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Xingu: 5 mil campos de futebol desmatados em um mês

Xingu: 5 mil campos de futebol desmatados em um mês
 
Destruição da floresta é resultado da abertura de áreas para garimpo, exploração agropecuária e grilagem de terras 
 
Por Isabel Harari/Blog do Xingu –

O ritmo de em março aumentou na Bacia do Xingu. Mesmo no inverno amazônico, debaixo de forte chuva, 5.238 hectares de vegetação natural foram destruídas em apenas um mês para exploração garimpeira, grilagem de terras, pecuária e a conversão de áreas de manejo florestal em lavoura de grãos.
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Dividida entre os estados do Mato Grosso e o Pará, os padrões de desmatamento da Bacia do Xingu são distintos mas seguem a mesma tendência: polígonos menores na porção paraense, indicando incidência de garimpo e grilagem, e polígonos maiores no Mato Grosso, fruto da monocultura agropecuária.

A destruição de florestas no interior das áreas protegidas preocupa. No Pará, 86% do desmatamento aconteceu nessas regiões: dos 1.609 hectares derrubados no período, 492 foram em e 900 em Unidades de Conservação. “Esses números indicam a tendência do desmatamento de penetrar nessas áreas face ao esgotamento dos recursos nas demais regiões”, alerta Juan Doblas, assessor do ISA.

Os dados foram detectados pelo Sirad X, o novo sistema de monitoramento de desmatamento do ISA. [Saiba mais no Boletim nº2]

Campeã de desmatamento

A Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, no Pará, foi a área protegida mais desmatada no período. Ao todo, foram 900 hectares destruídos em março para abertura de pasto para pecuária, que se somam aos mais de 550 detectados em janeiro e fevereiro. O município de São Félix do Xingu, onde a UC incide, tem o maior rebanho bovino do e a APA constitui uma enorme reserva de recursos. A região possui o triste registro de ser a Unidade de Conservação mais desmatada no Brasil nos últimos anos.

A APA vem sendo desmatada de forma cada vez mais intensa – em sintonia com o aumento das exportações brasileiras de carne e o fortalecimento das grandes cadeias de frigoríficos. O maior polígono desmatado detectado em março, de mais de 800 hectares, indica um investimento mínimo de R$1 milhão só para realizar a derrubada da floresta.

A área, no entanto, não possui zoneamento nem plano de manejo. As operações de fiscalização, apesar de serem pontualmente efetivas, não conseguem estancar o desmatamento que vem crescendo de forma assustadora.

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Terras Indígenas em perigo

garimpo no limite nordeste na ti kayapo divulgacao dscn0087Foi registrado um grande desmatamento no interior da Terra Indígena Trincheira-Bacajá, do povo Mebengokre Kayapo. Foram mais de 350 hectares, abertos por um grupo vindo do município de Pacajá, no Pará. “É especialmente preocupante pois revela a enorme sensação de impunidade em relação ao crime ambiental na região”, atenta Doblas.

É igualmente preocupante a extensão das áreas de garimpo na TI Kayapó. Os garimpeiros não mostram sinais de recuo e estão atingindo novas áreas, contaminando rios e colocando a saúde da população indígena em perigo. Em março, foram detectadas mais 34 áreas novas áreas de garimpo. A elevada cotação do ouro no mercado internacional sustenta essa atividade de forte risco e que implica em enormes prejuízos ambientais.

O Boletim Sirad X é publicado mensalmente na Plataforma Rede Xingu + e no site do ISA.
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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