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“O MIÓ DOS MIÓ”

“O MIÓ DOS MIÓ”

“O MIÓ DOS MIÓ” 

Athos nos fazia lutar por este mundo que sonhamos ainda ser possível.

Laurenice Nolêto, Nonô

UM CIDADÃO UNIVERSAL

A morte do companheiro Athos Pereira, um dos fundadores do PT e militante histórico do projeto liderado pelo presidente Lula, representa uma enorme perda para a luta por um Brasil democrático e mais justo e solidário. Exilado político durante a ditadura militar, Athos retornou ao Brasil em 1980, após a Lei da Anistia, e teve uma vida comprometida com as lutas do povo brasileiro e com a construção do PT. 

Aloizio Mercadante

Eu tive o prazer e a sorte de conhecer esse ser humano fantástico que foi Athos Pereira. Com sua determinação e firmeza, mas também sua suavidade, conseguiu influenciar muita gente da nossa geração e das gerações que vieram depois. Era competente, culto, estudioso, literalmente uma graça de pessoa. Convivi com ele em dois ambientes, o do trabalho e o da residência. Eu era o líder, ele o chefe da assessoria da Liderança do PT, e nós compartilhávamos o mesmo apartamento funcional, junto com Sandra Starling e Thales, e essa convivência dentro de casa me revelou surpresas admiráveis, como eu passar pela sala e ele estar ali, lendo um livro que já tinha lido. Athos, você já não leu esse livro, eu perguntava. “Já, mas estou lendo de novo para ver o que mais eu descubro nessas páginas”, ele respondia. Só um gênio, só uma pessoa com muita sensibilidade, com muito humanismo e com muito interesse pela verdade é capaz de fazer algo assim, ler várias vezes o mesmo texto para ver o que encontrava de diferente. Algumas vezes eu pedia a ele pra fazer um discurso pra mim e depois, humildemente, eu tinha que pedir que tirasse um pouco das citações, porque se eu descesse da tribuna e me perguntassem, eu não saberia falar sobre o que ele tinha citado. Então quero dar esse depoimento: eu conheci um ser humano fantástico, sereno, profundo, radical no melhor sentido da palavra, que ia na raiz das questões e que era extremamente amigo e carinhoso com as pessoas. Por onde estiver passando, vai encantar. Por aqui, ficam as lembranças boas do tempo em que ele esteve com a gente. 

Jaques Wagner 

Estou muito emocionado. Athos foi um camarada que deixou muita luta, resistência e vigor para toda a classe trabalhadora. Uma vez ele achou que eu tivesse morrido e espalhou a notícia pra todo mundo lá em Brasília. Depois de muito tempo, ele descobriu que o Santos que tinha morrido em Cavalcante era outro, não eu, que continuo aqui, morando em Teresina de Goiás. Depois disso ele apareceu por aqui e contou que ficou feliz demais por me encontrar vivo. Athos veio aqui em casa outras vezes, em uma delas com o Mercadante. Outra vez ele me trouxe um livro do irmão dele, o Pedro Tierra, de quem eu também gosto muito. 

José Lázaro Bernardo, Santos

“O MIÓ DOS MIÓ”

ATHOS PEREIRA NETOS

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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