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Rosângela Corrêa, guardiã do Cerrado

Rosângela Corrêa, guardiã do

Por Jaime Sautchuk

Como professora da Universidade de (UnB), suas atividades acadêmicas têm o Cerrado como foco principal. Em projetos socioambientais fora do campus, sempre ligados à Educação, também. E nas horas de lazer seu divertimento predileto não é outro senão andar por cenários cerratenses.

Candanga de nascimento, filha de funcionário público federal, Rosângela Azevedo Corrêa tem uma entrelaçada com os ambientes típicos do Planalto Central, a céu aberto e entre quatro paredes. Sua infância e adolescência foram das brincadeiras e piques, rebolados e baladas normais das crianças e jovens de classe média de Brasília.

rosan3Mas hoje ela dedica sua vida ao Cerrado, bioma que ela vê como em franca devastação pelo processo de “desenvolvimento”, mas em que ainda têm esperanças. Aos que dizem que as relações humanas com o ambiente estão se desfazendo, ela diz que não.

– “Os e as comunidades tradicionais são prova e exemplo de que podemos e devemos cuidar e preservar o Cerrado para o bem de todos, pois somos muitos os que o amamos e defendemos”, afirma ela.

Rosângela cursou graduação em História em uma universidade privada da capital. Mas, depois, fez mestrado e doutorado em Antropologia na Univeridad Iberoamericana, no México, na década de 1980.

O grande ensinamento que obteve na instituição e no convívio com o povo mexicano foi a capacidade de trabalhar em equipe, que implantou na Universidade de Brasília (UnB), já como professora, quando regressou ao Brasil.

Bem diferente das universidades da Espanha e de Portugal, onde fez cursos de pós-doutorado em Humana. Ali, segundo ela, “os estudantes aprendem coisas ultrapassadas que perpetuam preconceitos contra os países que um dia foram suas colônias”. Essa foi, contudo, uma visão que lhe ensinou a valorizar ainda mais as sociedades latino-americanas.

Em verdade, contudo, no Brasil existe uma deficiência que vem da , que é um grande desconhecimento sobre o Cerrado. Ela afirma:

– “Há uma visão distorcida no imaginário brasileiro de que este é um espaço vazio e de negação de toda a existente antes da construção de Brasília. Muita gente acha que o Cerrado é feio, inútil, o que justifica sua destruição. Mas essa ignorância vem especialmente dos educadores, por isso eu me dedico à sua formação, para que compreendam as interconexões do Cerrado com ele mesmo e com outros ”.

Metodologia pra isso não lhe falta, dentro e fora do ambiente acadêmico. Rosângela realça o ABCerrado, desenvolvido originalmente pelo Flávio Paulo Pereira nos núcleos rurais de Taquara e Pipiripau, na cidade-satélite de Planaltina, Distrito Federal, desde 1990. Trata-se da alfabetização de crianças e adultos com símbolos da flora e fauna regionais.

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Em 2011, ela aplicou o método num programa de extensão que a UnB tinha na Cidade Estrutural, comunidade nascida junto a um lixão. A primeira turma foi de 30 crianças, muitas das quais filhas de catadores, que não haviam conseguido se alfabetizar na escola pública do local. Com o método, num zás-trás todos os meninos e meninas do grupo estavam lendo e escrevendo que só vendo – sucesso absoluto!

Com o resultado, Rosângela resolveu incorporar tecnologia moderna ao projeto e produziu o DVD “Alfabetização Ecológica: ABCerrado”, amplamente difundido entre professores das redes públicas do DF e cidades do Entorno, que desta forma também foram alfabetizados, já que a maioria nada sabia sobre o Cerrado.

Também é fruto desse sincretismo o Museu do Cerrado, seu mais recente empreendimento. É um site na Internet cuja missão é “divulgar os conhecimentos científicos, os saberes e os fazeres populares acerca da sociobiodiversidade do Sistema Biológico do Cerrado”. Ou seja, é um espaço aberto à propagação de tudo o que tiver algo a ver com o bioma, desde as mais espontâneas manifestações artísticas aos mais complexos estudos científicos. Seu endereço é http://museucerrado.esy.es/.

Em tudo o que faz, Rosângela Corrêa é tida como “professora durona” por seus alunos, colegas e parceiros de empreitada. Sobre isso, ela rebate:

– “Se disseram que eu sou exigente, vejamos o que significa: alguém que quer sempre o melhor, então, essa sou eu, eu quero um mundo melhor e a forma como eu contribuo é como educadora que não admite brincar de ser educadora e não permito que ninguém faça de conta que é estudante, especialmente numa universidade pública que não é gratuita, porque o povo brasileiro paga para que as pessoas estudem, então, essas pessoas precisam fazer jus ao que vieram fazer na universidade: estudar.”

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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