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Palmério Dória escreveu sua última linha

Palmério Dória escreveu sua última linha

𝑸𝒖𝒆𝒓𝒊𝒅𝒐𝒔 𝒂𝒎𝒊𝒈𝒐𝒔, 𝒇𝒂𝒎𝒊𝒍𝒊𝒂𝒓𝒆𝒔 𝒆 𝒍𝒆𝒊𝒕𝒐𝒓𝒆𝒔 𝒅𝒐 𝒎𝒆𝒖 𝒕𝒊𝒐 𝑷𝒂𝒍𝒎𝒆́𝒓𝒊𝒐 𝑫𝒐́𝒓𝒊𝒂 𝒉𝒐𝒋𝒆 𝒆𝒍𝒆 𝒆𝒔𝒄𝒓𝒆𝒗𝒆𝒖 𝒔𝒖𝒂 𝒖́𝒍𝒕𝒊𝒎𝒂 𝒍𝒊𝒏𝒉𝒂, 𝒄𝒐𝒍𝒐𝒄𝒐𝒖 𝒐 𝒑𝒐𝒏𝒕𝒐 𝒇𝒊𝒏𝒂𝒍 𝒏𝒖𝒎𝒂 𝒉𝒊𝒔𝒕𝒐́𝒓𝒊𝒂 𝒍𝒊𝒏𝒅𝒂, 𝒄𝒉𝒆𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝒆𝒎𝒐𝒄̧𝒐̃𝒆𝒔, 𝒓𝒆𝒑𝒍𝒆𝒕𝒂 𝒅𝒆 𝒂𝒎𝒊𝒈𝒐𝒔, 𝒂𝒅𝒎𝒊𝒓𝒂𝒅𝒐𝒓𝒆𝒔… 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝒂 𝒆𝒕𝒆𝒓𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒇𝒊𝒄𝒂𝒎 𝒐𝒔 𝒍𝒊𝒗𝒓𝒐𝒔 𝒆 𝒂𝒔 𝒎𝒆𝒎𝒐́𝒓𝒊𝒂𝒔.”  Assim Erica Vasconcelos deu  a notícia do encantamento do grande Palmério Dória nas
 
, meu companheiro de jornada na fundação e edição da , ele também um encantado desde julho de 2021, costumava dizer que, como ser humano e como jornalista, Palmério estava entre “os mió dos mió”.
 
Jaime gostava de contar que Palmério foi um dos primeiros jornalistas a contar detalhes sobre a Guerrilha do Araguaia,  ao lado de Vincent Carelli e Sergio Buarque. Jaime só se esquecia de dizer que ele próprio era o quarto nome que fez o conhecer a luta e os mistérios da Guerrilha. 
 
Palmerio Doria guerrilha
 
Nascido em Santarém, no sul do Pará, no ano de 1948, mas foi criado em Belém, por um padre. Fez carreira jornalística no sul do País, onde trabalhou nos principais veículos da grande imprensa brasileira, incluindo  na Folha de ,  em O Estado de S. Paulo e n a revista Caros Amigos.  Foi também chefe de reportagem da Rede Globo até que,  no ano de 1992, criou seu próprio meio de , a revista Sexy. 
 
Escreveu vários livros,  entre eles Mataram o Presidente – do pistoleiro que mudou a do Brasil (1976), que trata do momento histórico desencadeado com o suicídio de Getúlio Vargas; Honoráveis Bandidos ─ Um Retrato do Brasil na Era Sarney (2009), sobre o poder da família Sarney no Maranhão; e A Guerrilha do Araguaia (1978), relato do levante comunista debelado pela ditadura militar
 
Fez da escrita ferramenta de democrática. Durante o golpe de 2016, que depôs a presidenta , Palmério Dória montou trincheira nas redes sociais. Irônico e bem humorado, Palmério botou a bronca no trombone contra o avanço do fascismo.
 
Partiu do espaço físico deste mundo em 31 de março de 2023, aos 75 anos de idade.
 
Palmerio Doria twitter
 
 
Zezé Weiss – Com dados e fotos da Wikepedia, do zap do companheiro Luís Celso  e das redes sociais de Palmério Dória. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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