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Racismo Ambiental: privatização do Saneamento afetará sobretudo a negros e pobres

Ambiental: privatização do afetará sobretudo a negros e pobres

Racismo ambiental: negros e pobres serão os principais afetados pela privatização do saneamento. No estado do Rio, o acesso ao abastecimento de água e ao saneamento básico são, respectivamente, 87,05% e 36,82 % pelo fluminense.

Por Andrea Matos

Com uma caneta também se mata. A privatização da água e do saneamento representa mais um método de eliminar o trabalhador e a trabalhadora, principalmente os negros e negras que têm menores salários. Muitos destes e destas desempregadas ou em ocupações precárias para garantir a sobrevida, sem a mínima de condição de garantir a alimentação, não terão como arcar com altas tarifas, caso a água seja encarada de vez como uma mercadoria.

A cidade do Rio de Janeiro foi palco da assinatura de documentos e tratados da Rio-92 e da Rio +20, marcos de proteção da vida, destacando a importância da água. Foram também eventos que geraram acúmulos para que no dia 28 de julho de 2010 a ONU declarasse o Direito Universal do Acesso à Água e ao Esgotamento Sanitário.

No estado do Rio, o acesso ao abastecimento de água e ao saneamento básico são, respectivamente, 87,05% e 36,82 % pelo povo fluminense, segundo relatório da auditoria independente da Cedae de 2018 (https://www.cedae.com.br/portals/0/ri_cedae/financeiras/demonstracoes_financeiras/demonstracoes_financeiras_padronizadas/DFP_2018.pdf). Apesar do alto índice de abastecimento de água, o grau de saneamento é muito baixo afetando principalmente os moradores de favelas e munícipios da Baixada e do Sul fluminense, a destacar São João de Meriti, que tem 0% de coleta de esgoto. Não é coincidência que nestes territórios a população é na sua maioria negra e pobre, caracterizando o que os ambientalistas classificam como o racismo ambiental. Esta é a prova concreta da estruturalidade do racismo, pois estes números não afetam os bairros de Ipanema e Leblon. Segundo a Drª. Iene Figueiredo, engenheira civil e doutora em Tecnologia de Saneamento Ambiental pela COPPE/UFRJ, “a forma real de mudar este cenário é aplicar a lei, principalmente aquela que trata do Saneamento Básico”. A engenheira citou em uma entrevista o marco popular do saneamento, de 2007, a Lei nº 11445 que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico (https://racismoambiental.net.br/2020/02/06/agua-potavel-a-insustentavel-situacao-do-saneamento-no-brasil-entrevista-especial-com-iene-christie-figueiredo/).

Em relatório da Firjan de 2017, a entidade mostra que a necessidade de investimento, com base nos dados do IBGE, do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), da Sabesp e do SNIS, era de R$ 20,148 milhões, onde: 13% na área de abastecimento de água, 39% na coleta de esgoto e 47% no tratamento de esgoto. Por que vender a Cedae, se o lucro líquido da empresa no relatório de auditoria supracitado foi de R$ 832,379 milhões e de R$ 1,1 bilhão em 2019 (https://www.fnucut.org.br/imprensa-se-cala-cedae-tem-lucro-de-mais-de-1-bilhao/)? Maximizando o investimento previsto pela Firjan em 300%, que foi o aumento da lucratividade da empresa nos mesmos três anos, o investimento necessário para a cobertura total dos serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto seria de R$ 80,592 milhões, menos de 10% do lucro líquido.  Como nos apontou a Drª. Iene, basta aplicar a Lei nº 11.445, que corre risco de ser sepultada se o Senado Federal, em meio a epidemia do , pautar o PL nº 4.162/2019 do poder executivo que tem como “principal retrocesso a inviabilidade de abastecimento de locais com pouca atratividade para a iniciativa privada, ao acabar com o subsídio cruzado, pelo qual áreas com maior renda atendidas pela mesma empresa financiam parcialmente a expansão do serviço para menores e periferias” (https://ondasbrasil.org/notas-esclarecem-como-projeto-que-privatiza-o-saneamento-causa-desestruturacao-do-setor/).

Por esta razão, em reunião com a bancada de senadores do Partido dos , a CUT Rio propôs denominar as ações futuras do como “Agenda Legislativa Antirracista”. Ainda solicitou empenho dos senadores na retirada da pauta deste de Lei do genocida Bolsonaro, que representa o joelho no pescoço, os 200 tiros no carro, o tiro na kombi, o tiro pelas costas dentro de casa, a queda do nono andar dos homens, e negras brasileiras.

#DigaNaoAoPL4162

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Uma resposta

  1. O termo justiça ambiental se derivou do racismo ambiental. Agora, alguns especialistas esqueceram disso, e não fala do racismo ambiental

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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