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Pecuária especulativa desmata mais e produz menos carne

Pecuária especulativa desmata mais e produz menos carne

A análise da Trase mostra igualmente que 11% dos municípios bovinicultores concentram 95% das derrubadas para pastagens.

Por Aldem Bourscheit/O Eco

As áreas desmatadas ou convertidas à pecuária cresceram 60% de 2016 a 2020, de 590 mil ha para 948,7 mil ha. Nos mesmos 5 anos, a cobertura de pastos diminuiu de 164 milhões de ha para 162,5 milhões de ha, e a produção de carne bovina caiu de 10,2 milhões de toneladas para 9,8 milhões de toneladas. 

A expansão de uma pecuária improdutiva voltada à especulação de terras pode explicar essa tendência, “aparentemente contraditória”, traz uma análise publicada esta semana pela iniciativa Trase, que fomenta mais transparência e sustentabilidade à agropecuária. 

“Isso indica que a pecuária, seja para a produção de carne bovina, seja para a especulação fundiária, continua a ser o principal motor do desmatamento e da conversão”, diz o estudo. Isso ocorre sobretudo na Amazônia e no Cerrado, apesar de frigoríficos se comprometerem com desmate zero.

O levantamento apontou igualmente que 95% da conversão e do desmatamento para pecuária se concentraram em 388 municípios produtores de gado, em 2020. Eles representam pouco mais de 11% das 3.386 municipalidades com essa atividade no país.

Os mesmos 388 municípios respondem por 42% da produção nacional e por 52% das exportações. A Trase pondera que priorizar a rastreabilidade de bezerros nessas localidades pode facilitar acordos comerciais que exigem compras livres de desmate, como com a União Europeia.

Aldem BourscheitBiólogo e Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: Tiago Lubiana/Creative Commons.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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