SAUDADE: PRESENÇA QUE FICA 

SAUDADE: PRESENÇA QUE FICA 

SAUDADE: PRESENÇA QUE FICA 

Sou pessoa mais afeita às letras lidas, que às escritas. Terei para sempre um sentimento de gratidão e carinho pelo Athos que nenhuma palavra minha poderia alcançar.

Heloísa Ramos 

Conviver com o Athos Pereira só fez aumentar a minha admiração pela sua pessoa. Aprendi muito nessa convivência.

Pedro Henrique Mendes Ferreira, Pedrão

Athos Pereira marcou muito a minha vida, seja na juventude, em Porto Nacional, ou depois, em Goiânia. A despedida dele fez revigorar em mim boa parte da nossa convivência.

Raimundo Rodrigues Bezerra, Dico

Vou me lembrar sempre da nossa caminhada, andando por este estado de Goiás, quando o Tocantins ainda estava por vir. Uma caminhada de construção de sonhos, da luta por um mundo melhor, que foi a base de sua vida. Vou me lembrar sempre do seu humor irônico, das reflexões e do seu jeito de fazer-história com seus parceiros e parceiras de luta. 

Ceser Donisete 

O Rio Tocantins, que margeia Porto Nacional, acolheu os retirantes nordestinos,

pais de Athos Pereira e, de uma forma simbólica, recebe suas cinzas, trazendo de volta suas memórias e histórias de lutas e resistência. Athos contribuiu de forma expressiva na produção teórica e na formação ideológica de militantes e dirigentes do PT. Pessoalmente, vivenciei grandes momentos com Athos Pereira na defesa e garantia dos direitos dos trabalhadores rurais, na organização da agricultura camponesa e na luta pela reforma agrária. Seus pensamentos e ideias eram expostos com leveza e bom humor, assim como ele era em suas relações sociais. Às vezes, com ironia sutil nos embates com os adversários. O convívio com o mestre me proporcionou uma gama de conhecimentos e riqueza intelectual que trago para toda minha vida.  

Isidoro Revers, Galego

Saudade do meu amigo Athos Pereira, dos quase 30 anos de uma amizade sólida. Do amigo que me ajudou em tempos difíceis, que comemorou comigo nas horas boas; que chegava na Liderança descabelado e abaixava a cabeça pra Simone ou eu pentearmos o cabelo dele. Dos nossos almoços no Francisco às quintas-feiras com o também saudoso amigo Moacyr, gesto solidário do Athos que surgiu quando me separei, meu ex-marido ia almoçar com as filhas, e eu não tinha companhia. Por muitos anos, seguimos o mesmo ritual: sentávamo-nos sempre na mesma mesa, comíamos marreco. O garçom sempre trazia o Red Label do Athos com duas pedras de gelo, a caipiroska de lima do Moacyr e uma coca zero pra mim que, claro, era quem dirigia. O Athos não tinha religião e eu sou protestante e da turma da oração. Quando a coisa foi apertando, ele me ligava e falava nas entrelinhas pra eu orar por ele. Já bem doente, sem poder falar, eu disse pra ele: você pode não acreditar o quanto quiser, mas eu oro por você o tempo todo. Ele apertou a minha mão bem forte e do seu olho caiu uma lágrima. Foi nossa última interação consciente. Meu amigo deixou um legado de muita sabedoria, amizade e companheirismo. 

Lúcia Pedroso

Uma certa noite, ao chegar na quadra 107/108 Norte do Plano Piloto para um encontro com amigos no Bar Beirute, estacionei numa vaga do outro lado da rua, na frente de outro bar, com mesas esparramadas pela calçada. Numa delas estava o Athos Pereira e, no centro da mesa, uma majestosa garrafa de whisky. Estranhei e, diante do whisky, falei da minha surpresa, visto que há pouco tempo havia feito uma cirurgia cardíaca. A resposta veio na lata: “Mas eu não nasci para ser eterno!” Assim era o meu companheiro Athos Pereira. Conversar com ele era como embarcar numa nau que variava de portos a cada instante. Os assuntos mudavam, mas o conhecimento e o entusiasmo com que falava dos múltiplos temas, denotava, sempre, a constatação de que ele sabia muito bem do que estava falando. E do que fazia. Deixou a sua marca. E virou eterno em nossas mentes. 

