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Quero ter esperança

Lucélia Santos: Que venha o Lula. Tenhamos Esperança!

Lucélia Santos: Que venha o Lula. Tenhamos Esperança!

Sempre tive curiosidade de entender por que nos sistemas autoritários a primeira coisa que se corta é o orçamento da cultura. Os primeiros a serem perseguidos e calados são os artistas. Somos nós que devemos ser transformados em seres inexpressivos…

Por Lucélia Santos

Eu gostaria de escrever sobre poesia, literatura, teatro, música, dança e tudo que envolve a criatividade e a imaginação. Mas nesse momento o que me vem à mente é a fome, a desigualdade, o desespero e o sofrimento de tantos brasileiros e brasileiras na atual conjuntura da nação.

Sempre tive curiosidade de entender por que nos sistemas autoritários a primeira coisa que se corta é o orçamento da cultura. Os primeiros a serem perseguidos e calados são os artistas. Somos nós que devemos ser transformados em seres inexpressivos.

Foi assim no nazismo e em todos os sistemas fascistas ao longo da história da humanidade. Nesse momento não é diferente no Brasil. A primeira coisa que Michel Temer fez logo após o golpe contra a presidente Dilma Rousseff foi fechar o Ministério da Cultura. Nunca vou me esquecer disso, foi a primeira canetada, o primeiro decreto que ele assinou. Resistimos.

Com a inexplicável eleição do atual mandatário – que eu me recuso a citar o nome pra não conferir a ele energia positiva – as coisas ficaram totalmente fora de controle.

Devido às fake news, as pessoas perseguem os artistas, demonizam a Lei Rouanet e tratam os artistas como ladrões, o que é uma inverdade cruel e uma grande mentira a ser esclarecida.

E o “ministro da cultura fulano de tal”, posta nas redes sociais fotos indecentes ao lado do filho do genocida ostentando armas. Esses sim, bandidos e milicianos.

Hoje, em função da pandemia e por causa do isolamento social obrigatório muitos artistas brasileiros passam por necessidades, pois não há trabalho e não há forma de trabalhar porque todas as atividades artísticas, ou pelo menos a grande maioria delas, depende de aglomeração, de público.

O teatro, o set de filmagem, os sets de gravação de TV, tudo depende de muita, muita gente. E como não se pode brincar com o coronavírus, não sabemos quando voltaremos a ter possibilidade de um equilíbrio de atuação ou da retomada das atividades artísticas.

Creio que forçar a barra para as pessoas irem aos teatros e ao shows significa levar as pessoas a correrem em risco de contaminação pela covid. Isso é uma grave agressão à sociedade.

Eu sou dessas pessoas totalmente a favor do lockdown desde quando o mundo inteiro entendeu que essa era a atividade essencial para contenção da pandemia, há um ano atrás.

O Brasil foi um dos únicos países a não fazer isso. Nunca adotou um único lockdown sério. Na última terça-feira, ouvindo o cientista Miguel Nicolelis, fui introduzida à consciência da terceira onda do vírus, que, com a cepa indiana que já chegou ao Maranhão, não sabemos onde tudo isso vai parar.

Enquanto isso a sociedade negacionista continua perpetuando o não uso de máscaras e os cuidados fundamentais de não aglomerar que deviam ser obrigatórios em respeito ao outro. Enfim, estamos numa situação muito delicada que vai exigir resiliência, resistência, criatividade e inovação.

Não sabemos minimamente quais serão as extensões e os desdobramentos da pandemia sobre a humanidade e sobre o nosso país.

A minha preocupação concreta nesse momento é com os milhões de brasileiros que não têm na cesta básica um alimento diário, nem a condição de alimentar suas crianças, nem a condição de ter as três refeições por dia.

Muita gente está passando fome, muita gente está passando necessidade, muita gente acorda sem saber se vai comer ou quando vai comer. Isso é de rasgar o coração.

Tendo em vista essa realidade, todo o meu universo mágico de construção sobre arte e criatividade e sobre o poder e a importância dos artistas da sociedade cai vertiginosamente ladeira abaixo em função da dura realidade do país.

Que venha o Lula. Tenhamos esperança!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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