Ora-pro-nóbis: bife de pobre
Ora-pro-nóbis é um desses cipós rústicos e espinhentos que toda criança de roça conhece. Abusado, sobe pelas cercas, se gruda nas árvores, cobre muros e se aventura pelos telhados de todo o continente americano, do sul dos Estados Unidos até a Argentina.
Por Eduardo Pereira
No Brasil, a Pereskia aculeata, cactácea trepadeira conhecida como ora-pro-nóbis (do latim ora pro nobis: “ora por nós”), orabrobó, lobrobó ou lobrobô, ocorre em abundância desde o Maranhão até o Rio de Janeiro, especialmente nas regiões de clima mais seco.
Diz a lenda que essa PANC (planta alimentícia não convencional) passou a ser chamada de ora-pro-nóbis em Minas Gerais, onde um padre costumava rezar ladainha em latim, repetindo o refrão ora pro nobis, a cada santo citado, enquanto colhia as folhas da planta no quintal. Daí, os vizinhos, e logo mais e mais pessoas, deram nome à trepadeira comestível com a fala do padre.
Talvez seja por essa razão que o uso do ora-pro-nóbis como alimento seja mais frequente em terras mineiras, onde da planta tudo se usa: folhas, flores e frutos (pequenas bagas amarelas), em receitas variadas, que incluem saladas, sucos e refogados, e das quais a mais conhecida é a do famoso frango caipira com ora-pro-nóbis.
Super rica em proteínas, lipídio, cálcio, fósforo, ferro, vitamina C e fibras, em várias regiões do sertão brasileiro a Pereskia aculeata é conhecida como bife ou carne dos pobres. Em Minas Gerais, há tempos se usa o ora-pro-nóbis cozido no feijão, preferencialmente em panela de ferro, para tratar as anemias.
Por essa razão, nutricionistas defendem o uso da planta como um excelente complemento alimentar para a alimentação orgânica porque, além de seus valores nutricionais e proteicos, ela sobrevive tanto no sol como na sombra, e, principalmente, cresce por conta própria, com pouca exigência de água.
Eduardo Pereira – Sociólogo.