Trombas: A Guerrilha de Zé Porfírio

Trombas: A Guerrilha de Zé Porfírio

Em meados de 1950 explodiu no meio-norte do de Goiás, na vasta região que hoje corresponde aos municípios de Formoso, Santa Tereza, Porangatu, Estrela do Norte, Mara Rosa e Uruaçu, um dos mais importantes movimentos sociais do , chamado “revolta do Formoso” ou “revolta de Trombas”.

Por Janaína Amado

Esta área, ocupada desde o século XVIII em decorrência da mineração, mas logo depois abandonada devido à decadência do ouro, permaneceu isolada durante cerca de 300 anos. Renasceu apenas em meados do século XX, quando começou a se configurar como agrícola, como ponta de lança da ocupação do território nacional rumo ao Norte.


 


Alcançada no final de 1940 por uma estrada de rodagem, desde essa época a área passou a comercializar sua crescente produção, a ter um urbano mais acentuado e a conhecer uma inédita valorização de suas terras.

Na década seguinte, nos anos 50, todas essas transformações ampliaram-se e aprofundaram-se, com a construção de Brasília e da rodovia Belém-Brasília, a qual cortou a região, integrando-a definitivamente aos circuitos econômicos nacionais.

Interessados nos lucros que poderiam obter com a valorização fundiária do meio-norte goiano, vá comerciantes e proprietários rurais, secundados por advogados e juízes, promoveram a grilagem da imensa quantidade de terras devolutas existentes na região, dessa forma apropriando-se de terrenos que legalmente pertenciam ao estado de Goiás.

O MOVIMENTO DE ZÉ PORFÍRIO

O conflito social explodiu quando os milhares de posseiros que habitavam as terras devolutas, e que para lá haviam migrado exatamente na de vir a se tornar pequenos proprietários, não aceitarem ser expulsos pelos grileiros.

Uniram-se, sob a liderança do camponês José Porfírio de Souza e com o apoio do Partido Comunista, organizaram-se, enfrentaram e venceram vários combates contra as forças particulares dos grileiros e contra a polícia.

O movimento cresceu, tornou-se forte, recebeu o apoio de grande parte da população goiana e da nacional, transformou-se em um fato político. Vitoriosos, os posseiros permaneceram nas terras, e alguns, depois da eleição de Mauro Borges para o do Estado de Goiás, receberam os títulos definitivos de propriedade.

Nos anos de paz, após os combates, os posseiros souberam aperfeiçoar em Trombas uma organização social sui generis na qual toda a comunidade participava das decisões importantes relativas à sua vida, gerindo seu próprio destino segundo normas que lhe pareciam justas.

Após 1964, a área sofreu intervenção, muitos líderes foram perseguidos e presos e vários camponeses se viram obrigados a abandonar a região.

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TROMBAS

O movimento social de Trombas tem grande importância na história recente do Brasil por vários motivos.

Envolveu grande número de pessoas – milhares de camponeses lutaram na região –, perdurou por longo , por mais de uma década, demonstrou o potencial de luta dos sem-terra no Brasil, expressou de maneira clara o projeto social dessa grande parcela da população , composta pelos posseiros, e antecipou a trágica sucessão de conflitos sociais em torno da terra nas áreas de fronteira agrícola, que hoje marca profundamente a história brasileira.

Trombas constituiu-se um alerta para os defensores da manutenção da atual estrutura fundiária e um alento para os que desejam mudar essa mesma estrutura.

Janaína Amado – Pesquisadora, excerto do prefácio do livro Trombas: A Guerrilha de Zé Porfírio, de Sebastião de Barros Abreu, 1985.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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