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Onda conservadora

ONDA CONSERVADORA ATINGE O PAÍS E POUCOS COMPREENDEM

O que está acontecendo? Onda conservadora atinge o país e poucos sabem o que acontece

A pergunta que todos se fazem: o que está acontecendo? Sei que em alguns anos, milhares de dissertações e teses de doutorado irão jorrar das linhas de produção montadas nos moldes norte-americanos, enfiados goela abaixo na universidade brasileira. O tema: a “onda conservadora”

Por Elias Jabbour
A pesquisa Ibope divulgada na noite de hoje demonstra ampliação da vantagem de Bolsonaro diante do candidato da Frente Democrática, Fernando Haddad. A rejeição ao candidato do tal PSL estaria na casa de 35% enquanto Haddad passa dos 50%. Um quadro terrível ao nosso campo que não deve servir para desânimo ou prostração. A mim não cabe, Hegel e Kondratiev são bússolas anexas à minha cabeça.
A pergunta que todos se fazem: o que está acontecendo? Sei que em alguns anos, milhares de dissertações e teses de doutorado irão jorrar das linhas de produção montadas nos moldes norte-americanos, enfiados goela abaixo na universidade brasileira. O tema: a “onda conservadora”.
Em Economia Política (principalmente em sua “crítica”) com muito esforço aprendi que quando um fenômeno é tratado como “padrão”, “modelo” ou “milagre” é sinal de que as teorias à disposição do “mercado de ideias” não são capazes nem, utilizando Kant, de explicar o “fenômeno”.
Menos ainda adentrar ao seu “nômeno”. Na política é a mesma coisa. Chamar de “onda” algo construído historicamente é preguiça de sentar, estudar e passar horas, dias, meses e anos não somente estudando história, mas aprendendo a observar o fenômeno com visão de “processo histórico”.

Japão

O que ocorre no Brasil e no mundo, não é uma “onda conservadora” strictu sensu. Ocorre fenômeno semelhante ao que Ignacio Rangel (em nome da justiça intelectual, muito antes da querida professora Maria da Conceição Tavares, diga-se de passagem) já observava, no início dos anos de 1980, uma ofensiva do imperialismo para retomar espaços perdidos durante os anos de 1950, 1960 e 1970.
Colocaram o Japão de joelhos em 1985, enquadraram a Alemanha, cobraram de casa em casa a dívida externa dos países da periferia (a começar pelo próprio quintal, o México), impuseram uma Guerra nas Estrelas à URSS, espalharam violência aberta e contrarrevolucionária por toda a América Latina e decuplicaram a capacidade de emissão de moeda. O dólar deixou de valor alguns quilos de ouro. O valor do dólar era o próprio dólar em si.
No presente, em condições diferentes, ocorre algo semelhante. Em meio à intervenção em massa do Estado chinês com um pacote de US$ 680 bilhões para enfrentar a crise financeira e criar capacidade instalada para em 2013 lançar o desafio de conectar o mundo por via marítima e terrestre (tendo seu sistema financeiro e imensos conglomerados estatais como pontas de lança do projeto), os EUA acordaram para a sua dura realidade.

Oriente Médio

Obama foi devidamente deslocado para um papel que cumpriu muito bem (o de um palhaço, a rir e falar bonito – uma das maiores mediocridades políticas da história dos EUA) e os conservadores passaram – de fato – a dar as cartas no país.
Estudos comprovam que nenhum país beneficiado pelo projeto inicial do projeto da Nova Rota Terrestre e Marítima da Seda saiu ileso de desestabilizações de todo o tipo. A abertura de torneira do petróleo da Arábia Saudita estrangulou as economias russa e venezuelana.
O Oriente Médio e a África do Norte sentiram o gosto da aliança EUA, Al Qaeda e Estado Islâmico. O Brasil entrara em ebulição ultraconservadora com as manifestações (que muitas crianças pequeno-burguesas chamam de “jornadas de junho [ou julho])”.

Alívio

À desestabilização política do Brasil, seguiu-se um golpe de Estado e uma eleição – que como estamos a assistir – está sendo muito bem conduzida pelos golpistas assessorados por urubus vindos diretos dos Estados Unidos para construir a subjetividade de um povo sofrido com quatro anos de crise e uma violência que crassa no país adentro.
A Europa, como no início dos anos de 1980, já está devidamente enquadrada com a Alemanha comprando carne americana. A China socialista está sob intensa pressão: segundo as palavras do conselheiro de segurança nacional John Bolton, as pressões serão “triplicadas”. Neste tocante (A China) temos um bom motivo de alívio: os sucessores de Mao Tsétung são quadros muito melhor preparados que os sucessores de Stálin: Xi Jinping chama Gorbachev de traidor do socialismo. Com os chineses, a conversa é outra.
E o Brasil? Não adianta chorar o leite derramado ou a ser derramado. Ganhando ou perdendo, é muito claro que o pomo da discórdia já está posto no cenário político, social e econômico brasileiro. O imperialismo, nas palavras de Lênin “a reação em toda linha”, não brinca em serviço e sua subestimação é um dos motivos que nos levou a esta situação.

Imperialismo

Para se ter uma ideia não foram poucas as vezes que vi professores de “esquerda” (em grande medida cirandeiros e intelectuais de baixo nível) repreendendo alunos que em suas dissertações ou teses ainda utilizavam do termo “imperialismo”. Ora, aos que sabem como o mundo funciona, “imperialismo” aos marxistas consequentes é uma categoria de análise, não uma palavra de ordem.
Abandonar esta categoria de análise está resultando, em grande medida, no quadro que vivemos hoje e que muitos chamam de “onda conservadora” o que Lênin chamaria de “reação em toda linha”, ou seja, ação deliberada do imperialismo para recompor seus espaços de poder pelo mundo e pelo Brasil.
Encerrando, uma ampla parcela da intelectualidade nacionalista, progressista e democrática do país deverá ser chamada ao debate após as eleições. Nem que seja para comprovar, de fato, que o imperialismo venceu no front interno.
‘Inferno na Terra’

Oprimidos

Afinal de contas a quem interessa colocar na cabeça das esquerdas (desde a década de 1990) que são “ruins” ou “antiquadas” noções como “desenvolvimento econômico”, “política industrial”, “nação”, “nacionalismo”, “Pátria”, “forças armadas”, “agricultura altamente mecanizada”, “Getúlio Vargas” e ter na China como um “exemplo de ditadura de um Partido-Estado organizando uma economia baseada no trabalho escravo”, enfim, a China como o “inferno na terra”?
A quem interessa uma esquerda que não tenha no seu arcabouço teórico, programático e simbólico todas essas referências? Quem enquadrou a esquerda a substituir o método do “processo histórico” e da análise do fenômeno a “partir das múltiplas determinações do concreto” em prol do método fascista do chamado “lugar de fala” e da missão de cuidar dos “fracos e oprimidos”?
Ao responder determinadas questões poderemos tirar da cabeça essa coisa de “onda conservadora” e encontrar as devidas categorias e conceitos (indigestos à honrada “academia” brasileira) à compreensão do que realmente ocorre ao nosso redor. Desde a redemocratização. O imperialismo não é invencível.
Elias Jabour é professor de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Fonte: Correio do Brasil

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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