Yanomami: Chocolate indígena contra o garimpo na Amazônia

: Chocolate indígena contra o garimpo na Amazônia

do território Yanomami apostam no cacau para gerar e combater a corrida pelo ouro na floresta…

Por Marina Rossi/ElPais

Contra a invasão de garimpeiros nas terras Yanomami, os desse território lançaram mão de uma nova arma: o chocolate. O cacau, fruto endêmico nessa região do , situada entre Roraima e o , teve sua primeira safra produzida por lideranças Yanomami e Ye’kwana transformada em 1.000 barras de chocolate pelas mãos do especialista na iguaria, César de Mendes.

O produto, feito com 69% de cacau orgânico, 2% de manteiga de cacau e 29% de rapadura orgânica, foi mais uma maneira que as lideranças indígenas encontraram de gerar renda para as comunidades e tentar, assim, combater o garimpo. O chocolate surgiu em uma oficina em julho de 2018, promovida pela Associação Wanasseduume Ye’kwana, com apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e parceria do Instituto ATÁ. Ali, o chocolatier César de Mendes mostrou para os indígenas as técnicas de colheita e processamentos dos frutos do cacau para a produção de matéria-prima de chocolates finos. E a primeira barra de chocolate Yanomami foi produzida. Depois, as 1.000 barras entraram na produção e foram à venda, mas logo que o produto foi lançado, no meio de dezembro passado, esgotou.

Os próximos passos incluem a espera da nova safra de cacau para uma outra leva de chocolates, que serão vendidos pela loja online De Mendes. Enquanto isso, as comunidades trabalham no plantio de 7.000 pés da fruta até 2021. A previsão é que um total de 1.142 pessoas sejam beneficiadas pelo Chocolate Yanomami.

De acordo com dados do Instituto Socioambiental, a Indígena Yanomami (TIY) tem 9,6 milhões de hectares e nela vivem os povos Yanomami e Ye’kwana, com populações de 25.000 pessoas e 700 pessoas, respectivamente, distribuídas em 321 aldeias. O garimpo de ouro nesse território é hoje a mais grave ameaça aos seus povos, configurando-se na maior invasão desde a corrida do ouro nas décadas de 1980 e 1990, quando o território Yanomami foi tomado por 45.000 garimpeiros, dizimando 20% da população nativa. E um dos piores aspectos dessa invasão é que ela atrai jovens indígenas em busca de dinheiro para a aquisição de bens de consumo.

Ainda de acordo com estimativas do ISA, o número de garimpeiros no território pode superar o de 20.000 pessoas, instalados ilegalmente em acampamentos que contam com serviços permanentes de abastecimento e via satélite. Na região de Waikás, onde ocorreu a oficina de chocolate em 2018, um feito pelo ISA, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, constatou que 92% das pessoas de uma comunidade apresentaram índices de mercúrio superiores ao recomendado pela Organização Mundial de (OMS).

Na mesma esteira do chocolate, foi lançado há cerca de três anos o Sanöma, uma mistura de mais de dez espécies de cogumelos produzidos em território Yanomami. O produto recebeu o nome de um dos povos que fazem parte da etnia Yanomami e vivem dentro da Terra Indígena. Até o início de 2020, já haviam sido comercializadas mais de oito toneladas de cogumelos.

Fonte: El País

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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