Consciência Negra: Dandaras da Resistência
❤️ LIVE SOLIDÁRIA CONSCIÊNCIA NEGRA: DANDARAS DA RESISTÊNCIA Retransmissão ⏰ Dia: 05/11, às 21h 📍 Mediadora: Iolanda Rocha 🗣️ Participação: 📌 Edenice Sant’ana – Coordenação de Entidades Negras – CONEN 📌 Gina Vieira – Autora. Projeto Mulheres Inspiradoras 📌 Maria Rosely Cavalcante – Vereadora pelo PT em Alvorada do Norte (GO)
A dama que atravessou três séculos
Alice nasceu escrava, em 1686, e escrava viveu cento e dezesseis anos.
Quando morreu, em 1802, morreu com ela uma parte da memória dos africanos na América.
Alice não sabia ler nem escrever, mas estava toda cheia de vozes que contavam e cantavam lendas vindas de longe e, também, histórias vividas de perto.
Algumas dessas histórias vinham dos escravos que ela ajudava a fugir.
Aos noventa anos, ficou cega.
Aos cento e dois, recuperou a visão:
– Foi Deus, disse. Ele não poderia me falhar.
Era chamada de Alice do Ferry Dunks. Ao serviço de seu dono, trabalhava no ferry que levava e trazia passageiros no rio Delaware.
Quando os passageiros, sempre brancos, debochavam daquela velha velhíssima, ela os deixava abandonados na outra margem do rio.
Eles a chamavam aos gritos, mas não havia jeito. Era surda a que havia sido cega.
Eduardo Galeano – Escritor revolucionário, em Os Filhos dos Dias, Editora LP&M, 2012.
Embora aos 14 anos ele já houvesse enviado uma charge para o jornal El Sol, do Partido Socialista, sua carreira na imprensa só se firmaria na década de 60, quando se tornou editor do jornal “Marcha”, ao lado de colaboradores como Vargas Llosa (futuro Prêmio Nobel) e Mario Benedetti.
Nos anos 70, com regime militar no Uruguai, foi perseguido pela publicação de seu livro “As Veias Abertas da América Latina” (1971), obra de referência de esquerda, na qual o autor analisa a história da América Latina do colonialismo ao século 20. Em 1973, foi preso em decorrência do golpe militar em seu país, exilou-se, posteriormente na Argentina, onde lançou a revista cultural “Crisis”.
Em 1976, Eduardo Galeano mudou-se para a Espanha, por causa da crescente violência da ditadura argentina. Em 1985, lançou na Espanha o livro “Memória do Fogo”. Nesse mesmo ano voltou ao Uruguai.
Autor de mais de trinta livros, traduzidos para cerca de vinte idiomas, Galeano declarou, em 2014, que não se identificava mais com sua anticapitalista obra “As Veias Abertas da América Latina”. Sobre ela, disse o autor: “Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera”.
Em 2006, Eduardo Galeano ganhou o Prêmio Internacional de Direitos Humanos através da Global Exchange, instituição humanitária americana.
Eduardo Galeano faleceu em Montevidéu, no Uruguai, no dia 13 de abril de 2015.