PLANETA SEM RUMO

Planeta sem rumo

O destempero do clima, com temperaturas fora do comum e águas racionadas, fogo desvairado pondo fim às florestas que ainda resistem ao desmatamento ganancioso, tudo parece ameaçar a vida na Terra. E se mostram cada vez mais distantes as possibilidades de organizar o Planeta.

Por Jaime Sautchuk

As ciências são colocadas a serviço do grande capital e parecem mais dedicadas a pesquisas que gerem lucro. Pouco importa a qualidade de vida das populações atuais e das próximas gerações – a fragilidade de nosso Planeta é colocada à prova todo santo dia, sem que vejamos esforços consequentes na construção de um futuro diferente, condigno.

Os incêndios atingem todos os biomas, não apenas as florestas tropicais, tanto na América Latina quanto na África e na Ásia, com especial destaque às matas da Indonésia. É certo que as florestas chamam mais atenção pela sua dimensão, mas, no Brasil, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal demonstram que também queimam com grande fluidez e os focos de chamas de espalham pelo país inteiro, arrasando a flora e a fauna nativas.

Aqui e lá as causas dos incêndios são as mesmas – a substituição da mata original por lavouras que geram lucros mais rapidamente, como é o caso dos grãos (soja e milho principalmente) em solo brasileiro. O comércio de madeira vem em primeiro lugar, claro. Ou seja, o que está por trás da destruição, lá e cá, é a ganância, o lucro capitalista, que, ao contrário do que tenta transparecer, não tem limites no seu horror ao humanismo. Sejam madeireiros, garimpeiros ou ruralistas, pouca diferença faz.

Eles precisam, acima de tudo, de governos afinados com seus ideais, como o que está no poder atualmente no Brasil. Mas é impressionante como essa gente parece agir globalmente, de modo que governos de extrema-direita com ideias antiambientalistas têm chegado ao poder em várias quadrantes do mundo, inclusive nessas partes onde esses recursos naturais ainda resistiam.

O mais intrigante disso é que, em vários lugares do mundo, essa ascensão tem ocorrido por meio de eleições diretas. Significa que essas forças reacionárias agem de modo organizado, controlando a grande mídia e usando a opinião pública a seu favor. A natureza dessa “opinião pública”, no entanto, demonstra a força de uma ideologia descomprometida, alienada, que toma conta das classes médias ao redor do mundo.

Além de esquecerem que a Humanidade precisa de organização e senso coletivo pra sobreviver, essas pessoas parecem ter perdido a noção da insignificância desse minúsculo planeta. E agem com arrogância diante das evidências de que efetivamente mudanças estão ocorrendo no clima na Terra e mostrarão seus efeitos sobre as futuras gerações.

A manifestação de milhões e milhões de pessoas em mais de 150 país, no último dia 20, não assusta nem contém a força devastadora desse modelo de sobrevivência em vigor. Só na Alemanha, 1,5 milhão de pessoas foram às ruas pedir a defesa do clima e da vida. No Brasil, jovens de mais de 50 cidades realizaram protestos significativos. Mas tudo parece em vão.

O que despertou grande parte da juventude global foi o gesto de uma adolescente da Suécia, que passou a ir todas as sextas-feiras pra diante do parlamento local com cartazes pedindo ações dos políticos em defesa do clima. Uma ação singela e solitária, mas que ganhou dimensão pela sua persistência e clareza.

A questão ambiental ganhou destaque da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), como era esperado. O discurso do presidente do Brasil, na abertura do evento, foi agressivo e contraditório, nada conciliador. Ao tratar da questão da Amazônia, ele acusou a mídia internacional de mentir a respeito do assunto, com “ataques sensacionalistas”, e negou o desmatamento e as queimadas.

Negando o que se conhece a respeito da devastação da região, ele disse textualmente que a “Amazônia permanece praticamente intocada” e citou a China várias vezes, de modo positivo, apesar de criticar o socialismo. Logo na abertura de seu discurso, ele diz que “o Brasil ressurge, depois de estar à beira do socialismo” Justificou a retirada de profissionais cubanos do programa Mais Médicos e criticou a Venezuela, sem mais nem menos.

O discurso, enfim, reflete a confusão, o desnorteio que vive o Planeta, num momento que se recomendaria clareza e verdade…

PLANETA SEM RUMO

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p style=”text-align: justify;”>Fonte: Facebook

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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