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Um rico polui tanto o mundo quanto 66 pobres, diz Oxfam

Um rico polui tanto o mundo quanto 66 pobres, diz Oxfam

Todas as emissões do 1% mais rico tinham potencial para provocar a morte de 1,3 milhão de pessoas, devido ao calor decorrente do efeito estufa

Por André Cintra/Portal Vermelho

“Porcos num chiqueiro são mais dignos que um burguês”, afirmou Cazuza na letra de Burguesia. O relatório “Igualdade Climática: Um Planeta para os 99%”, divulgado na segunda-feira (20) pela organização não governamental Oxfam, é uma amostra dessa indignidade da parte mais rica da população global. Na realidade, dos 77 milhões de homens e mulheres que estão no grupo do 1% mais rico do mundo.

De acordo com o relatório, essa minoria abastada responde por 16% de toda a emissão de dióxido de carbono (CO2), um dos gases causadores do efeito estufa. Eles emitem uma quantidade similar à de nada menos que 5 bilhões de pessoas – ou 66% da população do Planeta – que estão na outra ponta, a dos mais pobres. Os dados foram aferidos em 2019.

A Oxfam aponta que, se um rico polui tanto o mundo quanto 66 pobres, as principais razões são os impactos das indústrias poluentes e o estilo de vida incompatível com qualquer responsabilidade ambiental. “É inaceitável que o 1% mais rico continue liderando o mundo ladeira abaixo para um colapso planetário – e quem vem sofrendo o impacto dos danos dessa viagem é a maioria da população”, afirma, em nota, Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

Todas as emissões do 1% mais rico em 2019 tinham potencial para provocar a morte de 1,3 milhão de pessoas, devido ao calor decorrente do efeito estufa. “São bilhões de pessoas impactadas por enchentes, secas, perdas de território, aquecimento e baixa de temperatura desproporcional, problemas de saúde e pobreza”, agrega Katia.

Para a Oxfam, medidas como a transição para um mundo sem combustíveis fósseis, a taxação maior dos super-ricos e o cumprimento das metas climáticas pelas nações estão entre as saídas para a crise. A executiva da Oxfam indica uma inevitável “conexão entre o excesso de riqueza e o colapso climático”, o que reforça a demanda por uma tributação diferenciada.

“Está passando da hora de os super-ricos serem taxados mundialmente. É uma forma de levantar recursos para enfrentar de maneira mais eficaz as mudanças climáticas e as desigualdades – e a sociedade deve se mobilizar e pressionar os governos para que essa taxação ocorra”, diz Katia. “Sociedades economicamente mais igualitárias são vitais para enfrentar desigualdades como gênero, raça, religião e casta.”

Max Lawson, um dos autores do relatório, corrobora essa visão. “Quanto mais rico você for, mais fácil será reduzir as emissões pessoais e de seus investimentos. Você não precisa daquele terceiro carro, ou daquelas quartas férias, ou não precisa investir na indústria de cimento”, afirma.

O relatório da Oxfam ganha força diante da iminência da COP28, a cúpula do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), que ocorre em Dubai, na próxima semana. “A menos que os governos adotem uma política climática progressiva, em que seja pedido que as pessoas que mais emitem façam os maiores sacrifícios, nunca vamos conseguir uma boa política a respeito do tema”, conclui Lawson.

Fonte: Portal Vermelho Capa: Reprodução

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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