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Ora-pro-nóbis: bife de pobre

Ora-pro-nóbis: bife de pobre

Por Eduardo Pereira

Ora-pro-nóbis é um desses cipós rústicos e espinhentos que toda criança de roça conhece. Abusado, sobe pelas cercas, se gruda nas árvores, cobre muros e se aventura pelos telhados de todo o continente americano, do sul dos Estados Unidos até a Argentina.

No Brasil, a Pereskia aculeata, cactácea trepadeira conhecida como ora-pro-nóbis (do latim ora pro nobis: “ora por nós”), orabrobó, lobrobó ou lobrobô, ocorre em abundância desde o Maranhão até o Rio de Janeiro, especialmente nas regiões de clima mais seco.

Diz a lenda que essa PANC (planta alimentícia não convencional) passou a ser chamada de ora-pro-nóbis em Minas Gerais, onde um padre costumava rezar ladainha em latim, repetindo o refrão ora pro nobis, a cada santo citado, enquanto colhia as folhas da planta no quintal. Daí, os vizinhos, e logo mais e mais pessoas, deram nome à trepadeira comestível com a fala do padre.

 

Talvez seja por essa razão que o uso do ora-pro-nóbis como alimento seja mais frequente em terras mineiras, onde da planta tudo se usa: folhas, flores e frutos (pequenas bagas amarelas), em receitas variadas, que incluem saladas, sucos e refogados, e das quais a mais conhecida é a do famoso frango caipira com ora-pro-nóbis.

Super rica em proteínas, lipídio, cálcio, fósforo, ferro, vitamina C e fibras, em várias regiões do sertão brasileiro a Pereskia aculeata é conhecida como bife ou carne dos pobres. Em Minas Gerais, há tempos se usa o ora-pro-nóbis cozido no feijão, preferencialmente em panela de ferro, para tratar as anemias.

Por essa razão, nutricionistas defendem o uso da planta como um excelente complemento alimentar para a alimentação orgânica porque, além de seus valores nutricionais e proteicos, ela sobrevive tanto no sol como na sombra, e, principalmente, cresce por conta própria, com pouca exigência de água.

Eduardo Pereira

 

Eduardo Pereira – Sociólogo

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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