o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) convidou Dallagnol a comparecer a uma audiência pública na Câmara. Ele devia esclarecimentos sobre o esquisito fundo bilionário da Lava Jato. Totalizaram R$ 9,3 bilhões da Odebrecht e Petrobras. Porém Dallagnol fugiu à audiência sem dar a menor explicação.

Houve outra oportunidade para Dallagnol se explicar. Rogério Correia solicitou uma audiência pública em setembro do ano passado com as presenças de Dallagnol, do editor do The Intercept Leandro Demori e do ex-ministro da Eugênio Aragão. Mais uma vez o procurador-chefe da Lava Jato fugiu. Nesta ocasião, o deputado federal Rogério Correia trocou a placa de inscrição de “Deltan Dallagnol” para “Deltan Fujão”.

Importante lembrar que Rogério Correia apresentou à Procuradoria Geral da República cinco representações contra Dallagnol e sua falta de isonomia. Todas foram negadas pela Corregedoria e o parlamentar recorreu a cada uma.

Rogério Correia solicitou na Câmara, em junho, uma CPI para Investigar as ações da Lava Jato e suas ligações com o ex-juiz . A iniciativa pede abertura de inquérito para investigar o comportamento do ex-juiz Sergio Moro e supostos crimes de condescendência criminosa, prevaricação, obstrução à investigações e advocacia administrativa, cometidos por ele no Ministério da Justiça.

Fonte: Rogério Correia


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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