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SANGRADORES DE SERINGUEIRAS

O PAPEL DOS SANGRADORES DE SERINGUEIRAS

O Papel dos Sangradores de Seringueiras: A Ascensão da Borracha em São Paulo

O historiador ambiental Warren Dean, em sua obra seminal A Luta pela Borracha no , retratou um panorama sombrio sobre o desenvolvimento da no país.

Por Eduardo Di Deus 

Concluindo sua análise com um tom pessimista, Dean evidenciou que, apesar do Brasil ser o berço genético da seringueira, o país enfrentava dificuldades significativas em estabelecer plantações comerciais robustas até meados dos anos 1980.

A visão de Dean era que o potencial da seringueira estava amplamente subutilizado, com desafios que pareciam intransponíveis.

Transformação do Cenário: A Nova Era da Borracha

No entanto, o cenário começou a mudar drasticamente no final da década de 1980. Dean, ao escrever um posfácio para a edição brasileira de seu livro, sugeriu uma possível reversão da situação. Ele destacou o crescimento e o sucesso das plantações de seringueira no interior de São Paulo como um sinal promissor.

De fato, essa previsão revelou-se acertada. Hoje, São Paulo não apenas transformou sua paisagem agrícola, mas também se consolidou como o maior produtor de borracha natural do Brasil. No último ano, o estado produziu cerca de 55% da borracha natural do país, uma estatística que marca uma grande virada no setor.

A Revolução das Plantations: A Importação de Variedades Clonais

A ascensão da borracha em São Paulo está intrinsicamente ligada à introdução e adaptação de variedades clonais selecionadas no Sudeste Asiático. Desde a década de 1950, essas variedades genéticas começaram a entrar no Brasil. Essas variedades, desenvolvidas para serem mais produtivas e resistentes, começaram a ser testadas e, eventualmente, implantadas em larga escala no interior paulista.

Foi somente a partir dos anos 1980 – e particularmente nos últimos 20 anos – que a expansão das plantações ganhou força. O crescimento acentuado das plantações de seringueira no interior de São Paulo é um testemunho do sucesso dessas variedades clonais.

Atualmente, a variedade clonal malaia RRIM 600 é cultivada em cerca de 90% dos seringais paulistas. Essa variedade é conhecida por sua alta produtividade e resistência, fatores cruciais para o sucesso das plantações.

O PAPEL DOS SANGRADORES DE SERINGUEIRAS
Foto: Reprodução/Internet

Condições Ecológicas Favoráveis em São Paulo

A ascensão da seringueira em São Paulo também pode ser atribuída às condições ecológicas únicas da região. O planalto ocidental do estado é considerado uma área de escape climático para o fungo causador do mal-das-folhas (Microcyclus uleí).

Essa doença devastadora tem sido um obstáculo significativo para as plantações de seringueira na e no litoral da Bahia. O ambiente no planalto ocidental paulista oferece uma combinação ideal de condições para a seringueira: há chuva suficiente para sustentar as árvores, mas a umidade não é tão alta a ponto de promover a proliferação do mal-das-folhas.

Além disso, o clima favorável e a adequação do solo na região de São José do Rio Preto, no noroeste paulista, contribuíram para que essa área se tornasse o centro da produção de borracha no Brasil. Essa região não só oferece um ambiente propício para o cultivo das seringueiras, mas também tem atraído trabalhadores especializados de diferentes partes do país.

O Papel dos Sangradores: Técnicas e Desafios

Os sangradores, conhecidos localmente como , desempenham um papel vital na produção de borracha. A técnica de sangria é uma das atividades mais importantes nos seringais e requer precisão e habilidade.

O processo envolve realizar cortes meticulosos nas cascas das árvores em painéis delimitados em formato de meia espiral. A profundidade e a técnica dos cortes são cruciais; se os cortes forem muito rasos, a produção de látex será insuficiente, e se forem muito profundos, podem causar danos graves às árvores, comprometendo a saúde do seringal.

Além da precisão dos cortes, outros fatores são controlados pelos sangradores. Eles devem ajustar a grossura da fita de casca removida, manter a declividade do corte, decidir a frequência das sangrias e gerenciar o ritmo de trabalho durante uma jornada.

A habilidade manual dos sangradores é essencial para garantir que os seringais permaneçam produtivos e duráveis. Esse conhecimento técnico e a experiência adquirida ao longo dos anos são fundamentais para o sucesso das plantações.

O Impacto da Economia: Flutuações e Desafios no Mercado de Borracha

O mercado de borracha tem sido caracterizado por flutuações significativas nos preços, o que impacta diretamente a vida dos sangradores e a viabilidade econômica das plantações.

Em 2010, os preços da borracha atingiram um pico, coincidentemente com o fechamento do maior seringal das Américas, localizado no do Mato Grosso.

A alta nos preços levou à migração de muitos sangradores especializados para a região de São Paulo. Esses trabalhadores experientes ajudaram a impulsionar a produção local e a fortalecer o setor.

No entanto, o mercado de borracha enfrentou desafios subsequentes. Os preços da borracha caíram drasticamente de mais de quatro reais por quilo em 2010 para cerca de um real e sessenta centavos no ano passado.

Essa queda acentuada nos preços tem causado desânimo e dificuldades para os produtores, que enfrentam a competição das grandes corporações pneumáticas e dos principais países produtores no Sudeste Asiático.

Apesar desses desafios econômicos, os sangradores de seringueira continuam a desempenhar um papel crucial na produção de borracha. Eles são verdadeiros artesãos que mantêm a tradição e a técnica da extração de látex, mesmo diante das adversidades do mercado. Sua habilidade e dedicação são fundamentais para a manutenção da produção e a dos seringais.

Expansão e Futuro da Produção de Borracha

Além de São Paulo, a seringueira está se expandindo para áreas adjacentes, como o sul do Mato Grosso do Sul e o triângulo mineiro, que são consideradas aptas para a .

Essas regiões estão começando a experimentar o cultivo de seringueira, aproveitando as condições favoráveis para a produção de borracha. No entanto, a expansão enfrenta desafios devido às flutuações de preços e à competição com produtores estabelecidos.

O futuro da produção de borracha no Brasil dependerá da capacidade dos produtores de se adaptarem às mudanças do mercado e de manterem a qualidade e a produtividade das plantações. A inovação tecnológica, a adaptação às condições locais e o desenvolvimento de novas técnicas de cultivo e extração serão cruciais para a sustentabilidade e o crescimento contínuo do setor.

Os sangradores de seringueira desempenham um papel fundamental na produção de borracha no Brasil, especialmente em São Paulo. Sua habilidade e conhecimento técnico são essenciais para o sucesso das plantações e a produção de látex de alta qualidade.

Apesar das flutuações de preços e dos desafios econômicos, esses trabalhadores continuam a seguir seu ofício com dedicação e expertise.

A evolução do setor de borracha no Brasil reflete não apenas a adaptação às condições ecológicas e econômicas, mas também a importância do trabalho manual especializado na manutenção de uma indústria vital para a economia nacional.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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