Salvem as frutas proibidas
Em um belo momento de sua existência na imensidão do universo, um ser sobrenatural decidiu dar vida a sua imaginação e em sete dias criou todas as coisas que há no planeta. O céu, a terra, o mar, os animais, as plantas, um homem e uma mulher….
Por Geisa Peixoto
Com apenas um gesto, ingênuo talvez, as criaturas humanas desalinharam todo o sistema cósmico. Desde então estamos sofrendo as consequências. Sim, estou falando da intervenção humana na natureza, que teve início quando alguém lá atrás comeu a fruta da árvore proibida.
Desse dia em diante uma guerra foi instalada entre o homem e o verde do mundo. As intervenções não pararam ali. Continuaram de formas mais intensas. Tudo começou tirando uma fruta. Depois uma folha. Depois um galho. Até que um dia começou a ter homens e mulheres demais e as árvores começaram a ser arrancadas, queimadas e extintas para darem espaços a construções.
Chegando aos dias atuais, segundo o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas, o desmatamento teve um aumento de 20% em 2021. Segundo os dados, o país perdeu 16.557 km² de vegetação nativa em todos os biomas. Entre os responsáveis por essa perda, estão a agropecuária, o garimpo, a mineração e a expansão urbana.
Aristóteles dizia que a natureza não faz nada em vão e a prova disso foi o dia em que o Bio Arquiteto e urbanista Filemon Tiago, foi enviado a esse mundo com a inteligência que Paul Atson defende: habilidade das espécies para viver em harmonia com o meio ambiente.
Foi fazendo compostagem ao lado da mãe que Filemon aprendeu a importância de se respeitar os verdes dessa terra. Os ensinamentos que recebeu ainda criança o acompanharam até a faculdade de arquitetura, quando ele começou a juntar a paixão pelas construções e o amor pelas cores da natureza.
O anseio por mudanças na forma como os seres humanos tratam a natureza fez com que Filemon e outros companheiros defensores do meio ambiente, criassem a Organização Não Governamental “Arquitetura Viva”.
O projeto tem o objetivo de construir casas para pessoas em situação de vulnerabilidade a partir da Bioconstrução, o que também ajuda na preservação da natureza. A Bioconstrução é uma técnica usada pelos povos antigos que visa diminuir os impactos ambientais criando sistemas alternativos para o tratamento dos resíduos.
O Bio arquiteto acredita que a bioconstrução deve ser popularizada para que o impacto ambiental causado por técnicas comuns de construção seja diminuído, uma vez que na bioconstrução não é necessário o uso de ferros, cimentos e os tijolos são substituídos por adobe (tijolos de terra).
Com foco em pessoas de baixa renda, Filemon acredita que além de sustentável, a bioconstrução também se torna uma opção acessível para essas pessoas, pois os materiais utilizados podem estar em seus quintais.
Assim como aprendeu com sua mãe, Filemon também visa, por meio de seu projeto, formar profissionais e atender um mercado em expansão, ensinando comunidades, estudantes e profissionais de arquitetura e engenharia a como construir sem agredir o meio ambiente.
O “Arquitetura Viva” é mais que um projeto. É uma expectativa de preservar as frutas proibidas, as folhas e as árvores. Para que em um futuro não tão longe, as próximas gerações possam escrever seus relatos e histórias, com um outro olhar. Um olhar de quem aprecia e desfruta das belezas de lindos campos com mais flores e bosques com mais vida.