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Sobre a vida e as gentes

SOBRE A VIDA E AS GENTES NA VIDA DA GENTE

Sobre a e as gentes na vida da gente
 
Viagem de aplicativo, mais cedo. No “boa tarde”, percebi que ele não era brasileiro.
 
Por Marcelo Abreu 
 
Certamente d’além-mar. Tb vi que não era o português lusitano. “Sou de Angola, nasci e fui criado em Luanda.”
 
Segui querendo saber mais. “Conheci a minha pela Internet. Vim conhecer o Brasil e decidi que aqui era o meu lugar.”
 
dez anos, Domingos, 40, que fala português e inglês, mora arredores do Entorno goiano. Mora em Valparaiso (GO), 35km de .
 
Aqui nasceram as duas filhas. “São brasileiras”, diz, cheio de orgulho.
 
Trabalhou em supermercados. Há seis, virou motorista de aplicativo. “Eu gosto. Aqui, mantenho a minha família”.
 
Pergunto se ele conhece Portugal, destino primeiro de muitos africanos, principalmente os angolanos: “Não, nunca fui nem tenho vontade.
Acho o português não muito simpático”.
 
Por quê? “Talvez pela história, o passado. Até o português que falam é muito diferente do nosso.”
 
Pergunto se ele teve dificuldade com o português do Brasil. “Não, acho mais fácil de entender.
 
O falar lusitano é mais complicado, mais formal. Aqui é menos formal. Entendo melhor o brasileiro do que o português.”
 
Chegamos ao meu destino. Pergunto se posso fazer uma foto dele. Prontamente, deixa. Agradeço.
 
Ao sair, ele me diz: “Tu foste o único passageiro que quis saber sobre a minha vida”.
 
Agora, o perguntador inverteu-se: “Tu fazes o quê? Estás a perguntar coisas para o teu trabalho?”
 
Respondi: “Eu só gosto de ouvir histórias. Só isso”.
 
Ele, talvez, tenha ficado meio sem entender. Nos desejamos boa .
 
A vida pode estar numa corrida de aplicativo. Quase sempre, no improvável.

SOBRE LUANDA 

Luanda OTE é a capital e a maior cidade de Angola. Localizada na costa do  Atlântico, é também o principal porto e centro económico do país. Constitui um município subdividido em seis distritos urbanos e é também a capital da província homónima. Foi fundada a 25 de Janeiro de 1576 pelo fidalgo e explorador português Paulo Dias de Novais, sob o nome de “ da Assunção de Loanda”.
Tinha, em 2018, uma população de aproximadamente 2,5 milhões de habitantes dentro dos seus limites administrativos, enquanto a área urbana contava com 7,7 milhões, tornando-a na terceira área urbana lusófona mais populosa, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.
As indústrias presentes na cidade incluem as de transformação de produtos agrícolas, produção de bebidas, têxteis, cimento, recentemente fábricas de montagem de carros, materiais de  construção, plásticos, metalurgia, cigarros e sapatos. O petróleo, extraído nas imediações, é refinado na cidade, embora a refinaria tenha sido várias vezes danificada durante a guerra civil que assolou o país entre os anos de 1975 e 2002. Luanda possui um excelente porto natural, sendo as principais exportações o café, algodão, açúcar, diamantes, ferro, sal, cobre, ouro, trigo e milho.
Com um perfil extremamente cosmopolita, os habitantes de Luanda são, na sua maioria, membros dos grupos étnicos ambundos, congos e ovimbundos, existindo frações relevantes de todas as origens étnicas angolanas.
Existe uma população de origem europeia, constituída principalmente por portugueses, estimada em cerca de 400 mil pessoas. Há também uma importante comunidade chinesa estimada em 67 mil.
A oficial e a mais falada é o português, sendo também faladas várias línguas africanas. Luanda foi a principal cidade a acolher os jogos do Campeonato Africano das Nações 2010.

Angola bandeira
Bandeira de Angola – país da região da África Central. Foto: Brasil

Etimologia

A cidade ganha o nome através da sua ilha (Ilha de Luanda), local onde os primeiros colonos portugueses se radicaram. O topónimo Luanda provém do étimo lu-ndandu. O prefixo lu, primitivamente uma das formas do plural nas línguas bantas, é comum nos nomes de zonas do litoral, de bacias de rios ou de regiões alagadas (exemplos: Luena, Lucala, Lobito) e, neste caso, refere-se à restinga rodeada pelo mar. 
Ndandu significa valor ou objeto de comércio e alude à dos pequenos búzios colhidos na ilha de Luanda e que constituíam a moeda corrente no antigo Reino do Congo e reino do Ndongo em grande parte da costa ocidental africana, conhecidos por zimbo ou njimbo.
Como os povos ambundos moldavam a pronúncia da toponímia das várias regiões ao seu modo de falar, eliminando alguns sons quando estes não alteravam o significado do vocábulo, de Lu-ndandu passou-se a Lu-andu. O vocábulo, no processo de aportuguesamento, passou a ser , uma vez que se referia a uma ilha, e resultou em Luanda.
Outra versão para a origem do nome refere que o mesmo deriva de “Axiluandas” (homens do mar), nome dado pelos portugueses aos habitantes da ilha, porque quando aí chegaram e lhes perguntaram o que estavam a fazer, estes responderam “uwanda”, um vocábulo que em quimbundo designava trabalhar com redes de pesca.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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