SEMANA CHICO MENDES CELEBRA MEMÓRIA, RESISTÊNCIA E DIREITOS HUMANOS NO ACRE

Semana Chico Mendes celebra memória, resistência e direitos humanos no Acre

Entre os dias 15 e 22 de dezembro, Xapuri (AC) recebeu mais uma edição da Semana Chico Mendes, evento que marca o nascimento e o assassinato do líder seringueiro e símbolo da luta socioambiental

Por Marcos Jorge Dias

A programação reuniu atividades culturais, políticas e de memória, reafirmando o legado de Chico e dos trabalhadores da floresta.

Organizada pelo Comitê Chico Mendes, presidido pela filha Ângela Mendes, a Semana busca manter viva a história dos empates e da resistência dos seringueiros, liderados por Wilson Pinheiro, Chico Mendes e tantos outros que não ganharam notoriedade.

Prêmio Chico Mendes de Resistência

Um dos pontos altos foi a entrega do Prêmio Chico Mendes de Resistência, que reconhece pessoas e instituições que se destacaram na defesa do meio ambiente e da justiça social. Na edição 2025, os premiados foram:

• ​Ativismo nas Redes: Célia Xakriabá

• ​Personalidade: Daniel de Souza

• ​Jovem Liderança: Matheus Silva

• ​Relevância Institucional: Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil

• ​Povos Originários e Comunidades Tradicionais: Associação de moradores da Reserva Extrativista da Prainha (CE)

A deputada federal Célia Xakriabá emocionou o público ao entoar um canto dos povos originários e denunciar, em discurso potente, desde os massacres da colonização até os atuais índices de feminicídio no país.

Memória e emoção

Além das premiações, a Semana foi marcada por momentos de celebração e emoção: bolo pelos 81 anos de Chico, reencontros de amigos, caminhada até o túmulo do patrono do meio ambiente e homenagens feitas por pessoas históricas como Gomercindo Rodrigues e o padre Luiz Ceppi.

50 anos do STR de Brasileia

A programação incluiu também a comemoração dos 50 anos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia (STR), segundo a ser criado no Acre. O sindicato ganhou relevância por ter Wilson Pinheiro, presidente e Chico Mendes, secretário-geral, ambos assassinados por liderarem o movimento contra o desmatamento para a implantação da pecuária na região.

O seringueiro Osmarino Amâncio relembrou os empates e criticou a falta de avanços estruturais durante os governos do Partido dos Trabalhadores no Acre. Também destacou o papel pioneiro de Valdiza Alencar, primeira mulher a romper barreiras no sindicato. Hoje, a história de Valdizaintegra exposições comunitárias sobre Chico Mendes em diversas localidades. Atualmente, o STR de Brasileia segue como referência, presidido por Francisca Bezerra dos Santos, primeira mulher a ocupar o cargo.

Direitos Humanos e Justiça Climática

O encerramento da Semana será marcado por uma roda de conversa sobre Direitos Humanos e Justiça Climática, em celebração aos 77 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A atividade, promovida pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular do Acre (CDDHEP/AC) em parceria com o Comitê Chico Mendes, reunirá defensores, seringueiros, extrativistas e povos indígenas em vigília às 18h – hora em que Chico foi assassinado – para reafirmar direitos e fortalecer a proteção dos territórios.

Capa: Alexandre Noronha

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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