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Projeto Saúde & Alegria: Justiça Ainda que Tardia

Projeto Saúde & Alegria: Justiça Ainda que Tardia

O ano era 2019.  No dia 9 de agosto, uma nuvem de fumaça vinda das queimadas da Amazônia escureceu o céu de São Paulo no meio da tarde. Uma imensa “língua” de fuligem caiu sobre a capital do estado mais rico do país. 

Por Zezé Weiss

Era o resultado do “Dia do Fogo”, promovido por produtores rurais, sob a conivência ostensiva do governo do Coiso, em Novo Progresso, no estado do Pará, no sul da Amazônia.  Diante de um crescimento de 300% nos focos de queimada naquele ano, o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, negou o envio da Força Nacional de Segurança para apoiar o trabalho das brigadas de incêndio na região. 

Meses depois, em 29 de novembro, um incêndio criminoso consumiu cerca de 11 km2 de área protegida na região de Alter do Chão, distrito de Santarém, no sul do Pará. Dessa vez, o governo federal atuou com rapidez – para prender quem lutava contra o incêndio – quatro brigadistas do Projeto Saúde e Alegria, ONG com quase quatro décadas de um trabalho com reputação ilibada em defesa da Amazônia e dos Povos da Floresta.

Daí pra frente, foram quatros anos de intenso escrutínio sobre o Saúde e Alegria. De acordo com Caetano Scannavino, coordenador geral do PS&A, “foi a maior auditoria e fiscalização de uma ONG na história, com a apreensão e investigação de notas fiscais, contratos, livros, hard disks e notebooks contábeis, enfim, todo o nosso depósito de arquivos administrativos dos últimos 10 anos”. 

Agora, em abril de 2023, depois de cerca de oito mil documentos analisados, segundo o jornal Brasil de Fato, o Ministério Público do Pará arquivou o inquérito por não ter encontrado nenhum indício de fraude na documentação do PS&A. Este foi o segundo inquérito arquivado com relação ao mesmo caso. Em 2021, o Ministério Público já havia arquivado a acusação de que um dos membros da organização teria sido responsável pelo incêndio. 

Caetano Scannavino celebrou a conquista não somente do Projeto Saúde e Alegria, mas de todo o movimento social da Amazônia: “Se havia alguma motivação em criminalizar organizações da sociedade civil, o que se deu foi o contrário, com essas acusações infundadas resultando num certificado de excelência nas nossas contas. É mais uma comprovação de que ONGs são, sim, sérias”.

Ou seja, fez-se justiça, ainda que tardia. Longa vida ao Projeto Saúde e Alegria!

zeze 1Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Editora da Revista Xapuri. Foto: Divulgação.

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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