Mauro Di Deus

Athos foi viajar o mundo a partir das águas do Tocantins. Se navegar é preciso, imagina poder navegar livremente, com tantos deveres cumpridos, tantas sementes lançadas, tantas missões finalizadas. Eu conheci o Athos em uma palestra sobre Reforma Política, no auditório da Prefeitura de Formosa. Sua fala de mestre, reflexiva e certeira, me encantou. E mestres transformam vidas. Eu sou fruto de um dos seus sonhos: o PT ter representação na Câmara Municipal. Nessas eleições de 2024, dobramos o nosso número na Câmara e, dali, defenderei o que meu mestre Athos sempre nos ensinou: ética, igualdade e justiça social. Obrigada por ter tanta paciência e generosidade para nos ouvir, nos instruir, nos orientar e sonhar junto com todos e todas nós, um outro mundo possível. Gratidão também pela honra de ter você e a Thais como nossos padrinhos de casamento. 

Nilza Cristina 

Athos Pereira, amigo querido, companheiro de andanças boas, irmão de sonhos, alvoradas e construções. Percorreu muitas estradas e, em todas elas, foi plantando sementes boas e fortes. Teve como última jornada uma sofrida batalha contra um câncer que, finalmente, o venceu. Contudo, serviu para pôr à prova a força, a tenacidade, a indestrutível capacidade de luta e o gosto pela vida deste guerreiro. Agora, de volta ao Tocantins, seu rio querido, em cujas águas suas cinzas foram espalhadas, navega, tal como sonhava, rumo à pátria comum de todas as pátrias: o mundo fraterno da solidariedade! Sou grato ao Athos não só pela amizade sólida que cultivamos, mas sobretudo pelo aprendizado de vida e, especialmente, da alegria na luta. Reflito sobre os últimos meses no hospital, sobre nossas conversas e as perspectivas dele de como continuar a luta, imaginando o impossível, recuperar sua saúde… Até nos últimos momentos, continuava ali o guerreiro, dono de um coração generoso e de uma inabalável certeza: a vida e a luta valem a pena! Mesmo no leito do hospital, com as forças faltando e já não conseguindo falar, como resposta ainda nos sorria, mesmo que levemente. Essa é a lembrança mais bonita que vou guardar da nossa última conversa. 

