O mundo fantástico dos paleontólogos da Antiguidade
Eles procuravam fósseis de divindades, heróis da mitologia, dragões, minotauros… E “encontraram”
Por Álvaro Oppermann – aventurasnahistoria
Um dos seus relatos mais enigmáticos foi a respeito dos grifos – monstrengos alados de quatro patas, com corpo de leão e bico de ave de rapina -, que constava do Livro 4 de Histórias. Na Cítia, região de estepes na Eurásia, uma terra agreste e perigosa que se estendia da cordilheira do Cáucaso (que separa atualmente a Rússia da Geórgia e Azerbaijão) ao Oriente, eles atacavam e desmembravam cavalos, cervos e seres humanos.
Como numa gangue, os grifos vagavam em bandos ou aos pares. Heródoto acreditava piamente na existência dos bichões, mas nunca cruzou com um espécime de carne e osso. Acreditava, contudo, ter descoberto ossadas do bicho numa expedição feita até a parte ocidental da Cítia, junto ao mar Negro.
Mitos jurássicos
Diferentemente dos paleontólogos de hoje, eles não estavam atrás de dinossauros, mas de criaturas fantásticas, como grifos, centauros, sátiros, nereides e ciclopes. E também dos esqueletos dos heróis da mitologia, como os de Ájax, Teseu e Orestes.

O primeiro registro da paleontologia é de certo Aristeas, nascido em Proconeso, na Ásia Menor, no século 7 a.C. Por volta de de 675 a.C., ele – que era um misto de poeta, andarilho, aventureiro e bruxo milagreiro – fez uma expedição à região do Cáucaso, até Mongólia. Pelo caminho, mostraram-lhe diversos esqueletos de grifos e centauros.
No século 1 d.C., o geógrafo e viajante grego Pausânias identificou na Arcádia, região central da península do Peloponeso, na Grécia, o sítio da suposta Titanomaquia – a guerra mítica travada entre futuros deuses olímpicos e seus tios, os Titãs. Para o geógrafo, as gigantescas ossadas encontradas eram a prova material da guerra.
Cabeção
Depois de muito encontrar pistas falsas nas diversas regiões da Grécia e da Ásia Menor, Químon achou ter encontrado o túmulo do personagem mitológico Teseu na ilha de Esquiro. O único problema: os moradores locais se negaram a ceder-lhe o precioso talismã.

Em Roma, o filósofo sofista Filóstrato, o Ateniense, visitou a suposta ossada e descreveu o que viu no seu tratado Sobre os Heróis. O esqueleto do corpulento herói tinha 5,50 m de comprimento. “O crânio tinha volume de duas ânforas de vinho”, exclamou Filóstrato.
Segundo os paleontólogos Adrian Lister e William Sanders, da Universidade de Stanford, consultados pela autora, o crânio visto por Filóstrato era provavelmente de um extinto mastodonte – que, quando adulto, tem até 70 litros de volume.





