Por Fernanda Paixão/ Brasil de Fato
Lula chegou ao país especialmente para a ocasião. No mesmo palco em que discursou o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, seguido da vice-presidenta Cristina Kirchner e do presidente Alberto Fernández, Lula enumerou as conquistas da chamada “década ganha”, assim como, os presidentes da região que impulsionaram agendas progressistas simultaneamente ao seu governo no Brasil, no início dos anos 2000.
“Foi quando expulsamos a ALCA e firmamos o Mercosul”, disse, seguido de efusivos aplausos. “Eu tive a oportunidade de junto com a companheira Cristina participarmos ativamente do G20 para tentar consertar a crise econômica mundial depois da quebra do sistema financeiro americano.”
“Venho aqui parar agradecer do fundo do meu coração a cada homem e mulher argentina que prestaram solidariedade a mim quando fui preso no Brasil”, disse Lula, destacando tratar-se da mesma perseguição que sofre também na Argentina, ainda hoje, Cristina Kirchner.
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Lula desembarcou no país na quinta-feira (9) com uma agenda oficial de dois dias. Incluiu uma reunião com o presidente Alberto Fernández e a entrega do prêmio Azucena Villaflor às mães da Praça de Maio e outras personalidades. O prêmio consiste em um reconhecimento entregue pelo governo da Argentina às defensoras e defensores dos Direitos Humanos.
Por um acordo com o FMI
A Argentina passa por um novo período de intensa tentativa de negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI), algo nada amenizado pelas discordâncias internas da coalizão Frente de Todos (FdT) e, pontualmente, entre o presidente Alberto Fernández e a vice-presidenta Cristina Kirchner.
A presença de Lula, assim como a de Mujica, serviriam para apaziguar os humores e buscar apoio aos esforços do governo em cumprir o pagamento da dívida com o FMI, contraída pelo governo neoliberal de Mauricio Macri (Partido Republicano – PRO).
Na fala mais longa da noite, Cristina Kirchner dedicou duras críticas ao FMI e destacou que os governos progressistas na Argentina são os responsáveis por pagar as extraordinárias dívidas contraídas pelos governos liberais.
Como “o presentinho de 44 bilhões de dólares”, em referência à dívida deixada por Macri. “Precisamos que o Fundo nos ajude a recuperar milhares de milhões de dólares que foram parar nos paraísos fiscais”, ressaltou.
“O FMI viveu condicionando a democracia Argentina. Não é de agora. Lembro que, quando o presidente Alfonsín assumiu um dia como hoje, há 38 anos, e recebeu um país que tinha quintuplicado sua dívida externa, sem reservas no Banco Central, com investidas militares, com 30 mil desaparecidos”, afirmou Kirchner, mencionando os desaparecidos durante a última ditadura militar do país.
Como já havia afirmado na quinta-feira (9) em uma entrevista ao canal argentino IP, Lula analisa que a Argentina “deve chegar a um bom acordo com o FMI”, que não “asfixie o país” e viabilize seu crescimento.
Lula destacou seu agradecimento a Alberto Fernández, e prestou seu apoio ao presidente argentino para “qualquer situação”. “Ele ainda era candidato à presidência e foi me visitar na prisão”, relembrou Lula, e dirigiu-se a Fernández.
“Pode ter a certeza que, em qualquer situação – em qualquer situação – este senhor, que está hablando agora, com 76 anos de idade, mas com a energia de um jovem de 20, estará ao teu lado, para que você possa fazer o que for necessário para melhorar a vida do povo argentino”, finalizou Lula.
A multidão na Praça de Maio despediu o ex-presidente brasileiro em coro: “Se siente, se siente, Lula presidente!”
O canto é tradicional na Argentina e traz o significado de que já se “sente” que Lula será presidente. A tradução literal em português seria “já se sente, Lula presidente”.
“Veja, companheiro, sempre que cantaram isso pra mim, não erraram”, disse Kirchner ao petista.
Lula na Argentina – Curated tweets by brasildefato
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