Neilton Araujo de Oliveira

A gente se conheceu em 2000, na liderança do PT.  Athos era o chefe de gabinete e eu a recepcionista. Logo, nossa convivência deu liga, ele sempre me pedia as informações e eu as levava para ele rapidamente. A confiança foi aumentando e a nossa amizade também. De repente, eu já fazia parte do petit comité formado por ele, Lúcia Pedroso e Moacyr, que iam às quintas-feiras ao restaurante Dom Francisco almoçar e bater um papo sobre tudo que estava acontecendo. Eu sempre ficava deslumbrada ouvindo o Athos falar. Lembro-me particularmente de um episódio em que ele fez um discurso para o Aloízio Mercadante, na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Depois de pronto, Mercadante leu o discurso e falou: “pena que o orador não está à altura do autor do texto”. Quantos foram os deputados que usaram as palavras de Athos Pereira em seus discursos, em notas e artigos para jornais, quantos?! Minha admiração só cresceu ao longo dos anos, o carinho que sempre fez parte da nossa amizade se transformou em algo que eu não tinha mais em minha vida: a figura de um pai. Athos entrava na liderança com os cabelos bagunçados, e eu sempre ia com uma escova para pentear. Com o tempo, ele já adentrava a liderança e, ao passar pela minha mesa, que era antes da dele, abaixava a cabeça para eu pentear. Só eu conseguia achar os documentos na mesa dele, ajudava na hora de fazer pesquisas e por aí vai. Eu cuidava dele como se fosse meu pai, e ele agia comigo como se eu fosse filha dele. Às vezes, quando a Thais ia visitar a mãe dela em Goiânia, ele me chamava para almoçarmos juntos aos domingos. A cada encontro, eu voltava admirada para casa, pensando: “caramba, o Athos é muito mais que um Google”. Quantos momentos maravilhosos passamos juntos. A entrega da medalha do mérito legislativo teve dedo meu e do Gustavo Cordeiro; acho que Athos ficou feliz. Teve fila de líderes para conseguir entregar a medalha e, naquele dia, pensei: “acertamos em cheio ao indicar o Athos”. Aquela medalha era só uma pequena homenagem para alguém tão grandioso como ele. Como escrever algo sobre você depois da sua partida? Difícil, né? Ainda mais para mim, uma chorona. Já são quase três meses que você nos deixou e a saudade está cada vez maior. Penso em você e choro; ainda está muito difícil aceitar que você não está mais aqui, que não vou mais te ver, conversar, sorrir, falar sobre política, te contar os acontecimentos do Congresso Nacional, passear pelo seu jardim, falar sobre a seca e comemorarmos a chegada da chuva, falar sobre as aventuras dos seus cachorros, sobre o Botafogo, seu time do coração. Sua ausência é sentida em cada lembrança, em cada conversa e gesto que compartilhamos. Te amo para sempre, meu comandante, meu pai e meu amigo. 

Simone Fagundes

Não pude conhecê-lo profundamente, mas algumas de suas características eram marcantes: a lealdade aos amigos, o bom gosto musical. O Athos era o meu único aluno que gostava de treinar com músicas clássicas, aprendi a gostar de Vivaldi por sua causa. Sempre com o seu humor ácido, Athos fazia piadinhas inteligentes e sarcásticas durante as aulas, se o exercício era muito difícil ele me perguntava onde estava a minha misericórdia cristã. Tantas coisas para admirar! Athos está sendo lembrado por nós e está sendo lembrado com saudade, alegria e muito amor. Obrigada pelo privilégio de te conhecer e de estar por perto nessa reta final. Fui ensinada diariamente a praticar um amor puro e incondicional ao apenas observar todos a sua volta, principalmente a Thais. Seja sempre celebrado, querido Athos. 

Talita Cagnoni

Meu querido amigo de última hora. Me atrevo a chamá-lo de amigo e de querido, pois, apesar do pouco tempo de convívio, muitas lições eu tive ao estar com você e Thais em seus últimos dias. Por vezes você só podia me oferecer um sorriso e poucas palavras, em outros momentos um ímpeto pela vida te fazia tentar levantar e, com um olhar determinado e sisudo, mostrar toda a sua disposição em continuar lutando. Em outros dias, só tínhamos a sua presença num sono tranquilo, como quem queria descansar. Obrigado por nos deixar estar por perto até onde nos foi possível. Compartilhei sorrisos, ri de histórias, contei outras, pude oferecer uma massagem e conforto quando suas forças já não estavam lá para acompanhar a sua coragem, ou mesmo apenas para oferecer uma mão amiga em momentos silenciosos, mas cheios de significado. Na breve vida que temos nesse mundo, às vezes nos encontramos com pessoas que nos fazem tê-las com muito gosto em nossa memória e corações, mesmo que seja como um gol aos 45 minutos do segundo tempo. Athos, você será responsabilizado eternamente – como diria o Pequeno Príncipe – pelo que cativou em mim. Do seu amigo de última hora. Um abraço e até breve. 

William Carvalho 

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

REVISTA