Rei morto, rei posto

Rei morto, rei posto

Rei morto, rei posto

Rei morto, rei posto. É assim, na esfera do poder. Convencido de que iria levar a melhor no pleito do dia 30 – afinal, foram despejados bilhões na compra de votos, como mostrou o jornalista Caco Barcelos (e quem não imaginava?), e montado um plano anunciado no último ano à exaustão, para a permanência no cargo a qualquer custo, à de um capitólio caipira, Bolsonaro tentou esticar a corda…

Por Denise Assis

Na falta do resultado esperado, fez propositalmente um vazio de 45 horas até se pronunciar de forma ambígua, de modo a dar para o seu exército de anjos caídos capengas tomar as estradas, atazanando a da população e revoltando o agro que é tech, é pop, mas é acima de tudo empresário, amigo do lucro e do bom fluxo de mercadorias escoando estradas afora. Somente o estado de Santa Catarina, computou – segundo dados da coluna do Ricardo Noblat –, R$ 36,8 milhões por dia de prejuízos no setor de aves e suínos.

Por fim, metido num figurino inadequado, à la Zelenski, (em que lhe faltava músculos para preencher a camiseta estilo “mamãe sou forte”), franziu a testa e vestiu o figurino de que mais gosta: o da vitimização. A referência a Zelenski era a composição para o personagem sitiado, isolado no seu bunker, a falar com os seus seguidores, um bando de fanáticos fascistas, dispostos a enfrentar trechos de estradas por uma causa perdida.  

Sabia, de antemão, que o seu teatro não o levaria a nada, mas preparava o terreno para uma saída “confortável”, garantindo casa, comida e roupa lavada, com a promessa de dar em troca o “poder” que julga ter amealhado para carrear para o seu partido, o PL, que veio em seu socorro. Como sempre, não vai entregar o prometido. Não tem determinação para a , não tem , e sua liderança dura o tempo de as famigeradas camisas amarelas irem da máquina ao varal.

Seus aliados se bandeiam para o governo que desponta. Até o general, pai do “orçamento secreto”, Luiz Eduardo Ramos, já se apresentou solícito ao vice-presidente eleito, Geraldo Alkmin, desmanchando-se em mesuras, ao seu estilo subserviente. E o seu trunfo, o governador eleito para São Paulo, Tarcísio de Freitas, em quem certamente pensou em agarrar-se, já fez movimentos de arredar a sua mesa para fora da ultradireita, pela qual se elegeu, deixando atrás de si o cadáver do Felipe Lima, jovem de 28 anos, morto da comunidade de Paraisópolis, que a mídia tradicional já esqueceu.  

Bastou que Tarcísio sorrisse e se mostrasse contra os bloqueios das estradas, para um comentarista já vê-lo como a promessa de uma “terceira via” vindoura, a ser montada com os cacos do que sobrou (?) do PSDB, e do rescaldo de pequenos partidos que os colegas acreditam se unirão para um “começar de novo”… Querem porque querem uma oposição civilizada para alimentar suas colunas e os vesperais televisivos.

Quanto ao chefe do capitólio caipira, fez o papel de sempre. Tal como no 7 de setembro de 2021, quando medrou ao ver que o fuzuê armado poderia, sim, vingar e resvalar para um golpe, de novo se trancou no closet da e deixou no sereno o seu exército de Brancaleone, a quem pediu desculpas, na live/bunker, sem deixar claro os motivos. Deveria ter confessado a sua inapetência e incompetência para o papel de líder, a sua inabilidade política, a sua personalidade “deprê”, e a sua eterna vocação para tirar o corpo fora e botar a culpa no primeiro que entrasse ali.

Sua triste figura vai sucumbir no ostracismo – finalmente –, assim que se vir sem mordomias, sem a turma de puxa-sacos em torno de si, sem o poder que reluta em deixar. Vai encarar intermináveis processos e, certamente, terá de acertar contas com a . E nem vou desfiar aqui a pilha de crimes a que responderá. Tomaria muito espaço.

Enquanto isto, inaugura-se uma era de dinamismo que começou hoje, com Lula já distribuindo tarefas e às voltas com uma agenda internacional portentosa, de deixar Bolsonaro enfiado debaixo da cama, de inveja.  O nome do quase ex encolhe nas páginas e telas, enquanto crescem as especulações em torno de tantos nomes ilustres a seu dispor, que Lula se verá em apuros para selecionar e distribuir os cargos existentes e os que serão criados. Já caminham céleres as agendas econômicas, ambientais e sociais, numa demonstração inequívoca de que governar é para quem tem apetite, talento e prestígio.  

Ah! Não se esqueçam de apagar as luzes das dependências da sala presidencial até 1 de janeiro. Pelo visto, atividades lá só com a volta de Lula ao posto.   

 

Denise Assis – Jornalista e mestra em . Integrante do Jornalistas pela Democracia. Matéria publicada originalmente no 247: https://www.brasil247.com/blog/rei-morto-rei-posto.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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