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Violência contra Professores: Até quando?

contra Professores: Até quando?

Infelizmente, o lidera o ranking de violência contra o/a professor/a. Será que os pais e a sociedade têm consciência da gravidade dessa situação? Em 2013 uma pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostrou que 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação pelo menos uma vez por semana. Estes indicadores colocam o Brasil como o país mais violento para os/as professores/as.

Por Bia de Lima

A violência contra esses/as profissionais se mostra uma triste realidade, que aumenta todos os dias, a começar em sala de aula, onde o/a professor/a que deveria ser uma figura respeitada pelos/as estudantes é menosprezado/a e inferiorizado/a por estes/as. O caso mais recente – e mais grave – aconteceu dia 30 de abril, quando o coordenador Júlio César Barroso, do Colégio Estadual Céu Azul, foi brutalmente assassinado dentro da Instituição Escolar por um estudante que foi repreendido horas antes, após ter desrespeitado uma professora. O caso aconteceu em Valparaíso de Goiás, e expressa a insegurança que ronda a profissão.

Este foi o caso mais recente, mas a no Brasil está na UTI há tempos. Os/as professores/as vivem o medo na pele, e especialmente no cenário político atual: a censura. A outrora liberdade pedagógica e de cátedra começa a ser vista como doutrinação, quase uma ameaça. Exceto que
essa “ameaça” é assegurada na lei, como construção essencial na formação dos/as estudantes enquanto pluralidade de ideias.

A exemplo temos o professor de geografia, Fabrício Cardoso, do Colégio da iniciativa privada, Poliedro, de São José dos Campos/SP, que foi demitido após fazer críticas, à Jair Bolsonaro, fundamentadas em práticas do atual governo. Estudantes filmaram as críticas do professor e divulgaram nas redes sociais, na intenção arruinar a carreira do educador, os/as alunos/as receberam apenas uma advertência verbal por meio das redes sociais, a mesma que foi utilizada para demitir o professor. Vale lembrar que a mesma instituição tem amplo histórico de impunidade para casos de homofobia,
transfobia, assédio, e outras formas de preconceito e violência.

Outra triste situação foi a do professor Paulo Rafael Procópio, de 62 anos, em Lins, no interior de São Paulo, agredido por um aluno de 14 anos. Depois da agressão o servidor desistiu da carreira, após 20 anos em sala de aula, ele já era aposentado, mas ainda ministrava aulas por amor ao ofício.

Em Uberlândia, Minas Gerais, o professor de história, Gabriel Pimentel, foi preso durante 3 dias em uma abordagem truculenta de policiais, alegando desrespeito e desacato. Tudo aconteceu após o professor tentar defender dois alunos que estavam sendo abordados por policiais.

Em Goiânia, a diretora de um Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) foi agredida a chutes e pontapés pelo assessor de um vereador da cidade, ao tentar impedi-lo de fixar uma faixa politiqueira no muro da instituição de ensino.

No dia 15 de abril, a professora Camila Marques, do Instituto Federal de Goiás (IFG), foi presa em seu local de trabalho, no campus Águas Lindas, em uma ação arbitrária da Polícia Civil de Goiás. Ela foi agredida verbalmente e algemada na frente dos alunos, acusada de desobediência por ter gravado um vídeo tentando impedir que alunos fossem interrogados pela Polícia Civil.

Ainda em abril, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, divulgou em seu Twitter um vídeo feito por uma aluna, na qual ela confronta uma professora de gramática, alegando que a educadora utilizou parte da aula para falar sobre política. O vídeo foi publicado pelo presidente com a seguinte legenda “Professor tem que ensinar e não doutrinar”. Uma das bandeiras apoiadas por Bolsonaro é a Escola Sem Partido, que encoraja a vigilância e filmagem de alunos sobre professores, que propõe acabar com a “doutrinação” supostamente feita pelos/as docentes.

Vemos assim, que a agressividade contra professores/as vêm de todos os lados: estudantes, sociedade civil, até da própria . Desta forma, culpabilizar os diversos autores dessas violências que acontecem diariamente de forma única e centralizada não resolve o X da questão.

Se exprime nesse contexto, a constante desvalorização do magistério, advinda de uma sociedade que não aceita pensamentos diferentes dos seus, e do próprio Estado que reprime seus professores com ferocidade, expondo quase um medo da liberdade que a Educação evoca ao possibilitar pessoas conhecedoras de seus direitos e capazes de construir pensamento crítico.

O que dizer de tanta brutalidade? Quantos “Júlios Cesars”, “Fabrícios”, “Paulos”, “Gabrieis”, “Camilas” e tantos/as outros/as ainda precisam sofrer agressões e intimidações? O/a professor/a que constrói ideias está sendo condenado/a sem direito à defesa. A Educação pede socorro, as máquinas da UTI estão apitando para o inevitável: defender o/a professor/a é defender o futuro da nação.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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