Procura
Fechar esta caixa de pesquisa.

Maior rigor contra desmatamento custaria menos de 1% do PIB

Maior rigor contra tiraria menos de 1% do PIB do

Economia suportaria impacto em troca de maior regeneração da mata nativa, mas efeitos variam por estado

Por Silvana Salles
Estados que cultivam produtos como arroz, milho e trigo têm a economia menos afetada pelas restrições sobre o uso da terra  – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens.
1x1

Mudanças que tornassem o Novo Código Florestal mais rigoroso do que é hoje resultariam em perdas inferiores a 1% no resultado do PIB nacional até 2030. As estimativas são da economista Mari Aparecida dos Santos, que avaliou cenários sem dois mecanismos de compensação ambiental que estiveram no centro do debate entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento de um pacote de ações que tratavam da constitucionalidade do Novo Código. O julgamento foi finalizado em fevereiro.

Segundo Mari Aparecida, os benefícios ambientais produzidos pela maior regeneração da vegetação nativa permitem à economia brasileira suportar uma queda do PIB em até 1%. No entanto, os impactos econômicos são distintos entre os estados: os que mais perdem são Pará, Tocantins, Mato Grosso, Goiás e o Distrito Federal. A economista desenvolveu a pesquisa durante o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.

As estimativas foram geradas a partir de modelos que tomaram como base a total efetividade do Novo Código Florestal. Esta situação base foi comparada com outros três cenários, dois dos quais a economista destaca. O primeiro deles considera a hipótese de que não houvesse Cotas de Reserva Ambiental. O segundo projeta uma situação em que não houvesse anistia para desmatadores. A pesquisadora projetou as variações do PIB para o período de 2010 a 2030, considerando a efetiva aplicação da legislação a partir de 2020.

Sem regras flexíveis

As Cotas de Reserva Ambiental são títulos que funcionam como mecanismo de compensação do desflorestamento em propriedades privadas. Pelo Novo Código Florestal, todo imóvel rural deve preservar a vegetação natural em uma área de 20% a 80% do total da propriedade – o percentual varia de acordo com a localização do imóvel. Essa é a chamada Reserva Legal. O julgamento no STF definiu que, se o proprietário do imóvel tiver desmatado mais do que o permitido pela lei, ele poderá compensar o desmatamento em outro imóvel, desde que se localize no mesmo bioma.

 

PIB desmatamento

Essa flexibilização da regra da Reserva Legal vale somente para áreas que foram desmatadas antes de 22 de julho de 2008 e ainda não foi regulamentada em todo o País. Deverá funcionar da seguinte forma: as propriedades que tiverem superávit de áreas preservadas poderão obter os títulos de Cotas de Reserva Ambiental junto às autoridades e negociá-los na bolsa de valores com proprietários que desmataram acima do limite da Reserva Legal. Supõe-se que o mecanismo será mais utilizado por produtores agrícolas, já que os pecuaristas dispõem de espaço para reflorestamento.

A economista calculou que, na das cotas, haveria uma redução de 0,12% no PIB nacional, sem prejuízo de longo prazo ao nível de emprego. Nesta hipótese, as exportações poderiam até melhorar, em caso de desvalorização do real.

O outro cenário relevante diz respeito à anistia ao desmatamento ocorrido antes de 22 de julho de 2008, data em que entrou em vigor o decreto federal que estabelece sanções por crimes ambientais “As propriedades que tiverem áreas consolidadas podem ser anistiadas do desmatamento ocorrido anteriormente à lei de crimes ambientais. Isso serve principalmente para as pequenas propriedades, que não perderão área produtiva. É importante para o pequeno agricultor, para que ele não tenha tantas perdas econômicas”, explica Mari.

No cenário sem anistia, o impacto seria um pouco maior do que no cenário sem as Cotas de Reserva Ambiental, com queda de 0,5% no PIB. “Em contrapartida, vai haver maior regeneração ambiental”, diz a economista.

1x1
PIB desmatamento
1x1

Perdas regionalizadas

Além de calcular os resultados macroeconômicos nacionais, Mari observou de que forma a ausência dos mecanismos previstos no Novo Código afetariam a economia dos estados.

“Eu verifiquei que o cultivo da soja e a pecuária foram (as atividades) mais afetadas com essas restrições no uso da terra. Por isso, os estados que perdem área produtiva para esses dois produtos também perdem mais na questão econômica”, conta a economista. “Os demais produtos analisados, como o arroz, o milho, o trigo e outros cereais, sofrem variações inferiores a 0,6 milhões de hectares em ambos os cenários, assim como a cana-de-açúcar, a mandioca, o algodão e a exploração florestal. Então, os estados que cultivam esses outros produtos têm uma perda menor”, completa.

No cenário sem cotas, o estado que mais perde é o Mato Grosso, que veria uma redução de 4,5% no PIB estadual. Haveria também perda de 0,9% no Pará e no Tocantins. Já no cenário sem anistia, o estado que mais perde é Goiás, que junto com o Distrito Federal vê o PIB regional recuar 4,3%. O Mato Grosso do Sul veria uma perda de 1,4%.

PIB desmatamento

Nem todos os estados perdem. Os principais beneficiados pelo cenário sem cotas são Rondônia, que veria um acréscimo de 1,5%, e o conjunto formado pelo Acre, , Roraima e Amapá, que teria aumento de 0,9% no PIB. Minas Gerais não seria afetada pela ausência do mecanismo.

A economista rodou as simulações a partir de modelos que usam dados macroeconômicos e projeções de uso do solo baseadas em informações georreferenciadas. A matriz de dados é alimentada por dados de pesquisas do IBGE, do Inpe e da SOS .

ANOTE AÍ

Fonte: Jornal da USP

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

posts relacionados

REVISTA