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VIVA O SUS! VIVA A ESFERA PÚBLICA!

Viva o SUS! Viva a esfera pública!

Viva o SUS! Viva a esfera pública!

Um general de divisão do – Eduardo Pazuello – nomeado para ser ministro da Saúde do Brasil, em 16 de maio de 2020, em plena pandemia, assumiu o cargo afirmando que não sabia o que era o SUS…

Por Emir Sader

Numa segunda-feira, 7 de junho de 2021, um ano depois, o apresentador do Jornal Nacional da TV Globo, William Bonner, no dia em que tomou a primeira dose da vacina contra a , afirmou no ar:  “Sou grato a esses profissionais todos envolvidos na campanha de vacinação. Foi nos ombros deles que puseram a tarefa de correr contra o pela proteção de milhões de vidas. Os brasileiros devem muito a cada um desses heróis. E ao SUS, que sobrevive como um gigante a tantas incompetências e irresponsabilidades criminosas”.

O que teria acontecido no Brasil para que um programa desconhecido até pelo ministro da Saúde fosse consagrado no noticiário de maior audiência da TV brasileira? 

Quando Pazuello assumiu o ministério da saúde, em maio de 2020, havia 29.341 mortos pela Covid-19. Quando William Bonner fez essa declaração,no Jornal Nacional, em junho de 2021, o número de mortos pela Covid-19 no Brasil tinha chegado a 514 mil, isto é, multiplicado 17 vezes. 

E aquele SUS, desconhecido pelo então ministro da Saúde, era saudado com o Viva o SUS! por grande parte dos mais de 70 milhões de pessoas, anônimas e renomadas, vacinadas no SUS até junho de 2021. O SUS foi se tornando uma unanimidade nacional, um dos brasileiros na defesa das suas vidas, um gigante protagonizado pelos novos grandes heróis nacionais – os trabalhadores da .

Mas não era apenas o ex-ministro que não conhecia o SUS. Ele era desconhecido – até mesmo por uma parte dos que eram atendidos por ele –, porque o trata de esconder tudo o que tem a ver com a esfera pública – de que o SUS é um exemplo evidente.

O neoliberalismo trata de impor a alternativa  “estatal x privado”. Como se sabe, quem parte e reparte fica com a melhor parte. Nesse caso, desqualificando o Estado, o neoliberalismo trata de impor a esfera do mercado, disfarçado de esfera privada. Assim, logra aparecer reivindicando os indivíduos e sua privada contra o Estado, que aparece como opressor, incompetente, corrupto.

  No entanto, essa polarização é equivocada. A esfera neoliberal é a esfera mercantil, dado que trata de transformar tudo em mercadoria. Para o neoliberalismo, tudo se vende, tudo se compra, é o reino do dinheiro. 

A contraposição à esfera privada, tampouco é a esfera estatal, mas a esfera pública. Na esfera mercantil, o sujeito é o consumidor. A esfera pública é a esfera dos direitos em que o sujeito é o cidadão, entendido como sujeito de direitos.

O Estado – ou a esfera estatal – não tem uma característica própria. O Estado é um espaço de disputa entre as esferas mercantil e pública. Em geral, o Estado tem aspectos de cada uma delas, com hegemonia de uma delas. As políticas econômicas tendem a privilegiar a esfera mercantil, enquanto as políticas sociais tendem a expressar a esfera pública.

O SUS é uma expressão clara da esfera pública.  É o programa de saúde pública mais democrático do em que todos podem ser atendidos. É o oposto dos planos privados de saúde, que só atendem quem adere a eles mediante o pagamento. O SUS é universal, público, atende a todos. Os planos privados de saúde são privados, só atendem os que podem pagá-los e atendem melhor quem pode pagar por. Os planos privados de saúde atendem os consumidores. O SUS atende os cidadãos.

O sucesso do SUS é o sucesso da esfera pública, que é a esfera democrática. Uma reforma democrática do Estado tem que ser feita em torno da esfera pública. Ao dizer Viva o SUS!, se está dizendo Viva a democracia! Viva os cidadãos! Viva a esfera pública.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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