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VERDE E AMARELO DO POVO E PARA O POVO

Verde e Amarelo do povo e para o povo: Retomar nossa bandeira, é preciso! 

Eleito em 2018, em seu governo (2019-2022), o agora inelegível ex-presidente da República impôs um novo – e nefasto – jeito de fazer política.

Por Arthur Wentz e Silva

Uma abordagem próxima dos regimes autoritários da extrema-direita e um flerte intenso com o fascismo o fizeram líder de uma massa de reacionários e de reacionárias.

A implantação de uma ideia deturpada de patriotismo e a deliberada apropriação indevida dos símbolos nacionais serviram de ferramenta para a construção de uma liderança que representasse tudo de mais horroroso na sociedade: o preconceito, a violência, a burrice e a ofensa escancarada à democracia.

Resultado disso? Quatro anos de extremo desrespeito com o Brasil e seu povo. Com o passar do tempo, abaixou-se a cortina e escancarou-se um “patriota” que saudava, em continência, a bandeira estadunidense.

De forma horrenda, a extrema-direita, para além de polarizar o país, colocou-nos em uma lógica de disputas incansáveis entre nós mesmos. Com um repertório raso, notícias falsas e tantas outras armadilhas discursivas, o movimento bolsonarista tomou de assalto os símbolos nacionais e tenta impor a narrativa de que o seu pensamento representa o de toda a nação brasileira.

A história, no entanto, não perdoa covardes. O esperançar – do verbo freiriano – impôs uma agenda significativa para a militância da esquerda brasileira: reapresentar o Brasil ao seu próprio povo. 

Abraçando-se ao ideal rebelde da rebeldia plena de causa, na campanha eleitoral passada, defensores e defensoras da democracia bateram de porta em porta, vestindo as cores verde e amarelo e com estrelas do PT no peito para, com muita consciência de classe, eleger de novo Lula Presidente.

Em uma esperança equilibrista, o Brasil abraçou Lula justamente por acreditar em um novo amanhã, com manhãs de sol e esperança. Abraçaram não apenas o símbolo, mas um projeto popular de reconquista do país.

A vitória nas urnas apresentou um cenário de possibilidades e implementou o início de um processo importante para a sociedade brasileira: a unificação e o fim do discurso polarizante, ainda vigente em nosso país.

TENTATIVA DE GOLPE: PATRIOTA EMBARCA NESSA?

Sem sombra de dúvidas, a tentativa de golpe no dia 8 de janeiro de 2023 exemplifica tudo que representa o bolsonarismo no que diz respeito à História do Brasil. As imagens revelam-se como um show de horrores.

Originais da nossa Carta Magna atacados; presentes recebidos de diversos países, patrimônio da União, roubados; quadros e tantos elementos de memória destruídos.

Fora isso, a negligência no enfrentamento dos e das golpistas e os achados da operação, caso da minuta golpista na casa de Anderson Torres, mostram uma tentativa orquestrada de golpe de Estado.

Ora, como o patriotismo destrói seus próprios símbolos? Como ousam atacar de forma tão mesquinha a democracia, cuja conquista estampa-se no DNA de companheiros e companheiras ousados/as, perseguidos/as, torturados/as, desaparecidos/as e assassinados/as em defesa da democracia?

A resposta foi imediata: o Estado brasileiro não se curvou à covardia golpista. Lula, com representantes do Congresso e STF, imediatamente se moveram para compreender os estragos e resgatar o que foi destruído. Ali, a soberania de um Estado Democrático de Direito se mostrou ainda mais forte com a vitória do campo da esperança.

MADONNA, PABLLO VITTAR E PARADA LGBTQIA+

Em show recente no Rio Janeiro, Madonna e Pabllo Vittar, vestidas, lavaram a nossa alma. Envolvendo seus corpos com a bandeira do Brasil, Madonna e Pabllo realizaram, na prática, a retomada de nossas cores nacionais.

Depois do show da Madonna, o Brasil não foi mais o mesmo. A reconquista do verde-amarelo tornou-se uma prática diária dos movimentos sociais no Brasil.

Dada essa influência, a Parada do Orgulho de São Paulo, maior palco LGBTQIA+ do planeta Terra, inaugurou, em São Paulo, no dia 2, o mês da diversidade com as cores da bandeira e o sentimento de pertencimento e de unidade.

A 28ª Parada do Orgulho LGBTQIA+ consolidou um debate muito importante e reafirmou o papel popular de resgate de símbolos outrora roubados pela extrema-direita.

Pabllo Vittar foi responsável por convocar a comunidade. A justificativa da artista foi simples e convincente: fazer brilhar novamente a bandeira. O jornalista da TV Cultura, Nelson Matias Pereira, presidente da associação responsável pela Parada LGBTQIA+, mencionou o momento como “um divisor de águas, a partir desse momento a bandeira passa a ser de novo de todo mundo”.

 NOSSOS SÍMBOLOS, NOSSA BANDEIRA

Instituídos pelo Decreto n.º 4, de 19 de novembro de 1889, e modificados pela Lei n.º 5.443, de 28 de maio de 1968, os símbolos nacionais por si sós já se apresentam como uma ressignificação historiográfica, em que os elementos foram reinterpretados com base no clamor republicano da queda monárquica.

O “pendão da esperança” celebra uma narrativa de emancipação e soberania. O verde, antes representante da Casa de Bragança, agora representa a vegetação brasileira. O amarelo, antes representando a Casa de Habsburgo, agora significa a beleza vegetal. Já o azul, representando o céu; as estrelas, representando os estados e o Distrito Federal, e o lema positivista foram incluídos pela República.

Ainda que ressignificada, a bandeira padece de uma nova interpretação: a popular. É preciso que o povo tome para si este símbolo, como fizeram os revolucionários em busca da democracia. É preciso enterrar de vez o bolsonarismo e suas façanhas autoritárias e neofascistas e levar o povo ao despertar consciente de sua soberania.

É fundamental seguirmos mostrando que o Brasil pertence à classe trabalhadora, assim como seus símbolos nacionais, cuja jornada fortalece, a cada dia, a soberania de nosso povo, que entende que patriotismo de verdade não destrói ecossistemas humanitários e nem mesmo ataca a democracia.

Nesta mátria chamada Brasil, é preciso reconhecer que não há espaço para aqueles e aquelas que ousem atacar nossa história e nos impedir de sonhar com mais justiça social. Não seremos parte de um país sem memória ou – pior ainda – com sua memória deturpada.

Voltaremos, na luta, a bordar nossas vidas de verde e amarelo, junto a negros, negras, indígenas, mulheres, pessoas com deficiência, LGBTIQIA+ e movimentos sociais. O Brasil e sua bandeira seguem pertencendo ao povo brasileiro. O Brasil e sua bandeira pertencem a cada um e a cada uma de nós, cidadãos e cidadãs deste nosso amado país.

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Foto: Fábio Tito/g1

Arthur WentzArthur Wentz e Silva – Estudante de Letras, Língua Portuguesa e Respectiva Literatura, na Universidade de Brasília (UnB). Redator pro bono da Revista Xapuri.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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