O Parque das Garças e as mudanças climáticas

O Parque das Garças e as

Se alguém me perguntar qual a coisa mais importante a ser feita hoje, eu não teria dúvidas em responder: cuidar do .

Por Beto Seabra/Leitores Sem Fim

Mais importante que a própria fome, que já foi nossa prioridade número um, cuidar da e evitar que a qualquer momento aconteça uma nova catástrofe ambiental deveria ser a prioridade zero de todas as sociedades humanas. Um em desequilíbrio só gera mais e mais fome do que a que já existe. 

Para alguns cientistas, a pandemia de Covid-19 foi a primeira grande catástrofe ambiental do Planeta na era do . Nada conseguiu parar o planeta como ela conseguiu. E restam poucas dúvidas hoje que o novo e letal coronavírus surgiu a partir de um desequilíbrio ambiental. Assim como a gripe espanhola provavelmente surgiu em alguma região da California devastada pela corrida pelo ouro entre o final do século XIX e o início do século XX, e que iria matar dezenas de milhões de pessoas em poucos anos, é bastante provável que o Covid-19 nasceu em uma província chinesa igualmente devastada pelas mãos humanas. 

Depois de quase um ano voltei a passear no Parque das Garças, localizado no final do Lago Norte. Frequentei o lugar durante os dezessete anos em que morei naquele bairro e retornei em um domingo para participar de um pedido de socorro feito pela comunidade do Lago Norte, pois o Governo do Distrito Federal pretende transformar parte do parque em um empreendimento comercial. 

Impressionante saber que enquanto o mundo se mobiliza para termos mais árvores e menos poluição, portanto menos aquecimento global, o Distrito Federal anda na contramão desse movimento. Lendo o Blog do jornalista Chico Sant’Anna, descubro que somente nos primeiros quatro meses de 2023 já perdemos mais cobertura vegetal, leia-se Cerrado, do que durante todo o ano passado. Não é um escândalo isso?

O Parque das Garças virou um espaço de lazer e de esportes aquáticos dos moradores de Brasília, além de morada de pássaros e capivaras. Recentemente foram plantadas lá mais de 500 árvores, que se somam às milhares que já existem no local. É um lugar bonito e que a comunidade do Lago Norte brigou muito para existir. 

Para completar, eu soube, enquanto passeava no Parque das Garças, que já existe uma Comissão Provisória da Agenda 2030 Lago Norte. Explicando melhor: a Agenda 2030 é um plano de ação global que reúne 17 objetivos de e 169 metas, criados para erradicar a e promover digna a todos, dentro das condições que o nosso planeta oferece e sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações. Então cuidar do Parque das Garças passou a ser uma das metas locais para que o Brasil alcance as metas nacionais, ajudando o mundo a conquistar as metas globais. Acho isso de uma importância gigantesca. 

Deixar que parte daquilo ali vire um novo Píer 21, atraindo apenas o consumo e os automóveis de sempre, será uma grande derrota para a nossa cidade e para aqueles que defendem um sem novas catástrofes ambientais. Precisamos isso sim de mais parques e mais árvores, para garantir a vida e a saúde das próximas gerações.    

Fonte: Beto Seabra/Leitores Sem Fim Capa: Beto Seabra


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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