Wai Wai criam departamentos de mulheres indígenas

Wai Wai criam departamentos de mulheres indígenas

Wai Wai criam departamentos de

Iniciativa busca fortalecer autonomia e sustentabilidade das mulheres – protagonistas na fabricação de diversos produtos da sociobiodiversidade…

Por Evilene Paixão/via Instituto Socioambiental

Pela primeira vez as mulheres Wai Wai terão espaços somente delas. Foram criados os Departamentos de Mulheres Indígenas Wai Wai (DMIW), em cada associação : Associação dos Indígenas Wai Wai (APIW), Associação do Povo Indígena Wai Wai Xaary (APIWX) e Associação Indígena Wai Wai da (AIWA).

A mobilização para a criação dos departamentos aconteceu no III Encontro Anual do Instituto Socioambiental (ISA) com os Wai Wai do de Roraima, que aconteceu na comunidade Soma, na Indígena Trombetas Mapuera, município de Caroebe, divisa com os estados do Amazonas e Pará.

Era antigo o desejo de criar espaços exclusivos de mulheres indígenas, como conta Geneide Wai Wai, responsável geral pelos departamentos. “Sempre foi do interesse das mulheres ter alguma representação, associação ou departamento. Isso já era discutido entre os homens e as mulheres”, conta.

Segundo ela, a criação dos departamentos é um passo importante para o fortalecimento e valorização do trabalho das mulheres indígenas dos produtos vendidos. Um deles é o mawkîn, um tipo de paçoca torradinha de castanha-do-Pará com beiju, produzido pelas mulheres Wai Wai. “Agora vamos nos organizar melhor para trabalhar bem com as vendas e produzir mais”, aposta Geneide.

O encontro reuniu cerca de 150 indígenas entre lideranças, jovens e mulheres, das 10 comunidades das Trombetas Mapuera e Wai Wai, localizadas entre os municípios de Caracaraí, São João da Baliza e Caroebe, nas calhas dos rios Anauá e Jatapu.

Há quase cinco anos, o ISA constrói projetos com esses povos no da cadeia produtiva da castanha, com assessoria na parte de boas práticas de manejo e promoção de comércio ético das castanhas e na formalização e o funcionamento das associações Wai Wai, com assessoria técnica de Felipe Reis.

Agora, os Departamentos de Mulheres Indígenas Wai Wai serão assessorados pela cientista ambiental Stephany Caroline Rodrigues, que chegou recentemente para fortalecer a equipe. Para ela, os DMIW são o início de um trabalho que vai garantir mais autonomia e sustentabilidade às mulheres indígenas.

“Começamos muito bem! Além de estabelecermos em conjunto os principais eixos temáticos de trabalho, com e mawkîn, conseguimos encaminhar a criação do departamento de mulheres Wai Wai dentro de cada associação, APIW, APIWX e AIWA, com a aprovação dos respectivos presidentes, e uma representante por comunidade, além de uma coordenadora geral, para ajudar na interlocução”, explica.

III Encontro do ISA com os Wai Wai em Roraima, realizado de 04 a 07 de abril, na comunidade Soma, Terra Indígena Trombetas Mapuera, em Caroebe|Evilene Paixão/ISA

III Encontro do ISA com os Wai Wai em Roraima, realizado de 04 a 07 de abril, na comunidade Soma, Terra Indígena Trombetas Mapuera, em Caroebe|Evilene Paixão/ISA

III Encontro do ISA com os Wai Wai em Roraima, realizado de 04 a 07 de abril, na comunidade Soma, Terra Indígena Trombetas Mapuera, em Caroebe|Evilene Paixão/ISA

III Encontro do ISA com os Wai Wai em Roraima, realizado de 04 a 07 de abril, na comunidade Soma, Terra Indígena Trombetas Mapuera, em Caroebe|Evilene Paixão/ISA

III Encontro do ISA com os Wai Wai em Roraima, realizado de 04 a 07 de abril, na comunidade Soma, Terra Indígena Trombetas Mapuera, em Caroebe|Evilene Paixão/ISA

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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