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OS BEJA: UM POVO ENTRE AS AREIAS DO TEMPO

Os Beja: um povo entre as areias do
(𝑶𝒔 𝒅𝒆𝒔𝒄𝒆𝒏𝒅𝒆𝒏𝒕𝒆𝒔 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒑𝒓𝒐́𝒙𝒊𝒎𝒐𝒔 𝒅𝒐𝒔 𝒂𝒏𝒕𝒊𝒈𝒐𝒔 𝒆𝒈𝒊́𝒑𝒄𝒊𝒐𝒔)

No deserto escaldante do nordeste da África, onde as dunas do Saara encontram as terras férteis do Nilo, habita um povo de história antiga e rica: os Beja.

Por Uma África Desconhecida

Com raízes profundas que se entrelaçam com as civilizações dos antigos egípcios e cuxitas, os Beja formam um grupo étnico que, ao longo dos séculos, manteve viva uma cultura única, resistindo às intempéries do tempo e da modernidade. Este artigo explora as origens, relações históricas, e a cultura contemporânea dos Beja, lançando luz sobre um povo cuja existência é um testemunho da e adaptação humana.

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Afrika Kanda Ndombe History And News

𝗢𝗿𝗶𝗴𝗲𝗻𝘀 𝗲 𝗥𝗲𝗹𝗮𝗰̧𝗼̃𝗲𝘀 𝗛𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗰𝗮𝘀

Os Beja são um dos grupos étnicos mais antigos da região nordeste de África, com uma história que remonta a mais de quatro mil anos.
 
As suas origens estão intimamente ligadas às civilizações do Antigo Egito e dos reinos cuxitas (também conhecidos como núbios).
 
Os Beja habitam principalmente o leste do Sudão, mas suas comunidades também se estendem para o Egito, Eritreia e partes da Etiópia.
 
Os Beja são as populações mais próximas dos antigos povos egípcios, observe que a maioria das pessoas do Egito moderno descende de árabes que invadiram no século VII e embranqueceram a população. A que o povo Beja fala é a mais próxima daquela do Egito clássico.
 
A relação dos Beja com os antigos egípcios é evidente em registros históricos e inscrições que mostram interações comerciais e culturais.
 
Durante o Império Egípcio, os Beja eram conhecidos como “Medjay” e desempenhavam papéis importantes como guardiões das fronteiras do Egito e mercenários.
 
A palavra “Medjay” evoluiu ao longo do tempo, mas continua a ser um marcador de para os descendentes desse povo guerreiro.
 
Os cuxitas, por outro lado, partilham com os Beja uma comum que remonta aos tempos pré-históricos. Os reinos cuxitas, que floresceram ao sul do Egito, especialmente na Núbia, compartilham semelhanças culturais e linguísticas com os Beja. Essas conexões são vistas nas práticas religiosas, rituais funerários, e até na e arquitetura.

𝗔 𝗟𝗶́𝗻𝗴𝘂𝗮 𝗕𝗲𝗷𝗮 𝗲 𝗦𝘂𝗮𝘀 𝗖𝗼𝗻𝗲𝘅𝗼̃𝗲𝘀 𝗔𝗻𝘁𝗶𝗴𝗮𝘀

A língua Beja, conhecida localmente como Bedawiye, é um ramo isolado da família linguística afro-asiática, o que a coloca em proximidade com o antigo egípcio e outras línguas cuxitas da região. Embora não seja uma língua cuxita propriamente dita, a Bedawiye compartilha características estruturais e lexicais com as línguas faladas pelos antigos cuxitas, sugerindo uma antiga troca cultural e linguística.
 
Estudos linguísticos indicam que a Bedawiye preserva traços de uma língua pré-histórica que poderia ter sido falada antes da formação dos grandes reinos egípcios e cuxitas. Essa proximidade com as línguas antigas da região é um elo crucial para entender as migrações e interações culturais que moldaram o nordeste da África.

𝗖𝘂𝗹𝘁𝘂𝗿𝗮 𝗲 𝗠𝗼𝗱𝗼 𝗱𝗲 𝗩𝗶𝗱𝗮 𝗻𝗼 𝗦𝗲́𝗰𝘂𝗹𝗼 𝟮𝟭

OS BEJA: UM POVO ENTRE AS AREIAS DO TEMPO
Beduínos Beja – Foto: Wikipedia
Hoje, os Beja continuam a praticar um modo de que, embora influenciado pela modernidade, ainda se mantém fiel a muitas tradições ancestrais.
 
Tradicionalmente, os Beja são pastores nômades, criando camelos, cabras e ovelhas nas vastas extensões do deserto.
 
A vida no deserto requer resiliência, e os Beja desenvolveram um profundo conhecimento das rotas de água e pastagens, bem como uma rica cultura oral que transmite histórias, poesia e sabedoria de geração em geração.
 
Os Beja também são conhecidos por sua rica tapeçaria de artesanato, incluindo tecelagem e joalharia. As mulheres Beja desempenham um papel central na produção de tecidos e ornamentos, que são não apenas produtos de uso diário, mas também símbolos de status e identidade cultural.
 
Apesar da modernidade e da urbanização, muitos Beja resistem a abandonar o estilo de vida nômade. No entanto, desafios como a , a pressão para se sedentarizar, e os conflitos regionais ameaçam esse modo de vida. Ainda assim, os Beja adaptam-se continuamente, preservando a sua identidade enquanto exploram novas formas de sustento e integração social.

𝗡𝗼𝘁𝗮𝘀 𝗳𝗶𝗻𝗮𝗶𝘀

Os Beja são um povo cuja história rica e complexa se estende por milênios, conectando-os às grandes civilizações do antigo Egito e dos reinos cuxitas.
 
Sua língua, cultura e modo de vida oferecem um vislumbre de um passado profundo, ao mesmo tempo em que enfrentam os desafios do moderno.
 
O estudo dos Beja não só enriquece nosso entendimento sobre a do nordeste de África, mas também nos inspira a valorizar as tradições e o conhecimento ancestral que resistem ao tempo.
 
𝗙𝗼𝗻𝘁𝗲𝘀 𝗕𝗶𝗯𝗹𝗶𝗼𝗴𝗿𝗮́𝗳𝗶𝗰𝗮𝘀
1. Barnard, Hans. _“The Medjay of Ancient Egyptian Warfare and Society.”_ In Journal of Ancient Egyptian Interconnections, 2008.
2. Hudson, D.A. _“Beja Nomads of the Red Sea Hills.”_ In African Affairs, 1976.
3. Abdullahi, Mohamed Diriye. _”The Cushitic Speaking Peoples of Eastern Africa: A History of Deep-Rooted Identity.”_ Red Sea Press, 1998.
4. Trimingham, J. Spencer. _“Islam in Ethiopia.”_ Frank Cass & Co. Ltd, 1952.
5.Ehret, Christopher. _“The Civilizations of Africa: A History to 1800.”_ University of Virginia Press, 2002.
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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