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75% do ipê do Pará é extraído ilegalmente

75% do ipê do Pará é extraído ilegalmente

Retirada de madeiras avança forte em florestas não destinadas e segue em unidades de conservação e terras indígenas.

Por Aldem Bourscheit/O Eco

As possibilidades de uma exploração madeireira mais sustentável na Amazônia seguem minadas pela criminalidade e por deficiências na fiscalização. Um exemplo é que mais de três quartos do ipê extraído do Pará entre 2009 e 2019 podem ser ilegais.

Entre os ilícitos, 16% do ipê é colhido sem autorização, donos de terras alegam que derrubaram mais ipês do que é provável existir na área florestal declarada e, ainda, há mais madeira circulando do que o indicado nos números oficiais de produção.

As conclusões são de um estudo publicado na revista Nature Sustainability por pesquisadores brasileiros e de outros países e acendem um novo alerta sobre a confiabilidade dessa cadeia econômica no estado, o maior produtor e um grande exportador de ipês no Brasil.

O estudo usou dados como das licenças para extração madeireira, de documentos de origem florestal, de estudos sobre rendimento de toras retiradas da floresta e dos volumes de madeira que entram e saem das serrarias. 

O super resistente e belo ipê é muito consumido na construção de móveis e decks por mercados globais de luxo, sobretudo na América do Norte e na Europa. O Brasil responde por 96% da produção mundial, de onde as exportações saltaram quase 80% na última década. 

Conforme os pesquisadores, isso estimula e aumenta o risco da extração ilegal de ipês. Tanto que, em novembro passado, a madeira teve seu comércio global restringido pela superexploração associada à demanda mundial crescente, mostrou ((o))eco.

Pois, o cenário pintado pelo estudo internacional é corroborado por um levantamento de ongs brasileiras. A análise aponta que 17,8 mil ha (46%) de 38 mil ha com exploração madeireira no Pará tiveram uma retirada ilícita de madeiras, entre agosto de 2021 e julho do ano passado. 

Oriundos de um sistema não-governamental que monitora a exploração madeireira, o Simex, os dados indicam que a extração ilegal disparou especialmente em florestas não destinadas, enquanto segue acontecendo em unidades de conservação e em terras indígenas.

Aldem Bourscheit– Jornalista e Biólogo. Fonte: O Eco. Foto: Chalmers University of Technology/Divulgação.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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