“Já se sente, Lula presidente”

“Já se sente, Lula presidente”: multidão recebeu ex-presidente em

Por Fernanda Paixão/ Brasil de Fato

A presença do ex- marcou a volta às ruas da mobilização do Dia da Democracia, em Buenos Aires, nesta sexta-feira (10). O evento começou às 15h na histórica Praça de Maio, símbolo de pelos . Com o lema “Democracia para sempre”, a mobilização reuniu milhares de pessoas.
Lula chegou ao país especialmente para a ocasião. No mesmo palco em que discursou o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, seguido da vice-presidenta Cristina Kirchner e do presidente Alberto Fernández, Lula enumerou as conquistas da chamada “década ganha”, assim como, os presidentes da região que impulsionaram agendas progressistas simultaneamente ao seu governo no , no início dos anos 2000.
“Foi quando expulsamos a ALCA e firmamos o Mercosul”, disse, seguido de efusivos aplausos. “Eu tive a oportunidade de junto com a companheira Cristina participarmos ativamente do G20 para tentar consertar a crise econômica mundial depois da quebra do sistema financeiro americano.” 

“Venho aqui parar agradecer do fundo do meu coração a cada homem e argentina que prestaram a mim quando fui preso no Brasil”, disse Lula, destacando tratar-se da mesma perseguição que sofre também na Argentina, ainda hoje, Cristina Kirchner.

Saiba mais: Novo Congresso argentino assume em meio a tensões e incertezas com FMI
Lula desembarcou no país na quinta-feira (9) com uma agenda oficial de dois dias. Incluiu uma reunião com o presidente Alberto Fernández e a entrega do prêmio Azucena Villaflor às mães da Praça de Maio e outras personalidades. O prêmio consiste em um reconhecimento entregue pelo governo da Argentina às defensoras e defensores dos Direitos Humanos.

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Multidão se reúne na Praça de Maio, em Buenos Aires, para receber Lula, Pepe Mujica, Cristina Kirchner e Alberto Fernández no Dia da Democracia / Ricardo Stuckert

Por um acordo com o FMI

A Argentina passa por um novo período de intensa tentativa de negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI), algo nada amenizado pelas discordâncias internas da coalizão Frente de Todos (FdT) e, pontualmente, entre o presidente Alberto Fernández e a vice-presidenta Cristina Kirchner.
A presença de Lula, assim como a de Mujica, serviriam para apaziguar os humores e buscar apoio aos esforços do governo em cumprir o pagamento da dí com o FMI, contraída pelo governo neoliberal de Mauricio Macri (Partido Republicano – PRO).
Na fala mais longa da noite, Cristina Kirchner dedicou duras críticas ao FMI e destacou que os governos progressistas na Argentina são os responsáveis por pagar as extraordinárias dívidas contraídas pelos governos liberais.
Como “o presentinho de 44 bilhões de dólares”, em referência à dívida deixada por Macri. “Precisamos que o Fundo nos ajude a recuperar milhares de milhões de dólares que foram parar nos paraísos fiscais”, ressaltou. 
“O FMI viveu condicionando a democracia Argentina. Não é de agora. Lembro que, quando o presidente Alfonsín assumiu um dia como hoje, há 38 anos, e recebeu um país que tinha quintuplicado sua dívida externa, sem reservas no Banco Central, com investidas militares, com 30 mil desaparecidos”, afirmou Kirchner, mencionando os desaparecidos durante a última do país.
Como já havia afirmado na quinta-feira (9) em uma entrevista ao canal argentino IP, Lula analisa que a Argentina “deve chegar a um bom acordo com o FMI”, que não “asfixie o país” e viabilize seu crescimento. 
Lula destacou seu agradecimento a Alberto Fernández, e prestou seu apoio ao presidente argentino para “qualquer situação”. “Ele ainda era candidato à presidência e foi me visitar na prisão”, relembrou Lula, e dirigiu-se a Fernández.
“Pode ter a certeza que, em qualquer situação – em qualquer situação – este senhor, que está hablando agora, com 76 anos de idade, mas com a energia de um jovem de 20, estará ao teu lado, para que você possa fazer o que for necessário para melhorar a vida do argentino”, finalizou Lula.
A multidão na Praça de Maio despediu o ex-presidente brasileiro em coro: “Se siente, se siente, Lula presidente!” 
O canto é tradicional na Argentina e traz o significado de que já se “sente” que Lula será presidente. A tradução literal em português seria “já se sente, Lula presidente”.
“Veja, companheiro, sempre que cantaram isso pra mim, não erraram”, disse Kirchner ao petista.
Lula na Argentina – Curated tweets by brasildefato

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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