Querida Mãe de Copas
Céu azul, nuvens brancas a perderem-se na imensidão circular do infinito horizonte… E eu caminho entre lembranças, pisando em rosas secas, que ninguém se deu conta de sua beleza enquanto delas exalava o sopro perfumado da natureza…
Por Jairo Lima/via Cartas para Alice
Querida Mãe de Copas…
Tudo está tão quieto neste mundo de inquietudes que me cerca.
Olho ao redor enquanto caminho e, na visão escarlate que as janelas do mundo me apresentam o existir, vejo-me sozinha, onde, antes, muitos se imprensavam em acotovelamentos da existência diária. Ruas vazias, o não-existir em meio a existência…
No meu solitário passear vejo rostos em janelas, com olhos devorando-me em êxtase desenfreado de quem deseja a inquietude do existir, por não suportar o confinamento da existência num espaço e momento solitário de contemplação de si mesmo…
Será que estão se olhando no espelho, desejosos de atravessá-lo? Vontade estaque me domina a cada segundo em que pulsa meu existir, a cada gota de existência que flui do meu ser… Paredes amarelas, sons silenciosos escapam do balé involuntário das folhas que a suave brisa acaricia, e eu caminho entre poeiras e desolação da existência já irrefletida nesse espelho tosco, que todos acreditavam estar translúcido como águas de puro cristal, ao refletir a pureza solar da luz maior que a todos cobrem a cada dia
Estou sendo mórbida em meus pensamentos? Não creio! Talvez só um pouco sombria, mas, de que nos adiantaria a alegria que inebria, se acaso as sombras por vezes não nos tomassem a razão ou o espírito?
Céu azul, nuvens brancas a perderem-se na imensidão circular do infinito horizonte… E eu caminho entre lembranças, pisando em rosas secas, que ninguém se deu conta de sua beleza enquanto delas exalava o sopro perfumado da natureza…
Pessoas se veem e afastam-se, caminhando para a solidão imposta pelo medo… E eu caminho entre o torpor dos pensamentos distantes e a indiferença, como se estivesse diante de um grande mar infinito, a contemplar aquilo que não se vê, mas, se sente…
Algo presente, mesmo que intangível… Olho para cima e vejo os seres alados do mundo, voando e cantando suas melodias… E eu caminho entre mundos, sem saber em qual deles realmente existo…
Sei que minhas linhas ‘soam’ sem sentido aos teus olhos, mas, de que vale o sentido quando este não apresenta o que realmente queremos expressar?
Lembranças, de sua sempre e imperfeita…
Alice,
Primidi, mês de Prairial”
Jairo Lima – Indigenista, escritor e gestor do blog cronicasindigenistas
Alice: Imagem by Jairo Lima